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Brasil deve reduzir emissões na agropecuária, diz cientista

Membro do IPCC destaca que o Brasil tem uma base energética fortemente baseada em fontes renováveis e que a redução de emissões tem que ocorrer em outros setores

Plantação de Soja no Mato Grosso: “Neste momento, nosso calcanhar de Aquiles é o setor agropecuário", disse Roberto Schaeffer, membro do IPCC (Ricardo Teles/Pulsar Imagens)

Plantação de Soja no Mato Grosso: “Neste momento, nosso calcanhar de Aquiles é o setor agropecuário", disse Roberto Schaeffer, membro do IPCC (Ricardo Teles/Pulsar Imagens)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2014 às 19h42.

Rio de Janeiro - Estima-se que sejam emitidas anualmente em todo o mundo 45 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente – medida métrica resultante da multiplicação das toneladas de gases de efeito estufa emitidos pelo seu potencial de aquecimento global.

O valor aumenta a cada ano e, se o mundo continuar nessa trajetória, em 2020 excederá em cerca de 12 bilhões o que deveria estar emitindo naquele ano para que a temperatura média global não aumente acima dos temidos 2º C.

Segundo cientistas reunidos no painel sobre mudanças climáticas do “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, o que os países podem fazer é avançar em eficiência energética e começar a descarbonizar suas economias – depender menos de combustíveis fósseis – como forma de mitigar os efeitos do aquecimento global.

Em 2009, os participantes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), realizada na Dinamarca, concluíram que a temperatura média do planeta não poderia aumentar mais do que 2º C em relação à temperatura média observada nos anos de 1800, antes do aquecimento global – descrito primeiramente em meados daquele século. De lá para cá, porém, a temperatura mundial já se elevou em cerca de 0,8º C. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), somente entre 1992 e 2010 a temperatura média se elevou em mais 0,4º C.

“Isso implica que já comprometemos 1,2º C. A ciência estabelece como sendo seguro não exceder os 2º C, mas, quando olhamos o comportamento das emissões do passado recente e o projetamos no futuro, o cenário que se coloca é preocupante: se repetirmos o que ocorreu nos últimos 200 anos e nada for feito, a tendência é chegarmos a 4º C ou 5º C de elevação”, avaliou o pesquisador Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Na COP 15, os países – entre eles o Brasil – concordaram em voluntariamente estabelecer metas de redução da emissão de carbono. Mas, segundo Schaeffer, as metas brasileiras de redução de emissão não virão majoritariamente do setor energético, dado que este setor é relativamente limpo no país.


De acordo com Schaeffer, em relação à sustentabilidade ambiental, a realidade brasileira é relativamente confortável: o país tem uma base energética fortemente baseada em fontes renováveis e as alternativas de mitigação não são complicadas.

“Neste momento, nosso calcanhar de Aquiles é o setor agropecuário – responsável pelas emissões de metano – e o desmatamento produzido pela agricultura. Para não passarmos da meta dos 2º C, temos que chegar ao fim do século com 80% menos de emissão de gases, com outra matriz de produção de energia e outra agricultura”, disse.

Nos últimos anos, Schaeffer tem se dedicado a estudar possíveis cenários de mudanças climáticas no Brasil e como isso impactaria o setor energético nacional.

“Nossa parte mais vulnerável é o setor elétrico, em particular a grande dependência de usinas hidrelétricas. Hoje, 85% da geração elétrica brasileira deriva de usinas hidrelétricas. Quando fazemos uma projeção para 2035, mesmo levando em conta a ampliação do uso de outras fontes, dificilmente teremos menos que 75% da energia elétrica vindo de hidrelétricas”, disse.

“No entanto, no cenário que trabalhamos do que seria um sistema elétrico brasileiro com mudança climática, vemos que há uma tendência de o Nordeste, hoje semiárido, virar quase um deserto, e de a Amazônia passar por um processo de savanização”, disse Schaeffer.

O problema, segundo o pesquisador, é que a expansão esperada do setor hidrelétrico brasileiro se concentra na região Norte, com usinas a fio d’água, que geram energia com o fluxo de água do rio, não acumulando ou acumulando pouca água, sem reservatório.

“Dado que esse cenário de mudança climática significaria talvez períodos secos ainda mais secos e períodos úmidos ainda mais úmidos, com usinas sem reservatórios é possível que possamos vir a perder até 30% de capacidade de geração hidrelétrica brasileira entre 2035 e 2040”, apontou Schaeffer.

“Para o mercado não ficar desabastecido, teríamos que instalar outras plantas que iriam repor aquela energia que a hidrelétrica não poderia gerar, como as plantas térmicas, por exemplo. Seria necessário um investimento em torno de US$ 50 bilhões para fazer com que o sistema elétrico brasileiro se tornasse invulnerável a um cenário de mudança climática”, estima.

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