Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2012 às 13h06.
O system-on-a-chip desse smartphone pode até ter um clock um pouco acima do normal, mas não deixa de ser um Snapdragon 8655, da Qualcomm. Esse processador de um núcleo atua ao lado da GPU Adreno 205 para movimentar os bits do Torch 9860. Junte-se a essa dupla os 768 MB de RAM e logo surge a dúvida: essa configuração não é limitada para um aparelho que deveria ser um dos melhores da RIM? Quando a questão é considerada fora de contexto, a resposta é sim. O Snapdragon S2 já foi ultrapassado por duas gerações de circuitos integrados da própria Qualcomm, para não falar de concorrentes como o Tegra e o OMAP.
No entanto, o fato é que o BlackBerry OS 7 não precisa de mais do que isso para operar sem percalços. Como os aparelhos com Windows Phone, o Torch 9860 sofre a sina de possuir um sistema suficientemente otimizado para permitir o uso de um conjunto de hardware menos potente sem grandes desvantagens para o usuário. No final das contas, a decisão da RIM de reservar os processadores dual-core para a linha de tablet é justificável. Afinal, espera-se muito mais desses aparelhos do que de um smartphone.
Ainda assim, isso não quer dizer que o hardware do Torch 9860 não tem limitações. Seu calcanhar de Aquiles mais evidente está na GPU, que não suporta codificação de vídeos em 1080p. Os donos desse smartphone terão que se contentar com o 720p tanto para a gravação quanto para a reprodução de vídeos.
O Torch 9860 oferece o combo de conexões de sempre: Wi-Fi n, bluetooth (versão 2.1), 3G, A-GPS, microUSB, P2 e um slot para cartão de memória que já vem com um microSD de 4 GB. Embora o BlackBerry OS 7 ofereça suporte ao Near Field Communication, o Torch 9860 não tem o hardware necessário para utilizar esse recurso. Essa não é uma falta muito significativa, os aparelhos com NFC ainda são uma raridade.
Mas vamos falar daquilo que todos estão pensado: como pode existir um BlackBerry sem teclado físico? Apesar da incredulidade que esse aspecto do Torch 9860 suscita, a RIM fez um bom trabalho ao adaptar o sistema à tela sensível ao toque. O resultado é um BlackBerry OS 7 que lembra muito o design do Android e do iOS. Em geral, a navegação pelos menus é bem intuitiva, contudo há certos pontos que poderiam ter sido refinados antes do lançamento.
Os aplicativos são agrupados em menus personalizáveis que aparecem na tela com títulos como Todos ou Frequente para orientar o usuário. Visualmente, essas categorias são retângulos que podem ser redimensionados conforme a vontade do usuário. Tal arranjo é elogiável porque permite que usuário escolha entre manter a área de trabalho limpa ou povoada por aplicativos. A RIM também foi bem sucedida em seus esforços para agilizar o navegador de internet, que costumava ser um ponto fraco das versões anteriores do BlackBerry.
As limitações do BlackBerry OS 7 são mais evidentes em três pontos. O primeiro é o teclado virtual, que, além de não ter cedilha, tem um recurso de sugestão de palavras decepcionante. Entretanto, é preciso reconhecer que a linha BlackBerry tem uma tradição de teclados QWERTY que muito difícil de igualar e qualquer teclado virtual que a RIM lançar ficará sob a sombra dessa história.
O segundo ponto pode ser notado assim que o usuário avista o Torch: o trackpad óptico ainda está presente. Por um lado, esse resquício dos designs anteriores da BlackBerry é até bem vindo. Afinal, não há razão para alienar os fãs dos outros aparelhos da linha. Por outro lado, boa parte dos aplicativos depende do trackpad para oferecer uma interface confortável, o que é difícil de justificar em um aparelho que deveria estar focado na tela sensível ao toque. A maioria desses aplicativos são produções independentes que foram projetadas para a interface tradicional. Mas alguns programas da própria RIM também se integram melhor com o trackpad, especialmente na ocasiões em que é preciso utilizar um menu em forma de cascata, como no calendário.
Essa questão nos leva ao terceiro ponto: depois de todos esses anos, a ecologia de desenvolvimento do BlackBerry ainda não se compara à do iOS ou do Android. Com raras exceções, os únicos aplicativos que realmente valem a pena são os que, de uma forma ou de outra, são desenvolvidos sob a supervisão da RIM e seu número é pequeno quando comparado à concorrência. Também é preciso considerar que os desenvolvedores ainda têm pouco incentivo para produzir programas mais focados da interface de toque, pelo simples fato de que os aparelhos com teclado físico são mais populares.
Ainda assim, a RIM não decepciona ao incluir uma boa seleção de aplicativos pré-instalados no Torch 9860. Para o alívio geral do globo, o calendário e o serviço de messenger continuam ótimos. Já o Documents to Go vem na versão premium, que permite tanto a visualização quanto a edição de arquivos do Office. A obsessão da RIM com segurança está bem representada com o BlackBerry Protect. Também notamos grandes avanços na integração com as redes sociais, especialmente o Twitter.
Pelo menos em termos de software, a RIM não desperdiçou a potencial da tela de 3,7 polegadas. Não é todo dia que podemos assistir a vídeos em DivX e Xvid no media player de um smartphone. A resolução de 800 x 480 é o suficiente para a tela do Torch 9860, que proporciona boa qualidade de imagem. O som, por sua vez, não impressiona, mas áudio de qualidade é uma raridade entre os smartphones. De qualquer forma, quando o assunto é multimídia, o Torch 9860 é um dos melhores aparelhos da linha BlackBerry.
Não há nada muito excitante a respeito da câmera traseira de 5 MP. Ela não é boa, mas também não chega a produzir fotos e vídeos de qualidade inaceitável. Em geral, as cores não são muito vibrantes e há ruído de sobra nas imagens, mesmo em fotos de cenários externos. A gravação de vídeo, como já foi mencionado, é limitada pela GPU à resolução de 720p.
O Torch 9860, assim como o Torch 9850, faz uso de uma tela muito maior do que as utilizadas por modelos anteriores de BlackBerry. Portanto, é compreensível que a tradição de longa duração de bateria não tenha sido vindicada nos testes do INFOlab. O aparelho suportou 465 minutos de ligação, um resultado mediano. Por outro lado, o acabamento do Torch 9860 corresponde à boa qualidade de construção que esperamos de um BlackBerry. Além disso, seu formato curvado à maneira do Xperia Arc facilita muito a empunhadura.
A RIM acertou ao ousar entrar no mundo da interface de toque? Sim e não. O Torch 9860 é um aparelho admirável que justifica os esforços da fabricante para ampliar seus horizontes. No entanto, é difícil deixar de pensar no BlackBerry OS 7 como um artigo imaturo. Não há dúvida de que se trata de um produto promissor, mas ser promissor em um mercado dominado por artigos refinados como o iOS e o Android não é o bastante para aumentar a base de usuários. No entanto, quem já é fã do BlackBerry e não é muito apegado ao teclado físico encontra no Torch 9860 uma nova e satisfatória experiência.
Conexão | 3G |
---|---|
SO | BlackBerry OS 7 |
Processador | QC 8655 1,2 GHz |
Armazenamento | 2,5 GB + 4 GB (micro SD) |
Tela | 3,7 |
Peso | 136 g |
Bateria | 7h45min |
Câmera | 5 MP |
Prós | Sistema leve; boa integração com redes sociais; browser aprimorado; um dos melhores BlackBerry para entretenimento; |
---|---|
Contras | Teclado virtual não se compara ao tradicional teclado físico; pouca oferta de aplicativos; |
Conclusão | O Torch 9860 demonstra que a RIM é capaz de produzir um bom smartphone focado na tela sensível ao toque, mas ainda falta um pouco de refinamento para que ele se equipare ao iOS e aos melhores aparelhos Android; |
Média | 8.1 |
Preço | R$ 1299 |