Tecnologia

Biotecnologia atrai investimento na área de cicatrização

Produto desenvolvido por brasileiros é mais barato que similar importado e já recebeu propostas de fabricação no exterior

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h43.

Transformar pesquisa acadêmica em produtos vendidos na prateleira sempre é um desafio para empresários e universidades. Criar um produto que seja competitivo com os similares importados é um obstáculo adicional. Mas a união de 11 investidores brasileiros em torno de uma nova empresa de biotecnologia, a Pelenova, mostra que o problema não é insolúvel. A empresa está lançando uma biomembrana para auxiliar a cicatrização de feridas crônicas capaz de concorrer com os importados e, ainda, vencê-los no quesito preço.

A sociedade inclui empresas de capital de risco, uma corporação e o ex-presidente da Embraer e da Varig, Ozires Silva, que detém 6% do capital da Pelenova. Os investidores aportaram 10 milhões de reais para a instalação da sede, na capital paulista, e da fábrica em Tereno (MS).

Batizado de Biocure, o produto foi totalmente desenvolvido no Brasil e demandou dez anos de estudos, liderados pelos professores Joaquim Coutinho Netto (Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto) e Fátima Mrué (Universidade Federal de Goiás). Os docentes também são sócios da Pelenova. A película à base de látex auxilia a cicatrização de feridas crônicas e sua produção é mais barata que as similares importadas.

O público-alvo são pacientes com dificuldade de cicatrização, como os diabéticos. Mas, na primeira etapa do projeto, a Pelenova venderá o produto apenas para hospitais e clínicas especializadas. "Por ser um produto novo, recomendamos o monitoramento de um profissional para o uso", disse Silva. Segundo o empresário, há planos de que a película passe a ser vendida nas farmácias, mas ainda não se sabe quando. "Tudo dependerá de como o mercado vai absorver o produto", afirmou.

Capital de risco

Segundo Silva, o primeiro passo foi convencer as empresas de capital de risco a aportarem recursos. Os investidores só se convenceram quando constataram a viabilidade econômica do projeto, já que os custos de produção são baixos e favorecem a colocação do produto a preços bastante competitivos.Baseadas na produção de células vivas, as membranas importadas chegam a custar 1 mil dólares por unidade. Com a tecnologia nacional, a Pelenova colocará o produto no mercado a 28,50 reais por unidade. "O que atrapalha o capital de risco é a alta taxa de juros. Foi preciso convencer os investidores que eles teriam a mesma rentabilidade que no mercado financeiro", disse Silva.

Se depender dos sinais detectados pela Pelenova, os negócios decolarão rapidamente. A unidade fabril da empresa tem capacidade para produzir 520 mil unidades da película por mês, no formato 8x8 cm. Desde março, a empresa tentava obter o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Agora, com o produto aprovado pelas autoridades, Silva espera que, em menos de três meses, a fábrica de Terenos esteja operando com capacidade total.

Inicialmente, a produção será destinada ao mercado interno. A Associação Nacional de Assistência ao Diabético e a Sociedade Brasileira de Diabetologia estimam que haja cerca de 5,4 milhões de diabéticos diagnosticados no Brasil e outros 5 milhões em estágio de pré-diabetes. Num segundo momento, quando o produto já estiver nas prateleiras das farmácias brasileiras, a Pelenova deve entrar no mercado internacional. Uma opção são as exportações, mas já há propostas de investidores interessados em produzir o Biocure nos EUA. Segundo Silva, a idéia interessa desde que o controle da nova fábrica fique com a Pelenova. "Queremos que a tecnologia permaneça nacional", afirmou. O mercado existe. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 18% da população do planeta é diabética.

Partindo da tecnologia da membrana de látex, a Pelenova estuda novos produtos, ainda sem previsão de lançamento. As alternativas estão em curativos para perfurações do tímpano e películas para cicatrização de cirurgias, por exemplo. "O espectro de aplicações se amplia tanto que até me assusto", afirmou Silva.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Tecnologia

Estúdio processa Elon Musk por uso de imagens de “Blade Runner” em evento da Tesla

CEO da AWS, da Amazon, sugere demissão para quem discordar de retorno presencial

Por que a Anvisa proibiu o "chip da beleza"?

Voo barato? Atualização do Google Flights promete passagens com preços ainda mais baixos