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Biópsia de congelação ajuda a diagnosticar câncer de bexiga

O método consiste em congelar o material coletado com uso de nitrogênio líquido e cortar a amostra em fatias laminares para análise em microscópio


	Câncer: o câncer de bexiga está fortemente associado ao consumo de cigarro e é o quarto mais frequente nos homens
 (Wikimedia Commons)

Câncer: o câncer de bexiga está fortemente associado ao consumo de cigarro e é o quarto mais frequente nos homens (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2014 às 16h02.

Um exame de resultado rápido conhecido como biópsia de congelação pode tornar o diagnóstico do câncer de bexiga mais preciso e possibilitar o tratamento precoce de lesões invasivas, mostrou estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

A avaliação foi feita durante o doutorado do médico urologista João Alexandre Queiroz Juveniz com 131 portadores de carcinoma urotelial atendidos no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A pesquisa foi orientada pelo doutor Alexandre Crippa Sant'Anna, coordenador do projeto “Análise de fatores prognósticos associados a recorrência do câncer de bexiga”, apoiado pela FAPESP.

“Os pacientes chegavam ao hospital com o diagnóstico de tumor na bexiga, mas não sabíamos se eram lesões músculo-invasivas, do tipo que atinge a camada muscular do órgão. Essa avaliação é feita por meio de um procedimento chamado ressecção transuretral”, explicou Juveniz.

O procedimento remove o tumor e cauteriza o local com o auxílio de um equipamento acoplado a uma câmera inserido pela uretra. O material coletado é enviado para análise do patologista e o resultado sai em aproximadamente cinco dias.

“Se ficar confirmado que a lesão é superficial, algo em torno de 70% dos casos, o tratamento cirúrgico já está concluído. Mas, caso o exame indique se tratar de um tumor músculo-invasivo, é preciso retirar toda a bexiga para evitar que ocorra a disseminação da doença [metástase]”, disse o pesquisador.

Para que o diagnóstico seja preciso, porém, é necessário que o cirurgião atinja a camada muscular da bexiga durante a ressecção e colete parte desse tecido para análise. Quando isso não ocorre, um novo procedimento precisa ser realizado e o início do tratamento tem de ser adiado pelo menos mais quatro semanas.


“Nosso objetivo ao fazer a biópsia de congelação durante a ressecção transuretral era ter certeza de que o material coletado tinha a camada muscular representada. Esse não é um uso rotineiro do exame, fizemos de forma inédita para tentar aumentar a acurácia do diagnóstico”, explicou Juveniz.

O método consiste em congelar o material coletado com uso de nitrogênio líquido e cortar a amostra em fatias laminares para análise em microscópio. A avaliação pelo patologista é feita com o paciente ainda na mesa de cirurgia e o laudo leva entre 15 e 20 minutos para ficar pronto. “Se o resultado apontar que a ressecção não foi feita de forma adequada, podemos refazer o procedimento imediatamente”, disse Juveniz.

De acordo com o pesquisador, a biópsia de congelação já é rotina em outras duas situações: quando é necessário determinar se um tumor é benigno ou maligno durante uma cirurgia (para orientar o tratamento) e para definir, após a retirada de um tumor, se a margem cirúrgica está livre de lesão.

Grupos de pesquisa

Os pacientes que participaram do estudo foram divididos de forma randomizada em dois grupos: os 67 do grupo controle foram submetidos ao protocolo padrão, ou seja, passaram pela ressecção transuretral e o material foi enviado para a análise anatomopatológica tradicional.

Nesse caso, a amostra é inserida em uma solução de parafina e, após o endurecimento, é cortada em fatias laminares para avaliação no microscópio. “Embora esse procedimento seja mais demorado, oferece algumas vantagens. É possível cortar a amostra em fatias mais finas, ter uma melhor visualização do tumor e realizar uma análise mais demorada”, ponderou Juveniz.

Os outros 64 pacientes, além do procedimento padrão, tiveram uma segunda amostra coletada para ser submetida à biópsia de congelação. Nesse grupo, foram coletadas amostras até conseguir representar a camada muscular no exame de congelação.

Nos pacientes em que não foi feita a biópsia de congelação, em 40% dos casos não havia camada muscular representada na amostra e foi necessário um novo procedimento.


No grupo de estudo, o número de lesões que invadem a camada muscular diagnosticadas foi oito vezes maior – 23% dos pacientes, contra apenas 3% do grupo controle, demonstrando a efetividade do estudo de congelação no diagnóstico de doença músculo-invasiva.

“Entre quatro e seis semanas depois, fizemos uma nova ressecção para investigar se no local havia sobrado lesão. No grupo submetido à biópsia por congelação, 90% dos pacientes estavam livres de lesão, contra apenas 65% do grupo controle”, contou o pesquisador.

Embora o tempo de cirurgia tenha sido um pouco mais longo no grupo submetido à biópsia de congelação – 50 minutos contra 42 no grupo controle –, não houve diferença estatística em termos de complicações. “Como é preciso retirar uma peça a mais de material para fazer a biópsia de congelação, pode ocorrer mais complicações como perfuração da bexiga ou um sangramento maior. Mas em nosso estudo não houve diferença relevante nos dois grupos”, disse o pesquisador.

Na avaliação de Juveniz, a biópsia de congelação é um procedimento barato – com custo inferior a R$ 100 – e que possibilita um diagnóstico e um tratamento mais precoce de lesões invasivas.

“Tumores de bexiga costumam ser muito agressivos e causar metástase precoce. O prognóstico do paciente pode mudar radicalmente em menos de três meses se o tratamento não for feito de forma adequada. E é preciso considerar que, quando o paciente chega a um hospital como o Icesp, provavelmente já passou por diversas instituições anteriormente”, afirmou Juveniz.

O câncer de bexiga está fortemente associado ao consumo de cigarro e é o quarto mais frequente nos homens. Entre os tumores que afetam o sistema urológico é o segundo, atrás apenas do câncer de próstata. Na cidade de São Paulo, estima-se que a doença afete 13,3 em cada 100 mil habitantes. No Brasil, em 2012, foram registrados 8,9 mil casos e 3,1 mil mortes – segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

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