Tecnologia

Barco Hacker promove geração de renda a ribeirinhos

Casa de Cultura Digital no Pará promoveu uma expedição à Ilha de Paquetá, a 40 minutos de barco de Icoaraci, um distrito da capital paraense, no fim de março


	Ribeirinhos em Belém: expedição foi composta por profissionais e pesquisadores nas áreas de história, comunicação, tecnologia da informação, logística, economia criativa e educação ambiental (Paulo Jares)

Ribeirinhos em Belém: expedição foi composta por profissionais e pesquisadores nas áreas de história, comunicação, tecnologia da informação, logística, economia criativa e educação ambiental (Paulo Jares)

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Da Redação

Publicado em 7 de abril de 2014 às 13h09.

Belém - Trocar informações com a comunidade ribeirinha para conhecer as suas necessidades e começar a elaborar propostas de alternativas ligadas à sustentabilidade e à geração de renda. Com esse objetivo em mente, um grupo de profissionais e pesquisadores da Casa de Cultura Digital no Pará (CCD-Pa) – organização independente que reúne empresas e encubadoras nas áreas de tecnologia, educação e sustentabilidade – promoveu uma expedição à Ilha de Paquetá, a 40 minutos de barco de Icoaraci, um distrito da capital paraense, no fim do mês de março.

A atividade faz parte do projeto Barco Hacker, que pretende fazer o intercâmbio de informações entre profissionais de diversas áreas e comunidades ribeirinhas localizadas em regiões de difícil acesso.

O projeto surgiu quando a Casa de Cultura Digital ganhou um barco, há cerca de um ano. A divulgação da proposta de levar informação e tecnologia a locais distantes do Pará, pelas redes sociais, fez sucesso e chamou a atenção das comunidades ribeirinhas.

“Eram lugares na Região do Xingu, do Marajó que o nosso barco não poderia fazer viagens longas. Então transformamos o Barco Hacker em um conceito, até para reforçar as relações, já que, por costume, essas comunidades gostam de retribuir a visita oferecendo um barco para nos transportar. Resolvemos então valorizar esses hábitos culturais”, explica Kamila Brito, articuladora do projeto Barco Hacker e da Casa de Cultura Digital.

A expedição foi composta por profissionais e pesquisadores nas áreas de história, comunicação, tecnologia da informação, permacultura, logística, economia criativa e educação ambiental.

No primeiro dia de atividades, profissionais e pesquisadores propuseram uma conversa com os moradores. No segundo dia, eles fizeram um passeio de barco contornando a ilha para verificar detalhes geográficos, fazer um mapeamento e divulgar as informações pelas redes sociais.


Apesar da proximidade de Belém, a comunidade escolhida para a expedição não conta com serviços básicos como transporte, saneamento básico, energia elétrica, coleta de lixo nem água potável. “Apesar de a gente viver rodeado de água, para beber, temos que comprar água em outra ilha”, relata Francisco Campos, presidente da Associação de Moradores da Ilha.

Depois de ouvir os relatos da comunidade, os próximos passos do projeto incluem a aplicação de questionários com 80 das 127 famílias que moram na Ilha para traçar o perfil sociocultural dos moradores e conhecer as atividades econômicas praticadas, além de identificar os moradores que têm intenção de participar de oficinas de educação ambiental e economia solidária. As ações devem ocorrer até fevereiro de 2015.

De acordo com Renata Quemel, integrante do Centro de Estudos e Aplicações em Logística e Meio Ambiente (Cealma), uma das empresas da Casa de Cultura Digital, há possibilidade de implantar cooperativas e associações com homens e mulheres para valorizar o trabalho com o açaí. “Podemos aprimorar a cadeia produtiva do açaí com os homens e trabalhar subprodutos do fruto, como geleias e compota, para melhorar a renda da comunidade”, diz.

A questão da falta de coleta de lixo também vai ser monitorada e pode acabar virando um projeto-piloto de descarte ecológico pelas ilhas do Pará. “Com pelo menos metade dos questionários até maio, nós já vamos começar a entender de que maneira é gerado o resíduo dessas famílias e de que forma é o descarte. Aí, sim, nós vamos poder ter um estudo local da viabilidade desse projeto”, explica Renata Maués, também do Cealma. As próximas visitas estão agendadas para os dias 8 e 17 de abril.

Outro problema relatado pelos moradores diz respeito à escola da comunidade, um anexo da Unidade Escolar Marta da Conceição localizada na Ilha de Cotijuba, a 15 minutos de barco de Paquetá. Em péssimo estado de conservação, a escola chegou a ter uma das salas interditadas depois de quase desabar. Apesar da situação, os ribeirinhos querem que a unidade permaneça na ilha.


“Tenho 21 anos de trabalho aqui. É difícil ver a situação que a escola está hoje. A gente sente um vazio, pelo descaso”, conta, emocionada, Maria Alba dos Santos, uma das duas professoras que lecionam no local e orientam os cerca de 25 alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

“Tem alunos de outras ilhas, que estudam aqui, em Paquetá, que demoram uma hora no barco para chegar à escola. Se a escola aqui fechar, esse tempo pode aumentar mais uma hora e meia”, lamenta Francisco Campos, presidente da Associação de Moradores da Ilha.

A Secretaria de Educação do Pará (Seduc) confirmou que a unidade vai sair da Ilha de Paquetá. Uma nova escola será construída na Ilha de Urubuoca. Segundo o órgão, um estudo preliminar foi feito para justificar a mudança, que deve ocorrer apenas em 2015.

Ainda segundo a Seduc, a sede da escola, que fica na Ilha da Cotijuba será ampliada e vai ganhar cinco salas de aula. As crianças que moram em Paquetá poderão escolher em qual unidade de ensino vão estudar. A Escola Marta da Conceição atende a cerca de mil alunos do ensino fundamental e médio em ilhas próximas a Belém.

Cerca de 600 pessoas vivem na comunidade visitada pelo Barco Hacker na Ilha de Paquetá, uma área alagada que não tem praia nem porto. O sustento vem especialmente da venda do açaí, entre julho e dezembro. Na entressafra, os moradores praticam a pesca artesanal de peixes e camarões.

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