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Banho passou de 10 minutos? É desperdício

Um banho de 15 minutos, sem fechar o registro, consome mais do que a ONU recomenda de uso de água por pessoa em um dia inteiro

Água (sxc.hu)

Água (sxc.hu)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2014 às 07h00.

O alerta vermelho foi dado em São Paulo: se não houver redução do uso da água, as torneiras vão fechar. Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água e professor de engenharia ambiental da USP, disse ao Brasil Post que o risco de racionamento é real na capital paulista e que tomar banhos mais longos que 10 minutos já é gastar mais do que o necessário.

“O risco é real, a menos que haja um engajamento da população da região metropolitana de São Paulo no sentido de reduzir o consumo. Uma redução de consumo de 20, 30%", afirmou Braga ao Brasil Post. "Se não houver isso, de fato vai faltar água nas torneiras.”

A Organização das Nações Unidas (ONU) corrobora a afirmação. Um banho de 15 minutos, sem fechar o registro, consome mais do que a ONU recomenda de uso de água por pessoa em um dia inteiro: 135 litros. Para a organização, 110 litros são o suficiente para "atender às necessidades de consumo e higiene".

“Em um banho de 5 minutos, você gasta 40 litros de água, que é uma quantidade considerável capaz de garantir a higiene. A partir de 10 minutos, já estamos usando além do que seria o necessário para você atender as condições de higiene. Acho que como regra geral devemos promover uma conscientização para que as pessoas usem a água com eficiência”, disse Braga ao Brasil Post.

Reservatório Uma das principais causas do sinal de alerta é a situação do Sistema Cantareira, que responde por quase metade do abastecimento da região metropolitana de São Paulo e abastece quase 10 milhões de pessoas. Na semana passada, os reservatórios do sistemas chegaram ao menor nível já registrado nos seus 39 anos de operação, 22,2%.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou ao Brasil Post, por meio de assessoria, que a situação de emergência se deve aos recordes de falta de chuva dos últimos dois meses.

Nunca choveu tão pouco em São Paulo desde 1930, quando começou a medição, segundo a Sabesp. Dezembro de 2013 teve 62 milímetros de precipitação, quando a média é 226 mm, e janeiro teve apenas 87,8 mm quando deveria ter 260 mm. Ou seja, é o pior índice de chuva em 84 anos.

Há ainda a questão das perdas de água, que, de acordo com a Sabesp, desperdiçam 25% do abastecimento. O índice é menor do que o nacional (37%), porém maior do que o da Alemanha e Japão (11%). De acordo com Braga, apesar dos vazamentos – responsabilidade da prefeitura, a economia de água em momentos críticos como o atual – responsabilidade de todos – é imprescindível.

A Sabesp disse que trabalha com a possibilidade de as chuvas retornarem à normalidade a partir da segunda quinzena de fevereiro, conforme indicam as previsões meteorológicas. Em meio ao alarme, a companhia anunciou que vai dar um desconto de 30% ao cliente que reduzir em pelo menos 20% o consumo médio de água de fevereiro a agosto. Já a prefeitura de Campinas decidiu multar quem desperdiçar água – a medida era prevista para julho, mas foi antecipada.

Braga explica que essa decisão pode ser tomada de acordo com leis municipais – sem legislação, não é possível multar os usuários. Já o bônus só depende da companhia responsável pelo serviço. Mesmo sem multa, o especialista acredita que é possível reduzir o consumo. “Em 2004, a Sabesp fez uma campanha de multa porque a situação extrema era muito parecida com a de hoje, absolutamente crítica. E a campanha de bônus trouxe resultados, portanto eu acho que é uma iniciativa que deve surtir efeitos”, afirmou Braga.

Leia a íntegra da entrevista com Benedito Braga, do Conselho Mundial da Água: 

O risco de racionamento de água é iminente? O senhor tem alguma previsão? 
Em função de uma situação precária, em situação normal todo mundo deveria usar água eficientemente. A questão dos vazamentos da rede tem que cuidar da vida inteira, porque é receita que ela perde, é um grande problema. Mas não é esse o problema maior.

De quem é a responsabilidade pelos problemas recorrentes na distribuição de água em São Paulo? 
Nem do governo estadual, nem da Sabesp, a responsabilidade é do governo municipal. A constituição brasileira coloca a disposição que os assuntos locais, no caso do abastecimento de água e tratamento do esgoto é uma responsabilidade dos municípios. A responsabilidade legalmente falando, é dos municípios.

E quanto às perdas de água nas redes subterrâneas, de 25% do total... A responsabilidade é de quem? Como esse problema pode ser combatido?
A responsabilidade de dar aos moradores da cidade saneamento é do município. Existem vários métodos, um deles é o monitoramento da pressão e aumenta-la ou diminui-la de acordo com o tipo de perdas. O outro é você fazer uma pesquisa síndica com sistemas de auscultação, ruídos, que é mais dispendioso, mas é uma possibilidade.

Que lição a respeito do desperdício de água o Brasil precisa aprender?
Essas situações são importantes para que a classe política entenda a situação. A classe política tem um objetivo que é se reeleger, estar no poder, etc. Enquanto a agua não for um elemento importante para sociedade, a classe politica não vai dar importância pra ela. Vai dar atenção para educação, saúde, etc. Se a população se engaja desse processo e cobra os seus representantes públicos a cuidar da água como uma coisa importante, nós vamos ter uma mudança de posicionamento, vamos ter mais verbas para sistemas básicos de saneamento, prevenção de enchentes. Falta investimento em infraestrutura, o país precisa de mais reservatórios de armazenamento de água.

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