Jen-Hsun Huang, CEO da Nvidia: ao adquirir a ARM por US$ 40 bilhões empresa realizou uma dos maiores negócios do mercado tech (David Paul Morris/Bloomberg)
Thiago Lavado
Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 07h00.
Última atualização em 30 de dezembro de 2020 às 10h32.
Às vezes, não é quantidade, mas a qualidade dos negócios que importam. O ano de 2020 não foi simbólico em termos de montantes de aquisições no mercado de tecnologia: de acordo com dados da consultoria PwC, houve queda de 12% no valor total gasto em aquisições de tecnologia.
Apesar disso, houve negócios importantes para o setor e os dados apontam que o valor médio por negócio aumentou, ainda que pouco (0,8%). A pandemia de covid-19 foi especialmente dura, principalmente no primeiro semestre, quando empresas cortaram fecharam a carteira.
Houve uma recuperação no segundo semestre e o ano chega ao fim com 226 bilhões de dólares em aquisições no mercado.
Para 2021 fica o alerta de um mercado em xeque. Com investigações antitruste contra gigantes como Google e Facebook, este com autoridades querendo que a empresa se desfaça de duas de suas principais compras, WhatsApp e Instagram, 2020 foi marcado por dificuldades regulatórias. Grandes executivos também foram figuras marcadas em audiências no Congresso americano: Mark Zuckerberg, Sundar Pichai, Jeff Bezos, Tim Cook e Jack Dorsey compareceram a audiências com legisladores.
A chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca em janeiro mantém as empresas em alerta, após promessas de maior escrutínio sobre as fusões e aquisições do setor de tecnologia.
Confira algumas das principais aquisições do mercado de tecnologia no ano:
O mercado foi especialmente quente para as empresas de semicondutores e microchips em 2020.
A principal compra do ano foi feita pela companhia de placas gráficas e inteligência artificial Nvidia, que anunciou em setembro a intenção de compra da ARM Holdings, pertencente ao conglomerado japonês SoftBank, por 40 bilhões de dólares. Se confirmado, o acordo será um dos maiores do mercado de tecnologia, atrás apenas da compra da EMC pela Dell por 67 bilhões de dólares.
A ARM é a fabricante das CPUs utilizadas na grande maioria dos celulares à venda mundialmente hoje em dia. Em 2016, ela foi vendida ao SoftBank por 32 bilhões de dólares. O negócio pende aprovação regulatória nos Estados Unidos.
Em um negócio de 35 bilhões de dólares anunciado em outubro, a AMD (sigla para Advanced Micro Devices) acertou a compra da Xilinx, empresa americana que também atua com a fabricação de chips de processamento e tem como um de seus principais clientes a chinesa Huawei.
Com sede em San Jose, na Califórnia, a Xilinx foi fundada em 1984 por Victor Peng. A empresa produz chips semicondutores para dispositivos wireless e opera ainda com datacenters e com processadores automotivos. A companhia não revela números de faturamento, mas sabe-se que 8% da receita vem da Huawei.
A Salesforce, líder global em software de gestão corporativa adquiriu em dezembro o mensageiro Slack, bastante utilizado por empresas e startups. A compra é a maior aquisição da gigante de São Francisco, que desembolsou 27,7 bilhões de dólares no negócio e uma das maiores do mercado de tecnologia.
Com a expertise de comunicação da Slack, a Salesforce, uma gigante com faturamento anual de 20 bilhões de dólares, pode competir de frente com empresas como a Microsoft, que registrou bastante sucesso em implementações e no uso do Teams, sua plataforma de comunicação corporativa.
A proposta da adquirente Stone para comprar a Linx por 6,7 bilhões de reais foi aprovada por acionistas em novembro, após um imbróglio que marcou o mercado brasileiro e pela entrada da concorrente Totvs, maior companhia de software de gestão brasileira, na compra.
Quando a novela começou, a Linx detinha 42% de participação de mercado na cadeia de varejo, de restaurantes a locadoras de carros, passando por supermercados e drogarias. Por isso, era tão importante e foi disputada por Totvs e Stone. Quando a briga pelo ativo começou, valia 4,5 bilhões de reais na bolsa e chegou a valorizar mais de 40% nas semanas seguintes.
A disputa durou até as horas finais, antes da votação da assembleia de acionistas da Linx, quando a Stone aumentou a oferta em quase 270 milhões de reais, deixando a concorrente sem reação.
Com o isolamento social causado pelo pandemia de covid-19, o ano foi de intensa atividade no mercado de entregas de comida e de compras feitas em supermercados. Uma das mais simbólicas aquisições foi a compra da Postmates, um aplicativo de entregas americano, pela Uber.
O negócio foi anunciado em julho deste ano e envolvia o pagamento de 2,6 bilhões de dólares pelas ações da concorrente da Uber Eats. Findado em dezembro deste ano, a Postmates se juntou a outra aquisição importante da Uber neste mercado — a empresa já havia comprado a Cornershop, de entregas de compras de supermercado, em outubro de 2019.
Esse mercado também ficou aquecido no Brasil, onde gigantes varejistas como Magazine Luiza e B2W (que detém Americanas, Submarino e Shoptime), fizeram aquisições de aplicativos de entregas em 2020. O Magazine Luiza comprou o app Aiqfome, especializado em fazer entregas de restaurantes em cidades no interior do Brasil, enquanto a B2W fechou negócio pelo Supermercado Now, de entregas de compras.
A OLX realizou, em outubro, a compra da plataforma de classificados online Zap Imóveis. Com a transação, no valor de 2,9 bilhões de reais. A empresa já tinha um histórico no anúncio de classificados imobiliários, quando lançou a OLX Stories.
A transação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e cerca de 60 milhões de acessos mensais da empresa se somam aos 50 milhões do Zap Imóveis e da Viva Real.
Em maio, a Intel anunciou a compra da Moovit, um aplicativo de mapas e localização, criado pelo fundador do Waze. O negócio foi de 900 milhões de dólares e deve ajudar a gigante de tecnologia a criar táxis autônomos que poderão sair às ruas no início de 2022.
A Moovit permanecerá independente, enquanto sua tecnologia e os dados coletados de mais de 800 milhões de usuários em 102 países serão integrados à unidade de veículos autônomos da Intel, chamada Mobileye.
Apesar do escrutínio regulatório sobre aquisições do Facebook no final de 2020 a empresa não deixou de comprar empresas significativas este ano.
Em um negócio que chamou atenção por tratar-se de um serviço presente em outras redes sociais, como o Twitter, a empresa anunciou a compra da plataforma de gifs Giphy, por estimados 400 milhões de dólares. O Giphy se tornará parte do Instagram.
Outra compra importante para a rede social foi a da Kustomer, por um valor maior, de cercad e 1 bilhão de dólares. A Kustomer é uma startup de Nova York, focada em construir plataformas de relacionamento com cliente e manejo de canais de atendimento.
De olho em aumentar a presença de negócios e vendas em suas redes sociais e apps, como Instagram, WhatsApp e Messenger, o Facebook se posiciona para facilitar a relação entre negócios e clientes na rede da empresa.