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As mídias sociais podem ser salvas?

O sonho original das mídias sociais — produzir discussões, desvendar criatividade e conectar pessoas — não deve ser descartado por causa das falhas atuais

Facebook: rede social enfrenta questionamentos sobre regulação no Congresso dos EU

Facebook: rede social enfrenta questionamentos sobre regulação no Congresso dos EU

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Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2018 às 11h38.

Última atualização em 11 de abril de 2018 às 12h34.

Não preciso dizer que há algo de errado nas mídias sociais.

Você provavelmente já teve alguma experiência do tipo. Talvez seja o jeito que se sente ao ver seu feed do Twitter – ansioso, nervoso, um tanto cansado do mundo – ou seu mal-estar quando vê uma criança assistindo a vídeos do YouTube, sabendo que ela está apenas a alguns passos algorítmicos de uma espiral de conspirações lunáticas e cenas desagradáveis.

Ou talvez tenha sido o escândalo de privacidade do Facebook do mês passado, que fez você se lembrar de ter confiado partes mais íntimas de sua vida digital a uma máquina de vigilância que visa a maximização do lucro.

Esse crescente desconforto com nossas maiores plataformas sociais se reflete nas pesquisas. Uma delas, feita recentemente pela Axios e pelo SurveyMonkey, constatou que as três maiores empresas de mídias sociais – Facebook, Twitter e Google, que compartilha sua controladora com o YouTube – são significativamente menos populares entre os americanos do que eram há cinco meses.

(E estes podem ser considerados os sortudos. Fora dos Estados Unidos, as mídias sociais alimentam a violência do mundo real e capacitam autocratas, muitas vezes com muito menos supervisão.)

Mas seria um erro ignorar tudo e assumir que tem que ser desse jeito. O sonho original da mídia social – produzir discussões saudáveis, desbloquear novas formas de criatividade, conectar pessoas com interesses semelhantes – não deve ser descartado devido às falhas dos líderes do mercado atual.

E muitas coisas importantes ainda acontecem mesmo nas redes mais falhas. No mês passado, a March for Our Lives, por exemplo, foi em grande parte organizada no Facebook e no Twitter.

O principal problema das mídias sociais hoje é que elas ficaram grandes demais e estão presas dentro de um sistema baseado no mercado, que as obriga a continuar crescendo. O Facebook não consegue parar de monetizar nossos dados pessoais pela mesma razão que o Starbucks não pode parar de vender café – é o coração da empresa.

Aqui estão três maneiras possíveis para resgatar as mídias sociais das pressões do mercado que geraram essa situação.

Dar poder ao povo

Em seu novo livro “New Power”, Jeremy Heimans e Henry Timms escrevem sobre a luta entre instituições centralizadas, de cima para baixo, que representam o “velho poder”, e movimentos descentralizados, de baixo para cima, que representam o “novo poder”.

O Facebook, escrevem eles, é um exemplo de uma nova instituição que serve os interesses do velho poder. Ele coleta a criatividade de bilhões de pessoas e a transforma em uma empresa gigante, centralizada, sem que a maioria dos usuários compartilhe algum valor econômico, criado por eles mesmos, e sem poder se pronunciar sobre a governança da plataforma.

Os autores questionam: e se uma rede social fosse verdadeiramente administrada por seus usuários?

“Se você está garantindo um valor econômico a algo com essa consequência social tremenda, deveria ter uma participação no valor que está criando”, disse Heimans.

Nathan Schneider, professor de Estudos de Mídia da Universidade do Colorado, teve uma ideia semelhante em 2016, quando propôs que os usuários do Twitter se unissem para comprar a plataforma de seus acionistas e convertê-la em um coletivo que eles próprios administrariam, do mesmo jeito que uma cooperativa de crédito local funciona.

Pessoas que fizeram contribuições valiosas para a rede, tais como funcionários e grandes usuários, receberiam partes maiores, com mais poder de voto. E todos teriam um lugar à mesa nas decisões importantes sobre as operações da plataforma.

É extremamente improvável que Mark Zuckerberg, que lutou arduamente para manter o controle do Facebook, converta a empresa em um coletivo controlado e gerido por aqueles que o utilizam, mas Schneider acredita que dar mais controle a usuários responsáveis poderia ajudar a restaurar a confiança na rede e a demonstrar os valores que Zuckerberg diz querer que o Facebook represente.

“Ele poderia mostrar que leva a democracia a sério o suficiente para começar com sua própria criação”, disse Schneider.

Criar uma federação social

Outra abordagem radical seria fazer as mídias sociais trabalharem mais como o e-mail, para que aplicativos independentes possam trabalhar perfeitamente em conjunto através de um protocolo comum.

Em vez de um grande Facebook, uma rede social federal se pareceria com um agrupamento de nódulos independentes – Mamãebook, Atletabook, Gamerbook –, que poderiam se plugar à rede guarda-chuva quando fizesse sentido. Em vez de exigir políticas no estilo “tamanho único” que se aplicam aos bilhões de usuários, esses nódulos poderiam ser projetados para refletir as prioridades de que os integram.

(Uma rede para pessoas preocupadas com privacidade e outra para as que compartilham tudo abertamente poderiam ter regras diferentes de retenção de dados, e uma rede para usuários LGBT e outra para pastores evangélicos poderiam ter regras diferentes para o discurso de ódio.) Se um nódulo se tornasse tóxico, seria removido sem que toda a rede seja desativada.

“O e-mail é a rede social mais resistente da internet, e o que permite sua adaptação é o uso de um protocolo aberto, possibilitando que as pessoas desenvolvam aplicativos para ele, e assim aperfeiçoamos o modo em que o usamos”, disse Schneider.

Já existem versões desse tipo – como o Mastodon, descentralizada, no estilo do Twitter, tem hoje mais de um milhão de usuários cadastrados desde sua estreia, em 2016. E várias mídias sociais com base em blockchain – o sistema de contabilidade que controla moedas virtuais como o bitcoin – surgiram nos últimos meses.

Certamente, as opções descentralizadas têm seus próprios problemas: são confusas de administrar e podem ser manipuladas por maus agentes. Podem também cair no mesmo tipo de problema de privacidade pelo qual o Facebook está sendo criticado.

Nada disso é uma panaceia, mas testar modelos mais descentralizados poderia dar aos usuários de mídias sociais a sensação de que as plataformas representam seus interesses, não os de uma corporação sem rosto.

Coloque as datas de validade nos gráficos sociais

Uma amiga solteira observou uma vez que a principal diferença entre aplicativos de namoro como o OKCupid, o Tinder e o Bumble não é o conceito em que foram desenvolvidos ou as empresas por trás deles, mas sim seu tempo de existência.

Os novos, segundo ela, tendem a atrair pessoas interessantes e inteligentes que estão de fato em busca de namoro; os mais antigos, por outro lado, acabam infestados de esquisitões e predadores, não importando a qualidade de seu desenvolvimento.

Uma teoria semelhante pode ser aplicada às mídias sociais. Facebook, Twitter, YouTube, Instagram e Snapchat tiveram muitos problemas em seus primeiros anos, mas eram em geral mais limpos, com poucos tipos de exploração e comportamento malicioso.

Hoje, o tamanho e a influência enormes dessas plataformas as transformaram em um atrativo irresistível para maus agentes, e muitos dos nossos “gráficos sociais” – termo usado pelo Facebook para as conexões digitais que criamos – estão entupidos com anos de material acumulado.

Em um post em seu blog no ano passado, o capitalista de risco Hunter Walk propôs uma ideia interessante: um botão “recomeçar” determinado por lei que, quando apertado, permitiria que o usuário de mídias sociais excluísse todos seus dados, limpasse seus feeds e listas de amigos e recomeçasse com uma conta nova.

Eu iria ainda mais longe, sugerindo que as mídias sociais deem a seus usuários a opção de “autolimpeza automática”, que limparia regularmente seus perfis de aplicativos não mais usados, de amizades e de seguidores com os quais já não interagem e de dados que não precisam mais ser armazenados.

Se essas ferramentas fossem habilitadas, os usuários só precisariam tomar uma atitude se não quisessem que suas informações desaparecessem depois de um certo número de meses ou anos.

Fazer com que os gráficos sociais sejam temporários por padrão, em vez de preservá-los para sempre, sem dúvida seria ruim para o modelo de negócios da maioria das mídias sociais, mas poderia criar normas novas e saudáveis em torno da privacidade e da higiene de dados, evitando o acúmulo de problemas com o passar do tempo. Poderia até mesmo retomar um pouco da magia original, quando as coisas eram novas e fascinantes, e não tão assustadoras.

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