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Apple terceiriza inovação e essa pode ser a melhor arma para a expansão

Facilidade na escrita de aplicativos e licença de uso da marca são estratégias-chave da empresa

Apple (Reprodução)

Apple (Reprodução)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 9 de junho de 2014 às 09h59.

Nesta semana, a Apple realizou a sua conferência anual para desenvolvedores, a WWDC, e anunciou diversas inovações de usabilidade no sistema móvel iOS8 (muitas semelhantes a funções do Android) e ofereceu mais recursos para a integração com os computadores da linha Mac. Mas a arma da Apple contra o Android e o Windows Phone não está diretamente nas mãos da empresa, mas, sim, exatamente no que ela abriu mão: o controle excessivo sobre o hardware.

Como era previsto, não houve nenhuma menção a um novo aparelho no evento desta semana, o WWDC é, de fato, um evento de software. Mas a empresa demonstrou que vai terceirizar a sua inovação de uma forma simples: fazendo parcerias com empresas que investem em Internet das Coisas (a tendência de conectar qualquer objeto à internet).

Um caso claro disso é o da Philips, que conta com o conjunto de lâmpadas inteligentes Hue, que operam em ZigBee, mas recebem comandos via Wi-Fi por meio de aplicativos para dispositivos Android e iOS — além de terem uma API aberta de desenvolvimento. Essencialmente, você pode alterar a intensidade ou cor da luz e ligá-la ou desligá-la quando quiser pelo smartphone.

Transformando o iPhone em um controle remoto, a Apple se coloca como peça central desse movimento iniciado por outras empresas de tecnologia. A companhia fundada pelos Steves Wozniak e Jobs nunca lançou um produto com esse conceito declaradamente. Claro que a empresa não reinventou a roda ao fazer isso, uma vez que a comunicação por Wi-Fi não é uma tecnologia nova. Mas existem mais de 800 milhões de aparelhos que rodam o iOS, sendo que 500 milhões são iPhones. Ou seja, a atitude da Apple faz sentido em termos de mercado.

De acordo com o anúncio feito na WWDC por Craig Federighi, vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple, o Homekit, kit de desenvolvimento do sistema de automação residencial da empresa, usará um "protocolo de rede comum com transferência segura de dados para garantir que somente o iPhone possa abrir a sua garagem ou destrancar a porta da sua casa".

Abrindo as portas para parcerias de hardware, a Apple coloca embaixo de seu guarda-chuva toda a tecnologia de ponta disponível no mercado – e ela não quer concorrência. Isso fica claro uma vez que a Belkin ficou de fora do anúncio na WWDC, mesmo sendo sua parceira de longa data na produção de acessórios para iPhones e iPads, além de roteadores. Essa empresa possui seu próprio sistema de automação residencial chamado de WeMo, que funciona por meio de um aplicativo para iOS, e também tem tomadas inteligentes que permitem ligar ou desligar aparelhos eletrônicos à distância.

No mundo ideal sonhado pela Apple, você só precisará dizer à assistente pessoal Siri “Hora de dormir” e todos os seus gadgets conectados ao iPhone por Wi-Fi serão colocados no modo noturno. O termostato ficará em uma temperatura mais alta, haverá uma certificação de que a porta da garagem está fechada, as luzes e a sua TV serão desligadas automaticamente, somente com a sua voz.

Com essa estratégia, a empresa não precisa se preocupar em desenvolver e produzir hardwares inovadores e ela ainda ganhará com isso, tendo em vista que a licença de uso da marca “Made for iPhone” certamente não será gratuita. É uma sacada inteligente que tem tudo a ver com a valorização da marca, que se posiciona no segmento de luxo (basta ver o preço do iPhone no Brasil para que isso fique evidente). Essa prática é comum no mercado de tecnologia e é conhecida como OEM, que é uma modalidade diferente de distribuição de produtos originais: uma empresa produz e a outra licencia a marca. Dessa forma, ambas sobrevivem. Outra empresa que faz isso, por exemplo, é a Nvidia, que terceiriza sua produção do tablet Tegra Note 7 em diversos países.

Ainda assim, a hipótese de a Apple lançar um relógio inteligente, que seria chamado de iWatch, pode ser bastante lucrativa para a empresa. Segundo a Forbes, o lançamento desse produto poderia agregar mais 50 bilhões de dólares ao valor de mercado da gigante de Cupertino. E é válido lembrar que a Apple é a segunda empresa mais valiosa do mundo, com 160 bilhões de dólares em caixa.

Steve Wozniak, cofundador da Apple, disse recentemente que a maneira correta de investir em um relógio é levando todas as funções de um smartphone ao pulso do usuário. Teria ele previsto acertadamente o que a empresa considera lançar? Isso é algo que ainda não se sabe, mas diversas lojas online chinesas já tentam fazer isso e há até mesmo modelos com dois chips.

Vale notar que relógios inteligentes e pulseiras inteligentes (para exercícios físicos) são duas categorias distintas. Normalmente, pulseiras não rodam aplicativos, enquantos os smartwatches podem executar algumas funções simples, porém, mais avançadas. A Apple já tem parceria com a Nike para acessórios fitness. Prova disso é o app novo de saúde do iOS, chamado de Health. Por sinal, ele provavelmente é uma evolução desta parceria.

Apesar da aura de inovação que a empresa têm entorno de si, a neessidade de dominar o mercado trazido pela Internet das Coisas é algo real para a Apple. Segundo um relatório da consultoria IDC divulgado em fevereiro deste ano, esse segmento será responsável por uma receita de 7,3 trilhões de dólares em 2017. Responsável por criar o primeiro smartphone na concepção da palavra como a entendemos hoje, a companhia precisa agora abraçar o mundo. Mas vai usar os braços de vários parceiros para isso.

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