Facebook foi classificado como "arrogante" pelo primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison (Dado Ruvic/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 13h06.
A decisão do Facebook de bloquear compartilhamento de notícias em sua plataforma na Austrália provocou forte reação do governo australiano, de especialistas e ONGs. E tornou ainda mais evidente a briga travada entre as chamadas big techs e os esforços de autoridades públicas para conter seu poder.
A rede social, classificada nesta quinta-feira de "arrogante" pelo primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, decidiu boicotar produtores de notícias em retaliação a uma nova lei que entrará em vigor no país e que obriga plataformas digitais a remunerar a mídia local pelo uso de seu conteúdo.
O bloqueio atingiu não apenas matérias jornalísticas como serviços de utilidade pública, que usam o Facebook para informar a população sobre riscos de incêndios florestais e ciclones, comuns nesta época do ano. Publicação de informações oficiais sobre a Covid-19 também foi afetada.
O primeiro-ministro do país usou o próprio Facebook para criticá-lo. Em um post, escreveu:
"As ações do Facebook de hoje (ontem), cortando informações essenciais sobre serviços de saúde e emergência, foram arrogantes e decepcionantes".
"Essas ações apenas confirmam as preocupações que um cada vez maior número de países estão expressando sobre o comportament das big techs, que acham que são maiores que os governos e que as regras não devem se aplicadas a elas".
Morrison também disse que estava em contato com líderes de outros países sobre essa questão.
Segundo o Wahsington Post, com a decisão do Facebook, nenhuma notícia produzida na Austrália poderá ser vista por usuários do Facebook em qualquer lugar no mundo. E nenhum usuário do Facebook na Austrália poderá ter acesso por meio da plataforma a qualquer conteúdo noticioso, mesmo que não seja produzido no país.
A especialista em internet Tama Leaver, da Universidade de Curtin, foi irônica:
— O Facebook tem 17 anos. É um adolescente petulante. Mas quando a comunicação global é parte do que acontece na sua plataforma, não dá para ter um surto de raiva — disse ela a Reuters.A ONG de direitos humanos, Human Rights Watch disse em comunicado que a ação do Facebook "é alarmante e perigosa".
O braço australiano da ONG Save de Children, cuja página na rede ficou fora do ar, alertou para impacto no levantamento de fundos para ajudar crianças.
"Cada minuto que nossa página está fora do ar é um minuto que a mensagem sobre as necessidades das crianças não está sendo enviada", afirmou o diretor executivo da ONG, Paul Ronalds, em nota.
A professora de enfermagem da Universida de Sydney Julie Leask lembrou que, no momento em que a vacinação no país está em andamento, "australianos que usam o Facebook como sua fonte primária de informação não terão acesso a informação confiável sobre as vacinas".