Tecnologia

Após Alibaba, a gigante dos jogos online Tencent é o novo alvo de Pequim

A empresa com maior valor de mercado da China é acusada de 'entorpecer os jovens chineses' com os videogames. A perseguição do governo já impactou o valor das ações da companhia

A China quer manter as gigantes da tecnologia como a Tencent sob comando (Visual China Group/Getty Images)

A China quer manter as gigantes da tecnologia como a Tencent sob comando (Visual China Group/Getty Images)

A desenvolvedora de jogos Tencent puxou as perdas no mercado acionário depois que a mídia estatal chinesa condenou o “ópio espiritual” dos videogames, o que levou a empresa a propor restrições para crianças e gerou temores de que a maior arena de jogos do mundo será o próximo alvo do governo de Pequim.

A empresa com maior valor de mercado da China assim como as rivais NetEase e Nexon foram atingidas por uma onda de vendas na esteira de uma crítica contra o setor publicada pela agência de notícias Xinhua. O Economic Information Daily citou um estudante segundo o qual alguns de seus colegas de escola jogavam o Honor of Kings - um dos títulos mais populares da Tencent - oito horas por dia. O link do artigo, que pedia controles mais rígidos sobre o tempo de jogo, foi removido horas depois sem explicação, embora permaneça na versão impressa.

Depois disso, a Tencent prometeu limitar ainda mais o tempo de jogo para menores: para apenas uma hora durante a semana e não mais do que duas horas durante férias e feriados. As medidas vão além das restrições impostas em 2019 pela agência que regula o setor de videogame na China. A Tencent também planeja proibir compras durante os jogos para menores de 12 anos, a começar com seu principal título. E, de forma mais drástica, a empresa abordou a possibilidade de o setor proibir totalmente videogames para menores de 12 anos, sem dar detalhes.

A rapidez dos acontecimentos levanta a preocupação de que o governo chinês possa focar sua atenção em uma arena fundamental para os resultados financeiros de gigantes de mídia como Tencent, Apple e Activision Blizzard. E a nova preocupação surge depois de semanas tumultuadas para investidores globais que, em certo momento, eliminaram mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado.

Desde julho, o governo efetivamente congelou listagens no exterior para proteger a segurança dos dados depois do polêmico IPO de US$ 4,4 bilhões da Didi Global, gigante de aplicativo de transporte, e ordenou que uma série de empresas de aulas particulares convertam seus negócios em um modelo sem fins lucrativos. As medidas demonstraram a resolução do governo chinês de focar em empresas privadas para enfrentar desigualdades sociais, assumir o controle dos dados que considera cruciais para a economia e a estabilidade, e controlar interesses poderosos.

“A China, nesse sentido, está em águas desconhecidas e precisa trilhar o caminho com cuidado”, disse Aidan Yao, economista sênior de Ásia Emergente da AXA Investment Managers. “Grande parte da volatilidade recente do mercado é, na minha opinião, resultado de investidores não saberem a pretensão de Pequim, o que inadvertidamente corrói a confiança em investir neste mercado. Este último é um risco-chave que precisa ser gerenciado com cuidado.”

A ação da Tencent chegou a cair 11% na terça-feira antes de recuperar parte das perdas e fechar em baixa de 6%. Ações de investidores da Tencent, como Naspers e Prosus, também se desvalorizaram, enquanto Nintendo e Capcom perderam terreno ao lado da Nexon em Tóquio. Muitos desenvolvedores de jogos estrangeiros têm acordo de licenciamento com a Tencent para lançar seus títulos na China.

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