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Anúncio no Facebook sobre vitória de Trump expõe desafio da rede social

No mês passado, a rede social de Zuckerberg anunciou que não iria aceitar anúncios políticos na semana anterior às eleições americanas

Redes sociais: como a vida real é afetada por elas (Bússola/Reprodução)

Redes sociais: como a vida real é afetada por elas (Bússola/Reprodução)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 28 de outubro de 2020 às 11h20.

Última atualização em 28 de outubro de 2020 às 17h20.

Um anúncio começou a circular no Facebook afirmando que o republicano Donald Trump ganhou as eleições americanas --- que acontecem somente na semana que vem. No vídeo, o rosto de Trump é colocado no Sol da série infantil Teletubbies e uma frase afirma que “Donald J. Trump ainda é presidente dos Estados Unidos”, enquanto flores surgem do chão. O anúncio está circulando apesar das novas políticas da rede social que supostamente deveriam frear esse tipo de conteúdo, o que expõe o desafio da rede social de monitorar os anúncios.

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No mês passado, a rede social de Mark Zuckerberg anunciou que não iria aceitar propaganda política na semana anterior ao dia 3 de novembro, a começar a partir do dia 27 de outubro. Nas políticas do Facebook, consta que “anúncios com afirmações prematuras sobre a vitória nas eleições não são permitidos”. Não foi o que aconteceu.

Apesar da falha, Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais e comunicação do Facebook, acredita que os anúncios políticos da rede social estão “muito mais transparentes do que antes”, citando as eleições de 2016 como um exemplo a não ser seguido. “Os anúncios, da forma como o Facebook está desenhado, está transparente o suficiente para que as pessoas saibam quem está pagando. Nosso processo de aprovação de anúncios agora é muito mais duros. Entre março e setembro recusamos 2,2 milhões de anúncios nos Estados Unidos porque eles não atenderam aos nossos critérios”, disse Clegg em conversa com jornalistas acompanhada pela EXAME.

Nosso processo de aprovação de anúncios agora é muito mais duros. Entre março e setembro recusamos 2,2 milhões de anúncios nos Estados Unidos porque eles não atenderam aos nossos critérios

Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais e comunicação do Facebook

Para o engenheiro Robert Elliott Smith, autor do livro Rage Inside the Machine: The Prejudice of Algorithms, and How to Stop the Internet Making Bigots of Us All (ainda sem versão em português), a razão para o problema com os anúncios políticos no Facebook é bastante simples. “O Facebook, bem como outras redes sociais, foca em lucro e não na responsabilidade social propriamente dita e existe um limite do que eles podem fazer nesse escopo”, diz. 

Smith acredita que a única forma de as redes sociais começarem a se preocupar mais com o fator social de suas decisões é com a regulação dos governos. “Não podemos esperar que as empresas privadas deixem de lado o objetivo de lucrar. Isso coloca as redes sociais em uma situação conflituosa. Quando você incentiva as empresas a buscar somente lucro para seus acionistas, essa é a única preocupação delas”, afirma.

Há quatro anos, quando Trump se concorreu à presidência contra a democrata Hillary Clinton, milhares de dados dos usuários do Facebook foram utilizados pela companhia britânica Cambridge Analytica para personalizar anúncios com base nos gostos de indivíduos --- nada de novo sob o Sol dos algoritmos utilizados pelas redes sociais. 

“O Facebook, bem como outras redes sociais, foca em lucro e não na responsabilidade social propriamente dita e existe um limite do que eles podem fazer nesse escopo”, diz Robert Elliot Smith

Fato é que a empresa usou as informações que coletou sobre os usuários do Facebook para colocá-los em caixas: para aqueles que tinham menos probabilidade de votar em Trump, a Cambridge Analytica mostrava anúncios que os incentivava a não ir votar, para os que estavam preocupados com a segurança do país e eram a favor do porte de armas, a Cambridge mostrava anúncios sobre as propostas de Trump que concordavam com o tema. Tudo foi pensado com cuidado para atrair (ou afastar) públicos que poderiam influenciar diretamente na eleição. 

Outra rede social que anunciou novas ferramentas para evitar a propagação de conteúdos falsos e de desinformação foi o Twitter. Agora sempre que um usuário tenta retuitar uma publicação que contém uma notícia, um aviso que diz “quer ler o artigo primeiro?” aparece. “Não é possível conhecer a história toda só pelo título”, diz a rede social.

Em outubro, o Twitter também adotou a política de não permitir que “usuários, incluindo os candidatos, tuítem sobre quem venceu as eleições antes das autoridades confirmarem”, sendo que os resultados das eleições dos Estados Unidos só serão divulgados uma vez que “os anúncios dos estados confirmem quem venceu ou que projeções públicas de ao menos dois veículos nacionais de notícias que fazem análises independentes o façam”.

Mas exemplos como o do anúncio recente da vitória do atual presidente americano mostram a fragilidade das decisões tomadas pelas redes sociais.  

Quando o online influencia a vida real

Não é só em relação a eleições globais que as redes sociais têm um papel de suma importância. Em meio à pandemia do novo coronavírus, diversos conteúdos falsos foram compartilhados, se tornando prejudiciais para a saúde das pessoas. Um estudo recente mostra que a quantidade deles causou o crescimento de um movimento antivacina que ultrapassou os limites da internet. 

A análise, feita com ajuda dos dados da Wellcome Global Monitor sobre 137 países e da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre 166 países, os pesquisadores concluíram que a taxa de vacinação mundial foi reduzida devido às publicações em redes sociais. A pesquisa mostra que o uso delas causam a impressão de que as vacinas não são seguras.   Quando apenas um ponto sobe na escala de desinformação usada pelo estudo, acontece uma queda de 2% na cobertura de imunizações ano a ano. 

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