Redatora
Publicado em 6 de novembro de 2025 às 05h20.
A Amazon enviou uma notificação extrajudicial à Perplexity AI exigindo que a startup de buscas baseada em inteligência artificial interrompa o uso do seu agente de navegador Comet para realizar compras em nome de usuários. A gigante do e-commerce acusa a Perplexity de violar seus termos de serviço e de introduzir riscos de privacidade ao operar sem informar claramente quando as compras são feitas por uma ferramenta automatizada.
Segundo informações da Bloomberg, a varejista argumenta que o Comet executa ações em seu site sem identificação adequada, o que configuraria fraude e prejudicaria a experiência de compra. A empresa também afirmou que o agente disfarçou sua atividade ao se identificar como um navegador comum, como o Google Chrome, para contornar bloqueios técnicos.
A Perplexity foi notificada em novembro de 2024 para suspender esse tipo de operação até que houvesse um acordo formal, o que teria sido inicialmente acatado — mas retomado neste ano com a nova versão do Comet.
Em resposta, a Perplexity publicou uma nota em seu blog acusando a Amazon de intimidar concorrentes menores. A startup afirmou que os usuários devem poder escolher qual agente de IA preferem usar para realizar compras online e classificou a ação como uma tentativa de limitar a inovação.
O CEO da Perplexity, Aravind Srinivas, declarou que os agentes de IA deveriam ter “os mesmos direitos e responsabilidades que um usuário humano” e que não cabe à Amazon restringir o uso dessas tecnologias. Ele também garantiu que o Comet não coleta dados nem treina modelos com informações da Amazon, executando apenas ações necessárias para concluir as compras solicitadas pelos usuários.
O impasse expõe um novo desafio regulatório e comercial sobre o uso de agentes inteligentes que executam tarefas online complexas, como compras e reservas. Além da Perplexity, empresas como OpenAI e Google também desenvolvem ferramentas semelhantes.
A companhia de Seattle lançou recentemente o recurso “Comprar para Mim”, que permite aos usuários adquirir produtos de outras marcas dentro do aplicativo, e o assistente virtual Rufus, capaz de navegar, recomendar e adicionar itens ao carrinho.
A Perplexity é avaliada em US$ 20 bilhões e busca expandir seu navegador inteligente com recursos automatizados, segundo a Bloomberg.
A disputa ocorre em meio a uma relação comercial próxima. A Perplexity é cliente da Amazon Web Services (AWS) e afirma ter investido centenas de milhões de dólares na infraestrutura de nuvem da companhia. A própria AWS já promoveu a startup em eventos corporativos, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos, é um de seus investidores.
No entanto, o conflito ganha relevância porque os agentes de compras podem afetar o negócio de publicidade da Amazon, que depende da venda de espaços patrocinados com base nas pesquisas dos consumidores. Se as compras passarem a ser feitas por bots, a receita publicitária da empresa pode ser impactada, de acordo com a Bloomberg.
Durante teleconferência de resultados na última semana, o CEO da Amazon, Andy Jassy, reconheceu que a experiência atual com agentes de compras de IA “ainda não é boa”, citando falhas de personalização e imprecisões em preços e prazos de entrega. Mesmo assim, afirmou que a empresa está aberta a parcerias com desenvolvedores de agentes terceirizados no futuro.