Tecnologia

Amazon, Apple, Facebook e Google negam monopólio em audiência nos EUA

Com um valor combinado de cerca de 5 trilhões de dólares, quatro gigantes de tecnologia tentam provar que não são tão poderosas assim

Big Techs: audiência nos Estados Unidos questionou monopólio das gigantes de tecnologia (Getty Images/Exame)

Big Techs: audiência nos Estados Unidos questionou monopólio das gigantes de tecnologia (Getty Images/Exame)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 29 de julho de 2020 às 17h50.

Última atualização em 7 de outubro de 2020 às 15h48.

Jeff Bezos, da Amazon, Mark Zuckerberg, do Facebook, Tim Cook da Apple, e Sundar Pichai, do Google, participaram de uma audiência nesta quarta-feira, 29, sobre práticas anticompetitivas por partes de suas empresas. Todos eles, no fim das contas, tentaram provar que, apesar de juntas as suas companhias terem um valor de mercado com cerca de 5 trilhões de dólares, nenhuma é um monopólio.

A investigação, segundo o presidente da Subcomissão Antitruste, David Cicilline, conseguiu unir mais de 1,3 milhão de documentos sobre as empresas.

Jeff Bezos, em uma parte de sua defesa, questionou "em quem os americanos confiam mais do que a Amazon para fazer a coisa certa?". "O mercado global de varejo no qual competimos é extremamente grande e extraordinariamente competitivo. A Amazon tem menos de 2% dos 25 trilhões de reais faturados pelo setor e menos de 4% do varejo nos EUA", afirmou Bezos. Para ele, existe muito espaço para outras varejistas.

Sobre o fato de a Amazon acessar dados das varejistas para pensar em novos produtos, Bezos disse que não pode afirmar que as políticas contrárias à atitude não foram ignoradas em algum momento. Em um dos momentos da audiência, que durou mais de duas horas, foram mostrados e-mails de que a companhia tentou minar o avanço da companhia diapers.com, mais tarde comprada pela companhia de Bezos. "Não me lembro disso, faz 11 anos. Mas nós seguimos com a empresa, a compramos, e queríamos manter o sucesso dela", respondeu ele.

Sobrou até para a Alexa na audiência. Um congressista afirmou que empresas acusaram a Amazon de deixar as assistentes virtuais muito mais baratas a fim de dominar o mercado --- tão baratas que, segundo o congressista, se torna impossível para que outras companhias façam o mesmo. Outra acusação é de que a assistente virtual já estaria enviesada para indicar os produtos da varejista. "Não sei se ela é programada dessa forma", afirmou Bezos.

Cook afirmou que "embora acreditemos que o iPhone é o melhor celular do ponto de vista de experiência do usuário, sabemos que não é a única opção dele" e também afirmou que a indústria de smartphones é extremamente competitiva e que companhias como "Samsung, LG, Huawei e Google tiveram muito sucesso na área oferecendo abordagens diferentes da Apple".

Em relação a acusação de monopólio nos apps da loja dos dispositivos iOS, Cook acredita que as medidas são uma "forma de aumentar a segurança dos dispositivos". Sobre as comissões de 30%, Cook afirma que desde 2008 o valor tem sido o mesmo.

Segundo o presidente da Apple, "não temos o domínio de nenhum dos mercados nos quais atuamos". Em relação aos smartphones, por exemplo, a maçã dominou apenas 14% do mercado mundial no primeiro trimestre, segundo a consultoria chinesa Counterpoint, uma queda de 4% em relação ao último trimestre de 2019.

Zuckerberg, por sua vez, afirmou que "por mais que entenda as leis americanas, as companhias acusadas não são ruins apenas por serem grandes". "Muitas empresas gigantes falham e deixam de existir. É por isso que estamos focados em construir e atualizar nossos produtos", defendeu-se.

Segundo o cofundador do Facebook, a rede social apaga conteúdos falsos sobre covid-19, mas "não proíbe discussões sobre drogas experimentais e experiências pessoais que elas tiveram sobre determinados assuntos". Para os congressistas, a rede social de Zuckerberg deve ser responsabilizada pelos conteúdos publicados, em especial em relação aos discursos de ódio.

Uma das outras acusações respondidas por Zuckerberg foi de que, quando o Facebook reparou que o Instagram era uma ameaça para a sua rede social, ele comprou o aplicativo de fotos. "Nós enxergávamos o Instagram como uma ameaça, mas também como um adicional para nossos serviços. Por isso compramos", explicou.

Para ele, a aquisição do Instagram foi feita da forma "correta" e obteve muito "sucesso" e que a história sobre a compra ter sido, supostamente, contrária às leis de Antitruste dos Estados Unidos, é "inconsistente".

Em relação às fake news no Facebook, Zuckerberg afirmou que esse tipo de conteúdo "faz mal para a empresa e para as pessoas" e que "está trabalhando para retirar esse conteúdo da rede social".

Sobre as companhias das quais o CEO teria "copiado conteúdos", Zuckerberg afirmou que apenas "adapta os serviços" e que não se lembra de ter ameaçado outras companhias antes de adquiri-las, como o Instagram.

Em uma das conversas que foram expostas no Congresso, o fundador do Instagram, Kevin Systrom, teria afirmado que Zuck disse que iria "destruir" o app se ele não fosse vendido.

Sobre o Snapchat, Zuckerberg disse que não se lembra de ter afirmado que "clonaria" o aplicativo caso não conseguisse comprá-lo --- e, apesar de ter feito uma oferta, não conseguiu.

Pichai negou que o Google prioriza seus produtos no momento das buscas. "Um mercado competitivo dá aos publicadores e anunciantes, e então também para os consumidores, diversas escolhas", afirmou.

Em relação às acusações sobre roubar informações de negócios pequenos para uso próprio, Pichai mudou rapidamente de assunto.

Nos Estados Unidos existe uma lei que proíbe que qualquer aplicativo colete dados de crianças abaixo de 13 anos e, segundo a investigação, documentos apontam que o YouTube foi responsável por coletar certos dados de crianças. Pichai negou e afirmou que "tudo o que fazemos está de acordo com as regulações".

Enquanto Cook e Pichai afirmaram que o governo chinês nunca roubou dados de suas empresas, Bezos fugiu da resposta e disse saber que casos do tipo acontecem, enquanto Zuckerberg foi categórico: "sabemos e temos documentos de que a China rouba a tecnologia americana", afirmou o fundador do Facebook.

Segundo Cicilline, as acusações em relação ao Google vão desde o roubo de dados do site de avaliação de restaurantes do Yelp, a ameaças de apagá-lo do sistema de buscas quando a empresa demonstrou pedidos para a retirada de conteúdo.

Um dos outros pontos discutidos por Cicline foi que o Google usa dados do Maps para monitorar de forma mais assertiva seus concorrentes. Pichai não comentou.

Por conta da pandemia do novo coronavírus, todos os depoimentos foram dados de forma remota. A audiência acontece justo na semana em que as empresas divulgam os balanços referentes ao segundo trimestre de 2020, o que significa que os investidores podem ficar mais cautelosos.

A Alphabet (controladora do Google), a Apple, o Facebook e a Amazon anunciam seus resultados amanhã, após o fechamento da bolsa.

Durante a pandemia do novo coronavírus, as ações dessas companhias dispararam com o aumento do uso de serviços digitais, mas só agora vai se saber quem aproveitou melhor as oportunidades abertas pela crise.

Qual a acusação de cada empresa?

Facebook: Zuckerberg é dono de gigantes como o WhatsApp, do Instagram, do Facebook, do Messenger... e isso pode significar um dominío pessoal na indústria das redes sociais. A acusação é que o CEO do Facebook tem usado de seu poder para neutralizar competidores --- como o Instagram, antes da aquisição, e o Snapchat.

Google: a empresa está sendo acusada por motivos bastante parecidos com o da Apple. As companhias, no entanto, acusam o serviço de pesquisas de se aproveitar da situação para indicar somente produtos próprios.

Apple: a fabricante do iPhone está sendo acusada por outras companhias de "abusar de seu controle" sobre a loja de aplicativos dos dispositivos iOS e adicionar regras extremamente burocráticas, além de cobrar eaté 30% dos lucros dos apps.

Amazon: em relação à varejista de Bezos, estão acontecendo investigações em relação a possíveis abusos da empresa em sua posição privilegiada, o que poderia levá-la a usar dados de vendedores para desenvolver seus próprios produtos, como fraldas e baterias.

Assista à audiência:

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