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Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2014 às 21h07.
Chicago - Os seres humanos não são os únicos com noção de ritmo: os macacos bonobos e os leões-marinhos também são capazes de marcar compassos, constituindo duas exceções no mundo animal que podem ajudar a entender melhor como o nosso sentido musical evoluiu ao longo da História.
"O fato de escutar, ou de sentir, um ritmo musical implica a participação de muitas áreas do cérebro, e essa capacidade complexa parece ser única no homem e em algumas outras espécies", explicou o professor adjunto de Psicologia Aniruddh Patel, da Universidade Tuft, em Boston, durante a conferência anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), realizada em Chicago (norte dos Estados Unidos) durante o fim de semana.
Patricia Gray, professora da Universidade da Carolina do Norte (sudeste dos EUA), relatou ter sido surpreendida por um bonobo há algo mais de uma década.
Ela batia mecanicamente na vitrine de um zoológico quando o macaco que estava do outro lado do vidro respondeu no ritmo, relatou durante coletiva de imprensa.
Intrigada, ela bateu mais rápido, e o bonobo a acompanhou, inclusive ficando de costas para também bater no vidro com os dedos do pé, após ganhar um doce.
"Pensei, então, que tínhamos de estudar mais de perto questões muito interessantes", prosseguiu a cientista, que continuou desde então trabalhando com os bonobos, animais com os quais os humanos compartilham 98,7% do DNA.
"Os bonobos são extremamente sensíveis aos sons", afirmou, explicando ter ensinado esses animais a marcar o compasso em uma bateria.
No ritmo dos Backstreet Boys
Desde que a descoberta foi feita, outras duas espécies de animais muito diferentes também revelaram uma surpreendente capacidade de sincronizar seus movimentos com o ritmo da música.
Tratam-se de cacatuas que dançam ao ritmo dos Backstreet Boys e de um lobo-marinho, cuja música favorita é "Boogie Wonderland", sucesso do grupo de funk Earth Wind and Fire.
"Todos os cientistas, inclusive eu, ficamos intrigados com a capacidade das cacatuas de dançar no ritmo e me dei conta de que ninguém tinha tentado jamais ver se um animal além do papagaio tinha a mesma faculdade", explicou o pesquisador Peter Cook, da Universidade da Califórnia, que descobriu o leão-marinho chamado Ronan.
"Diziam que ensinar um mamífero a acompanhar o ritmo da música devia ser difícil, mas Ronan parece ser um tipo ideal" para essa finalidade, acrescentou.
Assim, o pesquisador ensinou o leão-marinho a balançar a cabeça no ritmo dos sons musicais, e o animal também mostrou que conseguia sincronizar seus movimentos no ritmo de outros trechos de músicas que não tinha escutado antes.
"Dado o sucesso do leão-marinho para acompanhar novos ritmos após seu treinamento inicial, parece que não será muito difícil para ele", prosseguiu o pesquisador.
Esse exemplo, acrescentou, sugere que as capacidades musicais humanas poderiam ter origens compartilhadas com os animais.
"Os cientistas pensaram, durante muito tempo, que os animais eram desprovidos dessas capacidades, e os estudos feitos nestes últimos anos com novos métodos e espécies abrem novas perspectivas", avaliou Peter Cook.
Finalmente, Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução, poderia ter razão quando dizia que todas as criaturas são capazes de perceber e apreciar os ritmos musicais, uma capacidade que, segundo ele, é comum a todos os animais.
Mas os cães e outros animais não dançam, argumentou o professor de Psicologia, Edward Large, da Universidade de Connecticut.
Para ele, a chave do sentido musical está na forma como os circuitos cerebrais se coordenam, ao sincronizar os ritmos e como os ritmos próprios do cérebro se harmonizam com os da música.
"A capacidade de sincronizar os ritmos parece ser mais um mecanismo de evolução, utilizado de forma diferente, de acordo com as espécies e as circunstâncias", avaliou.