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“A privacidade não será mais gratuita”, diz executivo da F-Secure

Timo Laaksonen, VP da empresa finlandesa, acredita que usuários terão que cada vez mais abrir a carteira se quiser privacidade de verdade

privacidade (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de dezembro de 2014 às 14h59.

Das empresas de segurança atuantes hoje no mercado, a F-Secure é provavelmente a que mais gosta de dizer que suas soluções respeitam a privacidade dos usuários – muito por serem apoiadas pela legislação da Finlândia (PDF), seu país de origem. E após o escândalo de espionagem iniciado por Edward Snowden, a característica se tornou mais valorizada no mercado. Tanto que a companhia expandiu os negócios, e hoje não se limita mais a vender antivírus.

Agora com um pé no mercado de sistemas de armazenamento na nuvem, por exemplo, a F-Secure usa o mesmo argumento para competir com Dropbox, Onedrive e Google Drive. Vice-presidente da empresa e responsável por essa divisão do Younited, como é chamado o serviço, o finlandês Timo Laaksonen esteve recentemente no Brasil para falar do produto e de uma pesquisa sobre privacidade feita pela marca com 4 800 usuários de seis países.

Os resultados do estudo não são exatamente precisos, porque o público envolvido é relativamente pequeno e talvez tenha um pouco mais de interesse no tema. Mas ainda assim, os dados revelaram que, assim como os filipinos, a maioria dos entrevistados brasileiros está cada vez mais preocupada com a segurança de seus dados e com o monitoramento em massa. E não só por causa de agências governamentais: empresas que usam as informações para criar anúncios, por exemplo, também já não são mais tão populares entre as pessoas ouvidas.

Em conversa com INFO, Laaksonen falou um pouco mais sobre o estudo e também deu algumas opiniões interessantes sobre privacidade no mundo virtual. Para ele, ela nunca mais será gratuita – e usuários que quiserem ficar protegidos precisarão abrir um pouco as carteiras para adotar soluções de empresas interessadas em protegê-los. Confira a seguir.

Como foi feito o estudo de vocês? E o que motivou a pesquisa?

Fizemos o estudo online, envolvendo internautas de seis países: EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Filipinas, além do Brasil. A amostragem de cada um foi de 800 pessoas, e realizamos a pesquisa em julho. Estávamos tentando entender como as pessoas se comportam em relação à privacidade, e acreditamos que os resultados mostram uma tendência – pessoas “normais” estão ficando mais e mais preocupadas em relação a esse conceito. Elas estão começando a se perguntar onde devem conectar seus dispositivos, se podem confiar em alguma rede ou mesmo onde seus dados estão armazenados – algo que não prestavam atenção antes.

É claro que, quando fazemos perguntas racionais às pessoas, elas tendem a responder racionalmente. Então nem todas as porcentagens que conseguimos apontam necessariamente para o comportamento de verdade [além disso, há a questão da amostragem e do público que foi consultado]. Mas certamente elas servem como um indicador de que nem todo hoje toma a privacidade como garantida. Aqui no Brasil, esse assunto entrou mais em pauta depois que o escândalo de espionagem envolveu a presidente de vocês, da mesma forma que aconteceu com Angela Merkel, na Alemanha. Com líderes de Estado, isso acontece desde sempre e vai continuar acontecendo. Mas se eu sou uma pessoa normal, não vou querer que minhas ligações e meu tráfego na web sejam monitorados, porque isso é algo incrivelmente errado. Mas agora as câmeras estão olhando para nós. Coisas simples, como esta [aponta para o notebook, que tem a webcam bloqueada por um adesivo]. No nosso escritório em Helsinque ninguém mais deixa a câmera descoberta. Mas enfim, sujeitar pessoas normais à vigilância em massa e ainda armazenar seus dados por muito, muito tempo é algo que simplesmente não está certo.

Por mais que os dados venham de um determinado público, talvez mais interessado no tema, como o Brasil se compara com outros países?

Brasileiros e filipinos se destacam dos outros em uma área, especialmente: dois terços dos entrevistados de ambos os países disseram que mudaram seus hábitos devido à preocupação com a privacidade dos dados. Não sabemos de que forma eles mudaram, mas é certo que isso indica que algo está acontecendo. No Reino Unido e nos EUA, esse percentual cai para 45 e 47% respectivamente. Pouco menos de dois terços dos brasileiros também disseram ter ficado mais atentos em relação a serviços online baseados nos EUA, enquanto três quartos das pessoas daqui afirmaram estar preocupadas com a vigilância em massa ou com a ação de agências de segurança nos países em que seus dados estão guardados. Por fim, outro dado interessante: 59% dos entrevistados também disse não concordar com empresas que usam suas informações de perfis em troca de um serviço gratuito. Pergunto-me: então por que muitos ainda os utilizam? Isso não quer dizer que a porcentagem de uso desses serviços começará a cair? Eu mesmo gostaria de ver que tipo de comportamento se originará de afirmações fortes como estas.

Mas a F-Secure tem alguns serviços gratuitos, não? O próprio Younited, por exemplo.

Sim, damos uma quantia de serviços grátis, mas nunca em excesso. Se você quer privacidade no mundo virtual, é preciso abrir sua carteira. No nosso Younited, por exemplo, tudo fica criptografado – é enviado assim e fica dessa forma em nossos servidores. É nossa regra número 1, porque sabemos que o tráfego pelo mundo precisa encarar diferentes regras, e muito dele passa pelos EUA. Só escaneamos o que entra em nossos servidores para bloquear malware, porque serviços de nuvem são centrais magníficas de distribuição desse tipo de arquivo. Alguns criminosos já usaram o Dropbox para isso, por exemplo – se apoiaram em uma marca conhecida para distribuir vírus. Mas por que, afinal, colocamos algo como um sistema de armazenamento em nuvem no mercado? Simplesmente porque queremos gerar renda a partir das assinaturas que conseguimos, e sem anúncios. E qual a motivação dos outros “players” do mercado? Eles querem pôr as mãos em seus dados e ter você lá dentro para poder vender alguma outra coisa, escanear seu perfil e vender para algum anunciante... É um modelo de negócio obscuro, de certa forma. Mas é eficiente. Só que o modelo que seguimos é outro: queremos ser transparentes.

Existem, hoje, diversas soluções de código aberto que visam garantir a privacidade dos usuários – mesmo que de forma não exatamente prática. Mas você mencionou que, pelo menos atualmente, é preciso “abrir a carteira” para ter privacidade de verdade. Você acredita que algum dia ela será oferecida de graça?

Bem, eu acho que profetizar é uma das artes mais difíceis do mundo [risos]. O que eu ousaria dizer é que tudo o que vemos no mundo da tecnologia, internet e mobile hoje aponta quase totalmente para o contrário disso. Algumas empresas da área até começaram a aplicar algumas regras de privacidade, porque ficou óbvio demais e as pessoas fugiriam de alguns provedores caso eles não fizessem algo. Mas, ainda assim, está no núcleo de muitas companhias de internet que elas precisam conhecer seus usuários muito bem. Elas querem coletar dados, elas querem perfilar para monetizar. Por isso, acho difícil de acreditar que a privacidade se tornará um recurso gratuito, como é o ar que respiramos. Ainda assim, fica a dúvida: quão grande será o mercado de privacidade? Quer dizer, haverá um novo mercado voltado para produtos que focam nisso? Nós, pelo menos, acreditamos que sim. Então, posso dizer que também não acreditamos que a privacidade será gratuita – mas sim que o tal mercado existirá e será significativo, porque há muitas preocupações sobre em quem você pode ou não confiar. E é por isso que estamos trazendo ao mundo nossos serviços. Então não, acredito que a privacidade não será gratuita.

Tanto você quanto outros executivos da F-Secure deixam claro que a empresa precisa respeitar a privacidade por causa da legislação finlandesa. Mas e no caso de outras empresas? Como será possível confiar que os dados estão protegidos, em uma eventual ascensão de um mercado focado em privacidade?

A melhor coisa das empresas que operam na internet é que, se for para ganhar a confiança dos usuários, elas serão extremamente transparentes em relação aos princípios de privacidade. Em todos os produtos que compramos hoje, há uma lista de ingredientes. Algumas pessoas leem tudo que está ali para saber se há algo artificial, por exemplo. Outras apenas comem o iogurte sem nem pensar. Acredito que o mesmo vai acontecer na internet. Provedores de serviços, por padrão, serão mais claros quanto aos princípios de privacidade, gerenciamento de dados e operação. Alguns usuários lerão, enquanto outros, eventualmente, não. Mas as informações precisarão estar ali. Porque se a empresa não as publicar, terá poucas chances de ganhar o coração dos usuários mais preocupados e entendidos – que ainda não são comuns, porque isso é algo que levará certo tempo.

Mesmo que muitas empresas adotem essa transparência já hoje, com seus termos de uso e políticas de privacidade, há muitas que não seguem nem conceitos básicos de segurança direito – ainda há sites que aceitam senhas simples, como “1234568”. Você acha que a internet e a preocupação crescente de usuário farão esse cenário mudar?

Para mim, o grande benefício de mercados abertos é que a competição faz com que você faça coisas que provavelmente nunca teria feito. As pessoas vão começar a optar pelos melhores serviços em termos de segurança e privacidade, os que seguem os melhores princípios. Além disso, falando de melhores práticas, vemos que determinados tipos de design de páginas logo começam a ficar populares graças a aplicações bem-sucedidas. Então se alguém começar a aplicar um indicador de senhas que diga que determinadas combinações são fracas, e esse sistema for bem-sucedido, logo outros sites começarão a notar e a emular o que os outros estão fazendo. Então acho que o mercado aberto, que é aquele em que estamos operando, vai forçar as empresas de internet a ir nesta direção. Não tanto por causa de uma legislação, mas sim pelas boas práticas e pela pressão do mercado.

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