Fábio Neves: "Queremos levar o mundo digital para uma indústria majoritariamente analógica", diz o presidente da Epson no brasil (Epson/Divulgação)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 10h02.
Última atualização em 4 de fevereiro de 2020 às 11h09.
São Paulo - A Epson inaugurou nesta terça-feira (4) um espaço chamado de Centro de Soluções. Com 200 m² e equipado com impressoras digitais que trabalham com a estamparia de diferentes tipos de tecidos, o local fica na própria sede da empresa, em Barueri, e serve como uma espécie de showroom para os efeitos da transformação digital na indústria têxtil.
Com capacidade de produção mensal de 200 mil m² de tecido estampado e 20 mil camisetas, o espaço foi idealizado durante pouco mais de um ano e é uma iniciativa que nasceu e foi executada em solo brasileiro. "A Epson sabe do tamanho e da importância do mercado têxtil no Brasil", diz Fábio Neves, presidente da Epson no Brasil em entrevista exclusiva para EXAME. “O objetivo é acelerar a transição do mercado para o digital."
Os equipamentos instalados no complexo na Grande São Paulo são voltados para empresas de diferentes portes. Há desde modelos que podem ser instaladas em lojas de grifes como Calvin Klein, Riachuelo e Hering, até maquinário industrial que requer o investimento de algumas centenas de milhares de dólares. A companhia não revela números específicos, mas estima crescimento de 30% na área em 2020.
Até 2022, o Brasil deve investir 345,5 bilhões de reais em práticas de transformação digital para o setor corporativo. Os dados da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) deixam claro: o analógico cansou. E não seria diferente em um segmento que movimentou 406 bilhões de dólares no mundo em 2019, segundo o site Fashion United. "É um mercado antigo, gigante e baseado em uma tecnologia analógica", afirma Neves.
Atualmente, apenas 8% dos tecidos consumidos no vestuário da indústria brasileira utilizam de técnicas de estamparia digital. Segundo a Epson, que revelou esse dado, a prática pode ainda reduzir o número de funcionários de uma operação semelhante a montada em sua sede de 20 para apenas quatro. Por fim, há a questão da sustentabilidade. Em alguns casos, a economia de água pode ser de até 90% com o equipamento mais moderno.
Deixar o papel um pouco de lado para imprimir em tecido não é uma ideia nova nas corredores da Epson. Em 2016, a empresa japonesa, através de sua operação italiana, intensificou seus esforços na área. A companhia adquiriu o negócio da Fratelli Robustelli. Fundada em 1972, a empresa italiana tinha uma operação compacta com pouco mais de duas dezenas de funcionários. O faturamento girava em 12 milhões de euros.
A aquisição permitiu à companhia explorar a impressoras que se tornou a queridinha da Epson. Chamada de Monna Lisa e desenvolvida desde 2003 entre a empresa e a própria Epson, ela é equipada com 16 cabeçotes de impressão e permite a impressão de estampas diretamente em qualquer tipo de tecido, desde algodão até seda.
Além de expor novos produtos – alguns que ainda não têm nem mesmo seus nomes revelados e só serão lançados no segundo semestre do ano –, essa também é uma tentativa fortalecimento da marca como um todo.
Em números globais, a Epson vem tentando aumentar seu marketshare contra suas rivais. Até junho de 2019, conforme dados da consultoria Statista, a companhia tinha 10,7% de participação no mercado de impressoras. Estava atrás de Brother (11,5%), Canon (20,2%) e HP (26,6%). Vale destacar: o percentual da Epson era menor do que 5,5% em 2017.
Com capital aberto na bolsa de valores de Tóquio, a companhia está avaliada em 5,3 bilhões de dólares. Não é lá um grande número para os acionistas. Em janeiro de 2018, a empresa estava avaliada em quase 9 bilhões de dólares.
A receita também vem caindo. Entre abril e dezembro de 2019, o faturamento foi de cerca de 7,3 bilhões de dólares. No mesmo período de 2018, a companhia movimentou 7,6 bilhões de dólares. Queda, portanto, de 4,1%.