Repórter
Publicado em 23 de julho de 2023 às 16h35.
Última atualização em 25 de julho de 2023 às 07h42.
Bicicletas elétricas ainda não são um grande negócio no Brasil. Regulamentadas no começo do mês de junho, o modal de transporte urbano teve 44 mil unidades produzidas e importadas para o país em 2022 e só recentemente começou a dar sinais de crescimento na demanda.
Mas em economias mais eletrificadas, o setor vai relativamente bem. E, apesar dos carros elétricos estarem na moda, em 2021, as e-bikes superaram em muito as vendas deles nos EUA e quase igualaram os veículos a bateria na Inglaterra.
Foi com esse cenário positivo que a holandesa VanMoof, de bicicletas elétricas, arrecadou US$ 128 milhões entre 2020 e 2021, à medida que mais pessoas se voltaram para o ciclismo durante e depois da pandemia.
A empresa chegou a dizer que era a startup mais financiada daquele período.
Com o caixa cheio, a bike da VanMoof era oferecida na venda direta ao consumidor, carregada de software e sensores, montada a partir de muitas peças personalizadas.
O visual era o mais minimalista possível, com a geometria dos quadros inspirados nas fixed gears, as bikes de catraca fixa preferidas dos hipsters. Seu sucesso foi tanto, que impulsionou uma concorrente de produtos muito parecidos, a Cowboy.
Contudo, no dia 18 de junho, a VanMoof foi repentinamente decretada falida. A empresa publicou um documento de suporte descrevendo a situação atual para clientes e fornecedores/credores. A via sacra para clientes que buscarem reembolso de uma compra feita e não entregue é a de sempre para uma empresa que quebrou: entrar com uma ação no processo de falência.
A vida curta do negócio é explicada pela aposta alta em tecnologia de ponta, produtos com uma série de erros de projeto e preços abaixo do custo para ganhar mercado.
Junto disso, a VanMoof, assim como outras fabricantes de transporte elétrico, enfrentava um desafio que ainda está em fase de compreensão: baterias que pegam fogo.
Para se ter uma ideia, em Nova York, houve mais de 100 incêndios em baterias de íon-lítio este ano, entre bicicletas e patinetes, matando 13 pessoas. Em Londres, 1 pessoa morreu, e mais de 200 bicicletas pegaram fogo em 2022.
Esses números são sintomas que logo devem chegar ao mercado do Brasil. Quando um incêndio de bicicleta começa, como qualquer outro incêndio de bateria de íon de lítio, pode ser difícil de prever seu início e controlar as chamas.
Alimentados por um processo conhecido como fuga térmica, podem expelir fumaça tóxica e geralmente requerem grandes quantidades de água para serem extintas. Mesmo quando controlados, as baterias podem reacender dias ou até semanas depois, devido a energia que permanece presa dentro das células danificadas da bateria.
Na rotina dos brasileiros, a bike elétrica logo deve ganhar espaço. A TemBici, a principal empresa de aluguel de bicicletas, spinoff do Itaú, anunciou que aumentará em 220% sua frota de bicicletas elétricas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, passando a ter 2 mil modais elétricos disponíveis em cada cidade até o fim de 2023.
Não há um levantamento preciso sobre incêndios de e-bikes por aqui, mas conforme o modal caia nas graças do consumidor, há o risco desse mercado superaquecer por aqui também.