Tecnologia

A bolha da vez

São Paulo é o Vale do Silício da gestão do conhecimento

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h32.

Se gestão do conhecimento é a bolha da vez, São Paulo é o seu "Vale do Silício". Dos 400 associados da SBGC -- sim, já existe uma Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento --, 110 são paulistanos. Aqui estão as mais confiáveis publicações sobre o tema, seus grandes especialistas e seus mais entusiasmados militantes. Ótimos para aprender e ficar por dentro do assunto, os congressos, os seminários, as exposições e os encontros também constituem um verdadeiro balcão de negócios. Isso é bom, pois está transformando São Paulo no maior e mais efervescente pólo de gestão do conhecimento do país. Só em setembro foram realizados no estado três congressos de peso, entre eles o KMBrasil, que teve cerca de 120 palestras relevantes e uma feira de softwares.

É preciso, no entanto, ter cuidado com os eventos caça-níqueis. Como a expressão "gestão do conhecimento" adquiriu um enorme poder de marketing, ela vem motivando eventos menores, absurdamente caros e de consistência temática duvidosa. Para saber o que vale a pena ou não, é bom entender o que é, afinal, gestão do conhecimento. Há mais de 2 000 anos -- como notam José Cláudio Cyrineu Terra e Cindy Cordon no ótimo livro Portais Corporativos --, Platão e Aristóteles observaram que as boas idéias e o poder derivam do conhecimento. Já o implacável senso comum está sempre nos alertando para o fato de que não basta ter inteligência: é preciso saber o que fazer com ela. São esses, no fundo, os dois pontos cruciais que norteiam a questão da gestão do conhecimento, que surgiu como uma disciplina corporativa e se transformou num mercado tão formidável quanto desafiador. Formidável porque, além de já estar criando novos negócios e movimentando milhões de dólares, começa a abrir uma infinidade de novas carreiras e perspectivas profissionais. Desafiador porque a gestão do conhecimento depende demasiadamente da tecnologia da informação, e isso, sabemos, requer muita capacidade de investimento.

Mais do que ter capacidade de investir, as organizações precisam saber fazer as escolhas tecnológicas certas. Como a gestão do conhecimento virou a bolha da vez, os oportunistas de plantão estão ávidos por oferecer um sistema digital "milagroso" capaz de "incrementar" ou "turbinar" os mecanismos de coleta, armazenamento e distribuição do conhecimento. Mas não existem soluções genéricas para a implantação de gestão do conhecimento numa empresa: as boas soluções são as atreladas à cultura da organização.

As vítimas desse tipo de oportunismo tendem a ser justamente as organizações que cometem um erro comum: acreditar que a tecnologia seja capaz de substituir o conhecimento. São companhias que não compreendem que o conhecimento que conta -- aquele de que falavam Aristóteles e, mais recentemente, o guru Peter Senge -- não é o que está nas máquinas, nos manuais ou nos produtos de uma empresa. A gestão do conhecimento está intrinsecamente ligada ao conceito de capital humano: deve ser vista como um instrumento que possibilite identificar, mapear, medir, gerenciar e, principalmente, socializar esses ativos intangíveis (talento, criatividade, intuição, capacidade de análise e contextualização) que existem na cabeça das pessoas. É esse conhecimento que gera riquezas. É esse conhecimento que as empresas devem se esforçar para reter e compartilhar.

A boa notícia é que, quando bem estruturado, um sistema de gestão de conhecimento pode, sim, arrancar das boas cabeças o que elas têm de melhor.

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