Tecnologia

A Apple contra todos: Epic Games, Spotify, Microsoft, Google e Facebook

As empresas acusam a Apple de monopolizar a sua loja de aplicativos

Apple: a fabricante do iPhone cobra comissão de 30% de desenvolvedores que vendem apps na loja da empresa (VCG / Colaborador/Getty Images)

Apple: a fabricante do iPhone cobra comissão de 30% de desenvolvedores que vendem apps na loja da empresa (VCG / Colaborador/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 10h47.

Última atualização em 16 de setembro de 2020 às 18h49.

As brigas da Apple com outras gigantes de tecnologia parecem não ter fim. Na última terça-feira, 15, a disputa que já estava quente com a Epic Games apagou em incêndio, quando a empresa americana afirmou que a fama do principal aplicativo da desenvolvedora, o Fortnite, já estava "em queda" e que eles precisavam iniciar uma batalha judicial para "se tornarem mais famosos". Como se não bastasse esse embate, um outro vem sendo traçado entre a Apple, a Microsoft, o Google e o Facebook --- que acusam a maçã de monopolizar a sua loja de aplicativos e permitir que apenas os seus próprios sejam aproveitados pelos usuários de iPhones e iPads. Mas quem perde mais com essa discussão?

A resposta não é exata. Ter seus aplicativos na App Store é uma grande jogada, pensando que a Apple é a segunda maior fabricante de celulares no mundo, com 25,15% do mercado global, atrás apenas da Samsung, que tem 31,04%, segundo a companhia irlandesa StatCounter. Fato é que, para os desenvolvedores, o preço para estar no radar da Apple é alto --- e às vezes pode não valer a pena (é dai que vem a briga com a Epic Games). Isso porque a Apple cobra uma comissão de 30% sobre qualquer transação que acontece nos apps disponíveis em sua loja de aplicativos. "A ideia da Apple é ter um sistema de pagamentos fortes. Para se adequar a política de dados atuais, é importante colocar formas de associar um usuário do Fortnite, por exemplo, a uma conta da Apple. Essa associação cria, a quem vende o jogo, um potencial para entender o cliente fora do jogo", explica Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto Tecnologia Social (ITS).

A batalha com a Epic Games estourou no mês passado, e o jogo "Fortnite", como resposta, lançou uma campanha contra a Apple chamada #FreeFortnite (#LiberteOFortnite, em português), na qual dava presentes anti-Apple para seus jogadores. O fato de a Epic não estar mais presente na App Store significa que os jogos não podem mais ser vendidos para cerca de 1 bilhão de usuários de iPhones, iPads e Macs. Dor de cotovelo ou medo de perder receita?

Segundo o site americano Business Insider, a Apple afirmou que "o interesse no aplicativo tinha caído em 70% em julho deste ano se comparado a outubro de 2019". "Esse processo parece ser parte de uma campanha de marketing feita para aumentar o interesse no Fortnite", afirmou a companhia --- jogando ainda mais lenha na fogueira.

Em uma auditoria realizada no congresso americano em julho, quando perguntado sobre a relação a acusação de monopólio nos apps da loja dos dispositivos iOS, o presidente da empresa, Tim Cook, afirmou que as medidas são uma “forma de aumentar a segurança dos dispositivos”. Sobre as comissões de 30%, Cook afirma que desde 2008 o valor tem sido o mesmo. "São portanto dois pontos centrais: o bloqueio de um app, o Fortnite, e de um motor de games (a conta de desenvolvimento). O app tem receitas, e as receitas tem 30% abocanhado pela apple. Dessa forma, o motor é usado por diversas empresas, e bloqueá-lo pode tirar outros players do mercado", continua Steibel.

Mas outras empresas têm reclamado da atitude da gigante americana.

Apesar de permitir o aplicativo da Amazon, é impossível comprar livros para o Kindle em iPhones, por exemplo, uma vez que a companhia criada por Steve Jobs tem seu próprio serviço de compra de livros, o Apple Books.

É também possível instalar o aplicativo do Google Play Filmes, ver a biblioteca se o usuário já tiver comprado filmes, mas não adquirir novas produções nos dispositivos Apple, visto que ela tem seu próprio serviço de compra de filmes e outros podem ser adquiridos no streaming Apple TV+.

É daí que vem a queixa da Microsoft e do Google. Ambas as empresas alegam que as regras da maçã restringiram o que seus aplicativos de jogos podem fazer no iOS. Por exemplo, o serviço da Microsoft xCloud não está disponível no sistema operacional e o aplicativo de games do Facebook… simplesmente não tem games.

A Apple afirma que os aplicativos de streaming de games do tipo são permitidos em sua loja de aplicativos, mas com algumas condições: os jogos nos serviços da Microsoft e no do Google precisam ser baixados individualmente, e não diretamente dentro de apenas um aplicativo.Steibel acredita que essas brigas e discussões tendem a escalar em um futuro próximo. "Só vai aumentar. Na China vemos brigas como essas a todo tempo, e o que estamos vendo é uma discussão séria, internacional, sobre concentração de mercado similar ao que vimos quando o mercado finaceiro surge, e é regulado", explica.

Os serviços de streaming de games do Google, o Stadia, no entanto, quer agir como uma plataforma para desenvolvedores e jogadores, sendo responsáveis individualmente pela decisão de quais games farão ou não parte de suas plataformas, mas a Apple quer ter um controle sobre quais jogos serão colocados, analisando cada um deles individualmente. O que quer dizer que, se um serviço destreamingde games tem 100 jogos, cada um deles será analisado e listado individualmente pela Apple — o que pode aumentar expressivamente o valor que a marca de Steve Jobs pode faturar em cima de cada um deles, uma vez que, como já foi citado anteriormente, a companhia recebe cerca de 30% dos lucros dos apps publicados em sua loja.

Agora a Apple pisou também no calo do aplicativo sueco de streaming de música, o Spotify, com o lançamento de seu pacote de assinaturas, o Apple One. Segundo o Spotify, o pacote de serviços aumenta ainda mais o monopólio da Apple. "Mais uma vez, a Apple está usando a sua posição dominante e práticas injustas para tirar vantagem de seus consumidores e privando seus clientes ao favorecer apenas seus próprios serviços. Nos queremos que as autoridades tomem uma ação urgente para restringir o comportamento anti-competitivo da Apple, que, caso não seja checado, irá causar um prejuízo irreparável na comunidade de desenvolvedores e ameaçar a nossa liberdade de ouvir, aprender, criar e nos conectar", disse a empresa em um comunicado enviado à imprensa americana.

A Apple Music, serviço de streaming da companhia, passou dos 60 milhões de assinantes em junho deste ano, enquanto o Spotify tem mais de 138 milhões de inscritos. Mas o temor é claro, uma vez que as ações da companhia caíram em até 7% um dia depois do pacote da Apple.

Para Steibel, nenhuma das empresas pode sair como vencedor desse jogo de xadrez --- exceto a Apple, que parece ter dado um xeque-mate. "A Apple está puxando para aumentar seu domínio em outros mercados, que não o seu. Não foi ela quem puxou a briga, mas sim quem discordou do processo. E nessa briga muitos podem perder, porque atrai o tema do monopólio de mercados para o debate", afirma.

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