Sergio All: fundador da Conta Black, fintech chamada de "Nubank da favela" (Germano Lüders/Exame)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 28 de fevereiro de 2021 às 07h00.
Sergio All viveu na pele – escura – o problema que quer solucionar: a falta de crédito para pessoas periféricas e o preconceito racial. Em 2016, quando decidiu buscar um empréstimo num tradicional em que era correntista há 10 anos, teve seu pedido negado sem qualquer justificativa. Tinha nome limpo, bom score e um plano factível. De lá para cá, o empresário deu início à Conta Black, banco digital focado em clientes de classes C, D e E.
Com 12 000 clientes (e outros 9 000 pré-aprovados), a Conta Black quer ser amais do que apenas outro banco digital. “Queremos ser o banco das comunidades, das favelas”, diz All. Para conseguir fazer isso, o foco está na corrida pelos “sem banco”.
Antes da pandemia, mais de 45 milhões de brasileiros não tinha conta em qualquer instituição financeira – seja ela tradicional ou uma fintech. Um estudo da Americas Market Intelligence em parceria com a Mastercard aponta que o número de desbancarizados caiu 73% no país no último ano pelos efeitos da quarentena e pela chegada do PIX.
Ao longo dos anos, a fintech ganhou o apelido de “a Nubank da favela”, em referência ao banco digital do cartão roxo. Em alguns detalhes, a história de All e do colombiano David Vélez, fundador da Nubank, é semelhante. Vélez também decidiu abrir seu próprio banco após problemas com instituições brasileiras.
Mas, ao contrário do Nubank, que já captou mais de 1,5 bilhão de dólares e já tem valor de mercado superior a 18 bilhões de dólares – mais do que o Banco do Brasil –, a Conta Black ainda tem um longo caminho para trilhar. E a estratégia é semelhante a utilizada por sua rival roxa: facilitar e diversificar.
A companhia quer permitir que as transações da Conta Black sejam feitas sem a necessidade de um smartphone munido com o aplicativo – o que vai ajudar quem não possui um aparelho. Há ainda um plano para criar um fundo de fomento ao empreendedorismo com a criação de uma carteira própria de crédito.
A fintech também vai entrar na guerra das maquininhas com um terminal que já é apelidado de Black Pay. Para tirar os planos do papel, a Conta Black já está em conversas com quatro fundos de investimento e deve levantar capital ainda em 2021.
Se conseguir fazer isso, deve também acelerar outro plano: a expansão internacional. “A nossa entrada da França deve ocorrer o quanto antes”, diz All, que ainda cita uma possível entrada em países como Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Angola, Nigéria e Moçambique.