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50 anos depois de Apollo 1, quão perigoso é ser astronauta?

O acidente espacial que abriu caminho para a chegada do homem à Lua tornou a ida ao espaço mais segura - mas não muito

Espaçonave Apollo ONe da Nasa (Nasa/Divulgação)

Espaçonave Apollo ONe da Nasa (Nasa/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 28 de janeiro de 2017 às 12h13.

Última atualização em 30 de janeiro de 2017 às 09h23.

Em 25 segundos, o sonho de chegar à Lua foi para o espaço. Pelo menos foi o que qualquer um na Nasa pensou há 50 anos, em 27 de janeiro de 1967.

Há semanas do primeiro lançamento do programa Apollo, que ia dar uma voltinha na órbita terrestre antes de se aventurar na missão lunar, um teste simples, bobo até, foi interrompido por um incêndio que, em menos de meio minuto, atingiu 537º C e matou três dos mais bem preparados astronautas da época.

O acidente que agora faz aniversário chocou a agência espacial e adiou em mais de um ano a partida definitiva para a Lua. A NASA precisou rever procedimentos de segurança, materiais, equipamento elétrico e até composição do ar. Apollo 1 serviu, ao menos, para tornar a viagem espacial mais segura – mas não muito.

Um estudo da Universidade do Texas analisou a taxa de mortalidade dos astronautas desde os anos 80 e concluiu que um astronauta da Nasa tem 6 vezes mais chance de morrer em um acidente do que a população americana em geral. Já foi pior: a chance chegou a ser 10,2 vezes maior no período de 1980 a 1989, época do acidente com o Challenger, que matou 7 pessoas.

O acidente da Missão Gambiarra

Se hoje em dia ainda é perigoso se aventurar planeta afora, imagine quando sua equipe não sabe exatamente o que está fazendo. Em plena corrida espacial, o presidente americano Jack Kennedy prometeu a chegada à Lua em tempo recorde – e a Nasa teve que cumprir o prometido na base da gambiarra. O resultado foi uma espaçonave cheia de pequenos erros – e os astronautas sabiam disso, a ponto de tirar essa foto irônica aqui embaixo:

nasa apollo one Gus Grissom (no meio) Ed White (esquerda), Roger Chaffee (direita)

- (Nasa/Divulgação)

O sistema de comunicação vivia falhando, a fiação elétrica não estava 100%, mas os testes seguiram, com a equipe dos três astronautas mais maduros e confiantes da agência. Gus Grissom era famoso por ter o melhor preparo físico de toda a Nasa e foi o segundo americano a ir ao espaço.

Ed White , outro veterano, foi o primeiro a andar no espaço. O único novato no espaço era Roger Chaffee, que aparece rezando à direita, em frente da miniatura do módulo em que ocorreu o acidente..

Eles faziam um teste de rotina, simulando a contagem regressiva para a decolagem. Tudo no chão, dentro de um galpão no Cabo Canaveral, nenhuma expectativa de perigo. Aí a comunicação falhou. Só voltou quando a tripulação anunciou que tinha fogo na cabine.

Os três experientes astronautas se prepararam para apagá-lo… Mas aí tudo saiu diferente de como a Nasa programou.

Para ter propulsão para chegar à Lua, a nave precisava de pouco peso. A atmosfera dentro da cabine era um problema: a mistura recomendada de nitrogênio com oxigênio era pesada demais. A Nasa decidiu ir com uma atmosfera de oxigênio puro. E isso mudou tudo.

A falha elétrica que iniciou a pequena chama no módulo seria controlável em condições normais de ar. O problema é que ela foi perto de vários materiais inflamáveis – Velcro foi um dos mais importantes, e estava por todo lado. Tinha combustível.

Faltava o comburente, o acelerador da chama. E oxigênio é um comburente dos melhores. O fogo cresceu e dominou a cabine. A escotilha levava 90 segundos só para ser aberta. Com a fumaça, os astronautas apagaram. Terminava a primeira tentativa do Programa Apollo.

O legado

Felizmente, a história do Apollo 1 não acaba aí. A herança do acidente foram procedimentos de segurança muito melhores e um breque na pressa da corrida para a Lua.

Depois de vinte meses de pausa, as espaçonaves começaram a mudar. Materiais combustíveis foram removidos e os que sobraram foram colocados bem longe da fiação elétrica, que recebeu proteção especial contra o fogo.

As escotilhas também mudaram para sempre: passaram a abrir para fora, como nas naves atuais, para facilitar a passagem. O procedimento de abertura também foi simplificado para acelerar a evacuação em caso de emergência

A teimosia com a atmosfera de oxigênio puro ainda durou um pouco, mas melhorou. Os engenheiros da Nasa passaram a utilizar o padrão de uma mistura de nitrogênio com 34% de oxigênio, pelo menos nas decolagens, quando o risco de incêndio era maior.

Se o legado foi positivo para os astronautas do futuro, não foi tanto para a família dos membros do Apollo 1. Isso porque o acidente foi abafado ao máximo para evitar que o pânico geral impedisse a continuidade das missões à Lua.

Anos depois, outros acidentes como o Challenger e o Columbia (de 2003) receberam homenagens solenes no Cabo Canaveral, enquanto o Apollo 1 foi relegado ao silêncio.

Mas isso também parece estar mudando: a primeira exposição em memória dos pilotos foi lançada para o aniversário de 50 anos do acidente no Centro Espacial Kennedy, mostrando o que restou do acidente que mudou o design de espaçonaves para sempre.

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