Tecnologia

3G: o tormento das operadoras fixas e a cabo

Chegada do mini-modem 3G desperta interesse em internautas que querem acesso a qualquer hora e lugar e já obriga operadoras tradicionais a repensarem seus negócios com internet fixa.

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h35.

Para as operadoras de telefonia móvel, a chegada da tecnologia de terceira geração representou boa oportunidade para conquistar novos usuários, ávidos em ter alta velocidade de acesso a dados, navegação na internet e a tão esperada TV no celular. Tanto é que essas empresas desembolsaram nada menos do que 5,3 bilhões de reais nos leilões de freqüência, uma verdadeira corrida do ouro realizada no fim do ano passado. Mas se por um lado essas oportunidades esquentaram o mercado móvel de comunicações, por outro, começam a ameaçar os negócios de outras empresas do ramo, centradas na oferta de banda larga tradicional (ADSL) e de internet via cabo.

"As operadoras fixas, que haviam encontrado uma alternativa de receita na banda larga para compensar a perda de faturamento com voz - especialmente depois da chegada da voz sobre IP - são ameaçadas com a banda larga móvel e vão precisar se reinventar", diz Guilherme Ieno Costa, especialista em telecom do escritório Felsberg e Associados.

A tese é que os novos usuários que estão dispostos neste momento a investir em internet em banda larga já deverão considerar diretamente a opção móvel, oferecida pelos mini-modems 3G. A conexão móvel sai ganhando justamente pela versatilidade. "Se alguém está disposto a gastar com banda larga, por que não investir em algo que pode ser acessado de qualquer lugar?", comenta. Além disso, o crescimento das vendas de notebooks - só em 2007 foram 664 mil máquinas vendidas, crescimento de mais de 160% sobre o ano anterior - também favorece a preferência pela internet móvel.

Na avaliação de Costa, a banda larga móvel terá ainda o papel de atender a demanda reprimida que existe nas regiões aonde a banda larga não chega. Segundo estimativas do governo federal, são 3.570 municípios que hoje não sabem o que é internet em alta velocidade. Assim, o terminal móvel será um grande agente massificador da rede. 

A percepção de quem está do outro lado do balcão sobre o impacto do 3G nos negócios, porém, é diferente. A NET não acredita que a internet 3G ameace seu serviço de internet a cabo, o Virtua. "A estrutura do cabo serve à família, tanto com a TV quanto com a internet. A 3G é individual e será usada por quem quer conectividade fora de casa", diz Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços da empresa. A empresa tem hoje 1,6 milhão de usuários de banda larga e 2,6 milhões em TV por assinatura.

A Telefônica também minimiza o impacto. Segundo Marcio Fabbris, diretor de clientes residenciais, o Speedy - modelo ADSL - é capaz de sustentar sua participação por não limitar downloads e não ter restrições à troca de arquivos entre internautas, no modelo chamado de peer-to-peer (P2P).

Dupla vantagem

Nessa disputa entre fixas e móveis por captar ou manter sua base de usuários, uma operadora em especial parece não estar muito abalada com as movimentações: a Brasil Telecom. A explicação está no modelo de negócios que a empresa adotou. Além de prestadora de serviços de banda larga ADSL, passou a oferecer também internet 3G por sua rede móvel em dez capitais. A operadora pretende estimular o usuário que já tem um plano ADSL a utilizar a banda larga tradicional quando estiver em seu ponto fixo de conexão e a adotar o 3G quando tiver necessidade de mobilidade. Isso alivia o tráfego de dados em sua rede celular, alega Roberto Rittes, diretor de operação móvel e desenvolvimento de negócios.

"A operadora busca suprir a necessidade do cliente, mas o modelo precisa ser racional e econômico para si", diz.

A estratégia parece especialmente interessante em um momento em que as operadoras estão travando enfrentando problemas significativos com a infra-estrutura de suas redes. A tecnologia 3G demanda mais capacidade para trafegar grandes volumes de dados, vídeos, fotos e a infra-estrutura das operadoras não estava totalmente preparada na ocasião do lançamento dos serviços. Oresultado disso foram os gargalos.

A conexão à internet sem fio é composta por três partes principais. A primeira é a comunicação com sinal que vem da antena celular. A segunda é a interface entre a central que reconhece o pedido de conexão e o backbone de internet, os "dutos" por onde trafega a rede. O terceiro passo é a conexão ao site. O procedimento é feito em questão de segundos e o usuário só percebe, obviamente, quando há falha em um dos três. No caso da tecnologia 3G, o gargalo está no segundo passo. O backbone da maioria das operadoras ainda não foi totalmente dimensionado para suportar o volume de tráfego de dados.

"A estrutura com capacidade para trafegar a voz com folga, passou a ser divida com muitas requisições para os pesados dados", assinala Rogério Loripe, vice-presidente de redes da Ericsson. O resultado é velocidade baixa de navegação - a tecnologia 3G pode chegar a picos teóricos de velocidade de até 7,2 Mbps com os equipamentos atuais, mas ainda assim trata-se de uma velocidade teórica, já que o número de internautas conectados simultaneamente faz com que essa taxa caia gradualmente. Os gargalos têm feito com que essa taxa caia para níveis abaixo de 56 Kpbs (kilobits por segundo), ou seja, conexão mais lenta do que a internet discada.

A Claro, uma das mais agressivas nas propagandas sobre 3G e mini-modem, também tem sido o principal alvo das reclamações dos usuários, que se queixam principalmente da velocidade baixa de conexão. João Cox, presidente da operadora, reconhece que a demanda pelo equipamento superou as expectativas e fala em ajustes. "As vendas superaram as expectativas do pessoal de marketing e engenharia. Mas estamos entendendo como a rede se comporta e o perfil de uso também, para poder ajustar tudo isso", diz.

A TIM também confirma que as vendas dos mini-modems ultrapassaram e muito as previsões. A operadora não fala em números, mas afirma que vendeu em um mês a quantidade de equipamentos prevista para três meses. Para suportar a demanda e expandir a capacidade da rede, desembolsou 152,6 milhões de reais no primeiro trimestre desse ano, 56% do total investido no período.

A Vivo, que anunciou o serviço de banda larga no celular em 20044, afirma que aprendeu com o tempo e que investimentos e ajustes na rede fizeram a diferença para dar uma boa impressão ao usuário. A operadora diz ter investido quase 5 bilhões de reais ao longo dos últimos anos para oferecer a estabilidade necessária ao modelo. Hoje, a operadora registra cerca de 300 mil downloads por mês.

A consultoria ABI Research estima que até 2013 serão vendidos cerca de 200 milhões de modems 3G. A Ásia deve ser o principal impulsionador, mas a América Latina também tem grande potencial. Para abocanhar uma parte desse potencial, é inevitável que as operadoras fiquem cada vez mais agressivas em tipos de planos, serviços e preços. Mario César Araújo, da TIM, acredita que uma das principais investidas será em conteúdo, especialmente música e vídeos. Essa disputa é mais do que saudável para o usuário, que além de contar com mais opções, poderá usufruir de uma rede 3G mais estável. "A dinâmica de concorrência do mercado obrigará as operadoras a oferecer ao usuário um melhor serviço. A estabilidade das redes é uma questão de tempo", diz Lopes, da Ericsson. Sinal de que a corrida pelo 3G está só no começo.

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