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Para o presidente mundial da Egon Zehnder, muitos executivos estrangeiros adorariam trabalhar em empresas brasileiras, mas o idioma ainda é uma barreira

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.

O australiano Demian O’Brien, presidente mundial da consultoria de recrutamento de altos executivos Egon Zehnder, defende a abertura das empresas brasileiras a profissionais de outras nacionalidades. Seria uma forma de reduzir a atual batalha por talentos e de trazer frescor ao topo das companhias.

1) EXAME - Todos falam que o mercado brasileiro está aquecido. Qual é a temperatura?

Demian O’Brien - Estamos instalados aqui há 35 anos e, nos últimos cinco, dobramos de tamanho. Nosso ritmo de expansão no Brasil é o dobro da média da companhia globalmente. De todos os países do Bric, o mercado brasileiro só perde para o chinês. E vamos continuar crescendo. Nosso escritório vai dobrar de tamanho mais uma vez até 2012.

2) EXAME - É tudo decorrência do crescimento econômico?

Demian O’Brien - Com o desenvolvimento do mercado de capitais, as companhias brasileiras estão diante de novas exigências de governança. Uma delas é ter um critério profissional para selecionar os membros de sua diretoria. Além disso, à medida que companhias como InBev, Vale e Brasil Foods se profissionalizam e crescem, as empresas familiares ficam motivadas a fazer o mesmo.

3) EXAME - Nesse ambiente competitivo, o que as empresas devem fazer para evitar um êxodo de talentos?

Demian O’Brien - Existe uma escassez de talentos, e dinheiro é, sim, importante para manter bons profissionais — mas não é o suficiente. As pessoas trabalham cada vez mais buscando um propósito maior. É preciso ter valores, um bom ambiente e uma cultura atraente. A Procter&Gamble, maior empresa de bens de consumo do mundo, não é a que mais paga no setor, mas os executivos lá têm carreiras longas. Um dos motivos é que a empresa tem um dos melhores treinamentos em marketing e vendas do mercado. Além disso, promove avaliações periódicas de carreira de seus profissionais e faz uma rotação de funções a cada dois ou três anos.

4) EXAME - Essa busca por um propósito maior é consequência da ascensão da chamada geração Y?

Demian O’Brien - É, em parte. Os jovens buscam um significado no trabalho, querem flexibilidade e autonomia. Mas o curioso é que hoje até mesmo pessoas mais velhas pensam dessa forma.

5) EXAME - As empresas brasileiras estão sintonizadas com essa tendência?

Demian O’Brien - Não. Essa falta de sintonia e a baixa oferta de talentos têm levado as empresas brasileiras a pagar prêmios financeiros muito altos. Só as mais inteligentes conseguirão atrair talentos sem pagar esse tipo de compensação.

6) EXAME - Com a escassez de talentos, há necessidade de buscar profissionais fora do Brasil?

Demian O’Brien - As companhias brasileiras ainda são brasileiras demais. Uma das coisas que recomendo é que elas, cada vez mais, olhem para o talento internacional. A diversidade, especialmente no grupo dos altos executivos, costuma facilitar a solução de problemas complexos, porque propicia o surgimento de novas abordagens.

7) EXAME - Altos executivos estrangeiros já enxergam o Brasil como um local de oportunidade?

Demian O’Brien - Sem dúvida. Mas todos sabem que precisam falar português. O idioma ainda é uma barreira. Na China, não é mais. Aqui também vai ser preciso mudar.

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