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Em busca de uma vida portátil, bolsas devem encolher daqui em diante

Em tempos de digitalização, redução de consumo e busca por praticidade, as bolsas devem encolher nas mãos de homens e mulheres

Desfile da Ferragamo, no começo do ano: carteira a tiracolo (Victor Virgile/Gamma-Rapho/Getty Images)

Desfile da Ferragamo, no começo do ano: carteira a tiracolo (Victor Virgile/Gamma-Rapho/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2020 às 05h04.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 15h27.

Quanto da vida cabe dentro de sua bolsa? A resposta a essa pergunta guia desde o século passado o tamanho dos acessórios de mão, que até há pouco transitavam entre o pastão de alça dos anos 1980 e os modelos sacolão, as chamadas tote bags, de alguns anos atrás. Mas, quando o celular ganhou importância, o tablet tomou o lugar do laptop ­— que já nem pesa tanto — e o calhamaço de papéis passou a caber na nuvem, a bolsa encolheu.

Não a do mercado de capitais, claro. Estamos falando dos lançamentos de couro das grifes de luxo apresentados na última temporada de desfiles, que terminou neste mês, em Paris, confirmando o movimento de miniaturização dos acessórios para homens e mulheres. Houve extremos, como a microbolsa da Fendi que parece comportar dois batons, mas também modelos maiores, a exemplo de uma míni da Chanel, branca de matelassê, com a letra inicial entrelaçada em banho de ouro, em que pelo menos o smart­phone e a maquiagem se acomodam.

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A questão para entender o que pretendem as marcas não é exatamente saber o que cabe, mas o que de fato as pessoas precisam carregar num momento em que se discutem a digitalização e a puxada de freio no consumo. Para Caroline Valladão, publicitária e dona da The AgenC, o dia a dia dividido entre reuniões para criar campanhas de moda exige praticidade. As microbolsas garantem o viés minimalista à produção e uma dose extra de estilo que, ela diz, é necessária na área em que atua.

Entre seus modelos preferidos estão a LV Petite Malle, da Louis­ Vuitton, uma das pioneiras nesse segmento e que no desfile deste mês voltou reformulada, e o Le Chiquito, da Jacquemus. Foi essa marca francesa que, no ano passado, instituiu o tamanho de um punho para as bolsas femininas. O preço, no entanto, não é nada “chiquito” — um modelo de couro de bezerro atualmente é vendido no site do marketplace Farfetch por 5.731 reais.

A ideia se espalhou com tal força neste ano que até a cantora e musa do punk Debbie Harry apareceu na apresentação virtual da Coach com um modelo míni tingido de rosa-choque da marca americana. Mas a mudança mais sensível talvez seja a do mercado de moda masculina, acostumado a traduzir os hábitos com uma régua mais conservadora. Por aqui, já não é raro ver homens andando com modelos bem diferentes das pastas do milênio passado.

Bolsa Fendi (verde), Coach (amarelo) e Sarah Chofakian: tendência (Divulgação)

No caso deles, os desfiles apontam a manutenção dos small leather goods, aqueles itens como porta-cartões, porta-passaporte e porta-tudo, só que uns dedos a mais ampliados. A italiana Bottega ­Veneta apostou no reconhecível trançado de seus acessórios em tons mais sóbrios, como o verde-musgo e o off white, enquanto para a Boss vale um modelo azul-profundo, do tipo envelope, no qual cabe o básico da vida de escritório. Para a Ermenegildo Zegna, de Milão, vale o jogo de volumes. Enquanto as proporções das roupas eram maximizadas, parte dos acessórios encolheu, como um modelo de bolsa de mão com alça do tamanho de um palmo.

Não é que as sacolas estejam em baixa, mas as marcas perceberam a necessidade de deixar as mãos dos clientes livres das tralhas. No Brasil, o presidente do grupo Iguatemi, Carlos Jereissati Filho, é um dos adeptos desse estilo utilitário em menor escala. É comum vê-lo carregando na mão um modelo cor de vinho de couro italiano em que cabem tablet, celular e itens de escrita. E só.

Também no universo do varejo de luxo, o consultor Carlos Ferreirinha adere ao visual utilitário com uma bolsa da coleção Atemporal, da Prada, a tiracolo e feita de couro preto com um zíper frontal e outro na parte de cima da peça. O fundador da Varese ­Retail, Alberto Serrentino, tem vários modelos de diferentes tamanhos e explica que, a depender da ocasião, a dimensão das peças diminui. “Se é uma conversa informal, não tem por que levar uma peça maior, mas, se é uma reunião, o laptop tem de ir junto e vai na mochila”, afirma.

Cientes da necessidade de se adequarem ao estilo dos executivos, as grifes mantêm a diversidade das linhas de couro e, neste ano, oferecem mais opções. Na Montblanc, já é possível encontrar tamanhos e versões da linha de organizadores — as pastas que comportam um gadget e itens de escrita — e pastas minimalistas Meisterstück que se adaptam ao gosto do cliente. Na Cartier, também do grupo Richemont, há desde um simples porta-chaves até uma bolsa, a ­Portfólio, mais fina do que um dedo e com ­design minimalista.

Em comum a essas peças está o fato de que todas podem ser carregadas entre os braços ou com os dedos, sem alças, como manda esse novo figurino das metrópoles. O publicitário Pedro Ivo Brito, dono da agência de criação PIB Club, tem pelo menos seis bolsas pequenas de etiquetas tão diferentes quanto Hermès e Zara.

Para ele, que também pode usar enrolado no pescoço um modelo de minicarteira Jacquemus quando a agenda não inclui reuniões com clientes no dia, o movimento acompanha a ideia de portabilidade no cotidiano. “A gente não precisa de muita coisa, e acho que a moda vem acompanhando essa ideia de otimizar as coisas para facilitar a vida. O mais interessante é que tudo cabe no bolso e você pode andar com as mãos livres. É cômodo e muito libertador”, afirma.

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