Castelo da Cinderela, na Disney: o novo sistema de identificação custou 1 bilhão de dólares (GettyImages)
Da Redação
Publicado em 28 de fevereiro de 2013 às 14h03.
São Paulo - O Walt Disney World, o maior grupo de parques temáticos do mundo, apresentou ao público, no início de janeiro, sua mais recente atração: a MagicBand. A novidade não é um conjunto musical formado por Mickey, Pato Donald e Pateta, como o nome eventualmente pode sugerir. Também não chama a atenção como o inconfundível Castelo da Cinderela.
A MagicBand é uma simples pulseira eletrônica, que começará a ser usada até o fim de 2013 pelos 120 milhões de visitantes que passam pelos parques da Disney todos os anos. Ela funciona assim: ao comprar os ingressos ou um pacote, o turista fornece dados como o nome, a data de aniversário e o número do cartão de crédito. Ele recebe então a pulseira com essas informações registradas. A pulseira funcionará como uma espécie de crachá da firma.
No caso do crachá que fica pendurado no seu pescoço, o objetivo é abrir portas, liberar a passagem na catraca e pagar o almoço. Já a MagicBand substituirá os tíquetes de entrada, permitirá agendar horários nos brinquedos disputados e, claro, será usada para pagar as refeições e os presentes sem que o visitante tenha de abrir a carteira. Basta encostar a pulseira num sensor e a compra está feita.
Oficialmente, a Disney afirma que o objetivo de sua nova pulseira é tornar a experiência do visitante "mais mágica e divertida", já que o turista não precisará se preocupar em carregar dinheiro, cartões e tíquetes para as atrações. Mas até as orelhas do Mickey sabem que a Disney quer mesmo é aumentar sua receita anual de 13 bilhões de dólares à custa de visitantes mais empolgados e menos atentos
. A MagicBand não foi barata. A pulseira inteligente é fruto de um investimento de 1 bilhão de dólares feito pela Disney no ano passado para reformular seu sistema de controle e identificação de visitantes. Batizado de MyMagic+, esse sistema é baseado em uma tecnologia chamada identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês), que colhe informações dos usuários por meio de etiquetas eletrônicas que ficam dentro das pulseiras.
Sensores digitais espalhados por todo o parque — inclusive na fantasia dos personagens — fazem a leitura dessas informações. O cão Pluto, por exemplo, pode saudar os visitantes chamando-os pelo nome e até dar os parabéns a eventuais aniversariantes. “Um projeto como esse reforça a estratégia da Disney em seu negócio principal, que é vender um mundo de sonhos em que as regras de fora não valem”, diz o coordenador do curso de pós-graduação em gestão do entretenimento da ESPM-RJ, Eduardo França.
Para a Disney, o retorno do investimento com o MyMagic+ não virá apenas de consumidores incentivados a gastar mais. Assim como ocorre nas redes sociais, os dados de consumo e o perfil desses visitantes vão ajudar a empresa a conhecer melhor os hábitos dos frequentadores dos parques. Será possível saber que tipo de visitante vai a cada atração, quanto tempo leva para ir de uma a outra, a que horas e o que come, que produtos compra e até de quais personagens aperta a mão.
Com os dados, a Disney pode desenvolver e aperfeiçoar atrações, além de enviar ofertas diferentes para cada tipo de público na hora exata em que surge uma necessidade. Um pai pode receber uma mensagem no smartphone avisando que o personagem favorito do filho está em uma área próxima do parque.
"As empresas estão explorando diversos canais para ter acesso a dados sobre os hábitos de consumo de seus clientes", diz Fernando Belfort, líder de tecnologia da empresa de pesquisas Frost&Sullivan. "A Disney terá acesso a importantes fontes de informações para dar continuidade a seu negócio."
A possibilidade de uma empresa tão grande quanto a Disney ter acesso a informações sobre os hábitos e as preferências de seus visitantes, especialmente crianças, foi suficiente para algumas pessoas repudiarem a iniciativa. Apesar de ainda estar na fase de testes da MagicBand, que não tem data para estreia oficial, a Disney tem deixado explícito em seus comunicados que as pessoas não serão obrigadas a usar a pulseira e aquelas que decidirem testar poderão definir quais informações gostariam de compartilhar.
Há outros parques menos conhecidos que adotam tecnologias similares há anos e não sofrem com esse tipo de questionamento. É o caso do grupo Great Wolf Resorts, administrador de 11 parques na América do Norte. Num mundo em que as pessoas compartilham cada vez mais informações pela internet, abrir mão da privacidade para ter acesso a serviços melhores não deverá ser um grande problema — certamente menor do que pagar o cartão de crédito no mês seguinte à viagem.