Maurizio Billi: "Uma grande parte do empresariado compreende que é impossível continuar do jeito que a gente está. A distribuição de riqueza é muito cruel e há falta de chances para novas gerações" (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2019 às 05h18.
Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 10h06.
A água é um dos insumos mais estratégicos na indústria farmacêutica, que a utiliza intensivamente em suas fábricas. Além da produção de gotas, xaropes e suspensões, há outras aplicações da água menos conhecidas do público, como na limpeza das unidades fabris e nas torres de resfriamento. São razões mais do que suficientes para adotar um plano de eficiência hídrica.
Foi o que fez a Eurofarma, primeira farmacêutica com 100% de capital nacional a expandir suas atividades no exterior — tem três fábricas no Brasil e seis em outros países da América Latina. A reciclagem e o reúso da água são ações centrais na política de sustentabilidade da empresa, que atua nas áreas de medicamentos com prescrição médica ou isentos de prescrição, genéricos, oncologia e veterinária.
No ano passado, o volume de água reciclada e reutilizada nas fábricas de Itapevi e de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, aumentou 27% em relação a 2017 e 72% em comparação com 2016.
A eficiência hídrica está entre os cinco principais objetivos do programa de gestão ambiental da Eurofarma, cujas iniciativas são voltadas para o consumo e para o reúso de água. “Com metas e indicadores relacionados à redução do consumo e levando em conta o volume de produção, temos um robusto sistema de tratamento e reúso implantado em 2012 em Itapevi e adotado em larga escala em 2016 em Ribeirão Preto”, diz Maria Del Pilar Munõz, vice-presidente de sustentabilidade e novos negócios da companhia.
O reúso de água na unidade de Itapevi deverá ser ampliado no segundo semestre de 2020, quando a empresa planeja substituir 100% da água potável utilizada nas torres de resfriamento por água derivada da filtragem de efluentes líquidos. Para tornar a medida viável, está investindo 4 milhões de reais em um sistema de osmose reversa — uma técnica de purificação da água — na estação de tratamento de efluentes.
Nos próximos dez anos, uma das metas é diminuir o consumo de água por unidade produzida. De 2017 para 2018, o indicador foi reduzido de 0,95 para 0,92 metro cúbico de água por 1.000 unidades de medicamento fabricadas. “Queremos estar sempre um passo à frente das regulamentações e em linha com as melhores práticas do mundo”, afirma Maurizio Billi, presidente da Eurofarma.
Como sobra muita água de reúso na fábrica de Itapevi, a Eurofarma fez parcerias com o grupo Estre, de serviços ambientais, e com as prefeituras de Itapevi e Jandira para a doação do excedente a atividades diversas, como limpeza de prédios. No ano passado, o volume de água doada cresceu 54%, superando 14 milhões de litros.
O laboratório Alemão Merck avança na promoção da equidade de gênero. A meta até 2023 é ter uma mulher em cargo de liderança para cada homem na mesma posição | Patrícia Berton
Quatro anos atrás, de cada três líderes do laboratório Merck no Brasil, apenas um era mulher. Em 2018, as mulheres já respondiam por 44% dos líderes na subsidiária brasileira da multinacional alemã. Até 2023, a meta é ter uma mulher em cargo de liderança para cada homem na mesma posição. Para chegar à equidade de gênero, a empresa criou um programa batizado de WIL (Women in Leadership, ou “mulheres na liderança”), baseado nos sete Princípios de Empoderamento das Mulheres, da ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas que promove a valorização feminina.
O WIL está assentado em três pilares: recrutamento e seleção, treinamento e mentoria. Em todo processo seletivo, é obrigatório que haja pelo menos uma mulher entre os dois finalistas. Nos treinamentos, há mais mulheres do que homens — das pessoas que participaram dos treinamentos oferecidos em 2018, 65% são mulheres. E funcionárias reconhecidas por seu talento ganham um mentor, que as ajuda a crescer profissionalmente.
Além da equidade de gênero, a Merck promove iniciativas voltadas para o aumento da diversidade e da inclusão. Para isso criou seis grupos de trabalho com objetivos específicos, que incluem temas como pessoas com deficiência, vulnerabilidade social, orientação sexual e idade. Mais de 100 funcionários participam desses grupos. “Temos avançado, gerando cons-ciência, falando bastante desses temas, discutindo-os abertamente e incluindo-os nos âmbitos das contratações e dos planos de sucessão”, afirma Pedro Galvis, presidente da Merck no Brasil.
Várias atividades são criadas buscando inserir as pessoas em realidades diferentes das suas, como falar em Libras. São promovidos também treinamentos voltados para vieses inconscientes (tomadas de decisão guiadas por comportamentos inconscientes, carregados de preconceitos). “Os resultados são muito palpáveis”, diz Galvis. Um exemplo é o índice de contratação de pessoas com deficiência: a Merck atingiu a cota três anos atrás, em 2016. No ano passado, chegou a 116% da cota.
Outro indicador de destaque é a participação dos funcionários na pesquisa anual de engajamento, que é global e feita por uma empresa independente. No Brasil, 92% da equipe participa, de forma anônima. “Nossos funcionários abraçam nossas iniciativas”, afirma Galvis.
A decisão de responder à pesquisa é facultativa. Os resultados do levantamento são usados para indicar o sucesso ou o insucesso das decisões e do modo de operar da empresa, apontando onde é preciso melhorar, incluindo o estilo das lideranças.
Uma carreta patrocinada pelo laboratório Novartis percorre municípios levando informação, diagnóstico e tratamento contra a doença | Patrícia Berton
Conhecida como lepra, a hanseníase é uma doença tratável. Mas era estigmatizada no Brasil até algumas décadas atrás, quando o governo federal decidiu criar uma rede de leprosários, de norte a sul, para isolar os pacientes. Calcula-se que haja 30 mil novos casos da doença por ano no país, de acordo com a organização DAHW Brasil, braço de uma associação alemã que trabalha para a erradicação da doença.
O Brasil é o segundo país com maior número de casos, atrás somente da Índia. “Não conseguimos erradicar a lepra no Brasil”, diz João Sanches, diretor de relações governamentais do laboratório suíço Novartis no Brasil.
A ideia de colaborar para a erradicação da hanseníase no país levou a Novartis a investir em um projeto batizado de Carreta da Saúde. O trabalho tem avançado desde que foi iniciado, quase uma década atrás. Um caminhão adaptado, equipado com cinco consultórios e um laboratório, percorre cidades das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde há mais casos da doença. Neste ano, o caminhão visitou pela primeira vez cidades do Sudeste.
A Carreta Novartis da Saúde atua em parceria com o Ministério da Saúde e com as secretarias de Saúde, tanto municipais quanto estaduais. Com essa iniciativa, a população tem acesso gratuito ao diagnóstico e ao tratamento, que é feito pelo SUS, o sistema público de saúde, com medicamentos doados pela Novartis. A carreta também tem um trabalho de conscientização da população, levando informações sobre a importância de um diagnóstico e sobre o tratamento para a cura, além de capacitar profissionais de saúde pública.
Em 2018, foram treinados 1.900 deles para lidar com a hanseníase. No mesmo ano, 25% dos diagnósticos da doença no país foram feitos pelos profissionais que atuam no projeto da Novartis. A chegada da carreta envolve toda a comunidade, tornando-se um evento local. “Muitas pessoas não procuram o sistema de saúde e não sabem que a doença é curável”, afirma Sanches.
Para aumentar o alcance do trabalho, a Novartis está desenvolvendo um atlas da hanseníase no Brasil. Trata-se de um soft-ware que está sendo criado em parceria com a Microsoft e a Fundação Oswaldo Cruz. Por meio dele, será possível fazer o diagnóstico com base numa foto da lesão na pele.
Agentes de saúde básica terão um papel fundamental: eles vão visitar os moradores e, com o software, poderão tirar uma foto e ter acesso ao diagnóstico correto. É uma saída para superar uma das dificuldades para o correto diagnóstico: a ausência de dermatologistas em muitas cidades do país. Não há ainda uma data para o lançamento do atlas.
O laboratório Roche obtém reduções substanciais no consumo de energia e no volume de resíduos em fábrica que deverá ser desativada até 2023 | José Alberto Gonçalves Pereira
A suíça Roche é líder em segmentos importantes do setor farmacêutico, como os de diagnóstico in vitro, oncologia, imunologia e doenças do sistema nervoso central, além de se destacar no controle de diabetes. Pelo 11o ano seguido, a companhia figura em 2019 como uma das mais sustentáveis do setor farmacêutico no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, da bolsa de Nova York. No Brasil, o comitê de sustentabilidade tem sido o principal articulador de ações na sede da empresa, em São Paulo, na fábrica de medicamentos no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e em seus três centros de distribuição: em Anápolis, Goiás; Itajaí, Santa Catarina; e Itapevi, São Paulo.
“O comitê de sustentabilidade conseguiu ganhar a confiança da alta liderança e dos funcionários em geral”, afirma Sarah Chaia, diretora das áreas jurídica, de compliance e de responsabilidade social da Roche. “Dessa forma, ele se tornou uma espécie de consultoria interna para soluções sustentáveis, atendendo a solicitações das diferentes áreas da companhia.”
Combinadas com um programa de 300 milhões de reais em investimentos na modernização da fábrica no Rio de Janeiro, iniciada em 2015, as ações estimuladas pelo comitê de sustentabilidade resultaram em avanços significativos de 2016 a 2018. Enquanto o volume de resíduos caiu 43%, o consumo de energia diminuiu quase 72% no período. A redução no uso de energia, tanto na produção de vapor nas caldeiras como na rede elétrica da fábrica, levou a uma queda de 85% nas emissões de gases de efeito estufa.
A Roche diminuiu o gasto com energia proveniente de todos os tipos de fonte não renovável, exceto pelo aumento do uso de óleo diesel nos geradores, decorrente da redução do fornecimento de energia elétrica pela concessionária, e pelo dispêndio com querosene em viagens aéreas. Entre as ações adotadas para diminuir o consumo de energia destacam-se campanhas de conscientização de funcionários, a iluminação por lâmpadas de LED, o aprimoramento da gestão dos sistemas de ar condicionado e ajustes nas caldeiras, que passaram a demandar menos gás natural na geração de vapor.
No entanto, em março deste ano, a Roche anunciou a decisão de desativar, até 2023, a operação da fábrica de Jacarepaguá, em razão de uma mudança na estratégia global. A empresa decidiu concentrar esforços em produtos inovadores de alta complexidade e baixo volume de produção, que não são produzidos na unidade carioca. “É importante ressaltar que a Roche não está saindo do país. Não haverá nenhum impacto sobre os segmentos de diabetes e diagnósticos”, diz Sarah.