Alexandre Won, na loja da Alfaiataria 706: jaquetões, paletós de abotoamento duplo e blazers em modelagem mais ampla (Leandro Fonseca/Exame)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 22 de março de 2024 às 06h00.
Última atualização em 22 de março de 2024 às 09h39.
A alfaiataria está de volta, depois de um curto período de isolamento dominado por chinelos, regatas e moletons. Mas não qualquer alfaiataria. Os modelos das passarelas e os cabides das lojas têm envergado calças mais largas e paletós desconstruídos, uma concessão da elegância ao conforto. Tem a ver com a onda da chamada quiet luxury, a valorização do alinhamento sem logos aparentes, sem estridência. Ou mesmo o estilo grandpa core, a “moda do vovô”, em uma tradução informal, de peças tradicionais e modelagens folgadas.
A tendência do momento é um resgate das silhuetas de décadas passadas. Grifes como Zegna, Prada e Gucci têm investido nessa linguagem, oferecendo ainda coleções cápsulas com poucas peças, mais autorais, sempre com tecidos nobres e de preferência sustentáveis. No Brasil, o alfaiate Alexandre Won, um adepto do método bespoke, de uma alfaiataria totalmente sob medida para cada cliente, acaba de lançar uma linha dentro da sua marca, chamada Alfaiataria 706, com esse mesmo conceito.
O “706” do nome da linha se refere ao mês e ano da fundação da marca de alfaiataria. Won sempre trabalhou com alfaiataria bespoke, mas tinha planos de oferecer peças prontas, que não demandassem de quatro a cinco provas ao longo de cinco meses. O problema para ele era a qualidade, tanto do tecido quanto da confecção. “Estive em diversos países da América Latina e da Europa e não encontrava o que procurava”, conta.
Até que, dois anos atrás, bateu à sua porta o dono de uma confecção italiana quase centenária, que tem em Nápoles uma unidade para projetos especiais com marcas e alfaiates de renome do mundo inteiro. A oferta era para produzir lá peças para serem vendidas no Brasil, tudo dentro do padrão italiano. Após muita negociação, Won conseguiu convencer os artesãos a usar suas formas, baseadas em 2.800 modelagens feitas por ele em sua carreira. Entre os tecidos nobres utilizados estão seda, lã virgem, linho e algodão, de etiquetas como Loro Piana e Vitale Barberis Canonico.
O primeiro lote, de 500 peças, já está nas araras de seu ateliê na Vila Nova Conceição, em São Paulo. São blazers com abotoamento duplo, jaquetões, paletós, jaquetas e calças com pregas.
A maioria tem caimento leve, amassa pouco, é muito confortável. Os blazers custam de 6.500 a 13.000 reais, o que reforça o posicionamento da Alfaiataria 706 no segmento de luxo — peças muito semelhantes em corte e qualidade de tecido chegam a custar de três a quatro vezes mais em lojas de grifes como Dolce&Gabbana e Gucci. Os paletós da marca de Won têm um detalhe característico: um pin no formato de um dedal, usado antigamente pelas costureiras. Para que ninguém se esqueça do pé na tradição.