Murilo Riedel, presidente da HDI Seguros (Germano Lüders/Exame)
Filipe Serrano
Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 05h12.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h46.
Fundada em 1903, a seguradora alemã HDI vive um momento de transformação no Brasil. Depois de ser prejudicada pela queda nas vendas de automóveis — seu principal segmento de atuação — no país, a empresa foi obrigada a se reinventar. A EXAME, Murilo Riedel, presidente da HDI Seguros no Brasil, afirma que muitas mudanças foram realizadas, a começar pelos investimentos em uma equipe de matemáticos e na digitalização. “Substituímos processos inteiros por modelagem matemática”, diz Riedel na entrevista a seguir.
Para uma empresa de seguros de automóveis, como a HDI, como as vendas de veículos influenciam o resultado?
Nosso mercado e a demanda por veículos estão diretamente correlacionados. Praticamente 100% dos carros zero-quilômetro saem das concessionárias com seguro. Mas, depois, há uma curva para baixo, que é diretamente proporcional ao envelhecimento da frota. Para ter uma ideia, menos de 10% dos carros com mais de dez anos de idade têm um seguro.
Se as vendas de carros novos caem, o setor também cai?
Sim. Cerca de 60% da frota segurada no Brasil tem de zero a cinco anos. Até 2014 as vendas estavam aquecidas. A gente até esperava uma estabilização ou uma queda, mas somente por volta de 2023. Mas veio a crise e o setor caiu de 3,8 milhões de veículos vendidos em 2012 para 2 milhões em 2016.
Mas as vendas estão se recuperando. Isso não ajuda?
As vendas estão crescendo, mas em cima de uma base muito menor. Se a base caiu 40%, as vendas precisam subir 80% para chegar ao mesmo nível. Subir 10%, 12% não é nada. E, além disso, quando se excluem as vendas às locadoras de veículos, o número é menor. Isso gerou um novo contexto: vendas baixas, menos clientes de seguros, retração do crédito, juros em queda. E o banco HSBC, que era um parceiro nosso, foi vendido ao Bradesco. Foi uma tempestade perfeita, o que forçou a HDI a buscar um novo momento.
Que novo momento é esse?
Começamos em 2016 um projeto que foi batizado de Go Digital e envolvia vários pilares: a digitalização e o ganho de eficiência operacional, mas também a busca de um novo parceiro bancário estratégico, que é o banco Santander. Também passamos a oferecer outros produtos. Deixamos de ser uma seguradora exclusivamente de automóvel para ser uma seguradora que trata da mobilidade e seus destinos.
O que isso significa?
As pessoas se deslocam para ver a família, ir ao trabalho, ir a seu lazer. Isso significa que a gente consegue conectar os novos produtos, como seguro residencial, empresarial, de vida.
Qual foi o investimento feito na reestruturação?
Em três anos, investimos cerca de 220 milhões de reais para fazer a digitalização. Substituímos processos inteiros por modelagem matemática, desde a realização de vistorias desnecessárias até a consulta de informações financeiras. Hoje temos uma equipe de 35 matemáticos. Os benefícios são incríveis.
O investimento compensou?
Sim. Com a retração do mercado, tivemos uma queda de 320 milhões de reais na receita. Mas conseguimos absorver essa redução com os ganhos de eficiência operacional. O resultado é que nós tivemos o melhor triênio da história da companhia no Brasil, mesmo com todas as dificuldades.