Revista Exame

Uma usina de disparates funciona dentro do poder público

O poder público brasileiro, e a multidão de personagens que são ligados a ele, funciona dia e noite como uma das mais produtivas geradoras de disparates do planeta — é uma bênção para nós, jornalistas


	Amigo complicado: na mira de 11 inquéritos, o deputado Gabriel Chalita deixa de ser opção para o ministério
 (Leonardo Prado/Câmara dos Deputados)

Amigo complicado: na mira de 11 inquéritos, o deputado Gabriel Chalita deixa de ser opção para o ministério (Leonardo Prado/Câmara dos Deputados)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2013 às 11h16.

São Paulo - Uma das tarefas mais fáceis que alguém pode fazer no brasil de hoje é escrever uma coluna de revista. Escrever, em si, é coisa muito simples: basta conhecer o alfabeto, saber meia dúzia de regras de gramática e não encher a paciência do leitor com frases complicadas, que pretendem transmitir ideias inteligentes mas que acabam transmitindo só complicação e nenhuma inteligência.

O problema real é encontrar uma solução razoável para o seguinte dilema: escrever sobre o quê? Jornalista sem assunto é um carro com tanque vazio — não adianta nada ficar dando na chave, porque o motor não vai pegar. É nesse ponto que o Brasil de hoje é uma bênção do Senhor para autores de colunas: nosso governo, e a multidão de personagens ligados a ele, funciona dia e noite como uma das mais produtivas usinas de assuntos do planeta.

O problema, na verdade, é de excesso, e não de escassez: o poder público brasileiro produz tanto material para ajudar os jornalistas a escrever seus artigos que acaba faltando, pelas leis da física, espaço para tratar de 10% dos disparates que despejam diariamente sobre o país. Somem-se a isso os temas fornecidos pela “sociedade” em geral; o resultado é um mar de rosas para os jornalistas que precisam de matéria-prima para preencher suas páginas.

Que fazer? Uma saída é tentar obter mais com menos — no caso desta Vida Real, escrever sobre três assuntos, por exemplo, em vez de um só. Não é a solução ideal, claro, porque tudo pode ficar resumido demais; mas a experiência mostra que há poucas soluções ideais nesta vida, e o jeito é contentar-se em fazer o possível. Os últimos dias, como sempre, trouxeram uma vasta oferta de temas para os colunistas. Seguem, a seguir, três deles.

1 O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, tem uma atitude clara a tomar, em benefício do Brasil e de si próprio: renunciar ao cargo, aposentar-se do serviço público e, caso prefira permanecer no tribunal apenas como um de seus 11 membros, não abrir mais a boca fora dos autos até o dia de ir embora para casa. Barbosa, durante o julgamento do mensalão, tornou-se um herói da Justiça brasileira, e assim haverá de continuar, merecidamente, na história do país. Mas já fez o que tinha de fazer — hoje é apenas um homem que não tem um mínimo de equilíbrio mental para chefiar um dos três poderes da República.

Dias atrás, na frente de todo mundo, chamou um jornalista de “palhaço” e mandou-o “chafurdar no lixo”, em mais uma das violências verbais que pratica como se tivesse direito a fazer tudo. Méritos do passado não absolvem ninguém no presente. É simplesmente assustador para o Brasil que o ministro Barbosa seja o presidente do STF.

2 É realmente um prodígio a capacidade da presidente Dilma Rousseff e da alta hierarquia do PT de amigar-se com gente do mal. Sua última aquisição foi o deputado paulista Gabriel Chalita, que pensavam transformar em ministro de Estado e que havia se tornado o mais recente amigo íntimo do prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad.

Chalita acaba de ser pego num dos mais miseráveis casos de corrupção da safra 2013, está indiciado em 11 inquéritos penais e, caso não dê alguma resposta coerente para as acusações — coisa que não chegou nem perto de fazer até o momento —, ficará marcado como mais um vigarista na alarmante manada que o PT não parou de engordar nesses dez anos do seu “projeto”. Passava, até agora, como uma autoridade em semiótica, escritor (em matéria de livros publicados, sua obra ameaçava superar a de Balzac) e jurista. Era apenas Gabriel Chalita.

3 O governo brasileiro prestou à morte do coronel Hugo Chávez homenagens que seriam devidas ao inventor da roda. Não há nada de bom a dizer em relação à morte de qualquer ser humano; é apenas algo infinitamente triste. Mas também não há nenhuma necessidade, como fez o Brasil, de santificar um déspota subdesenvolvido como Chávez. O mundo não perde absolutamente nada com a sua partida. n

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