Marco Fisbhen, do Descomplica: do cursinho ao Vale do Silício (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2013 às 07h58.
São Paulo - Cinco anos atrás, o professor de física carioca Marco Fisbhen cansou da vida de professor de física. Então recém-chegado aos 28 anos, Fisbhen já dava aula em cursinhos pré-vestibular no Rio de Janeiro havia uma década. Era hora de mudar de vida. Fisbhen comprou uma câmera, um tripé e começou a se filmar dando as mesmas aulas e fazendo as mesmas piadas que usava para que seus alunos decorassem as leis que regem a mecânica dos corpos ou a refração.
Nascia o Descomplica, site de aulas virtuais que, diferentemente de grandes projetos internacionais, como a americana Khan Academy, não tinha a ambição de oferecer à freguesia uma formação completa. O negócio, ali, era mais utilitário — dar aula para quem precisa ir bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Aos poucos, começou a atrair alunos. Na véspera do último Enem, em novembro, mais de 100 000 pessoas assistiram à sua aula de 12 horas. Logo depois, Fisbhen realizou uma façanha: vendeu uma participação no Descomplica a investidores, entre eles o americano Peter Thiel, conhecido por fundar o sistema de pagamentos Paypal e por ter sido o primeiro a colocar dinheiro no Facebook. Ao todo, Fisbhen levantou 3 milhões de reais.
O que atraiu tanta gente ao Descomplica? Fisbhen está levando o modelo das aulas de pré-vestibular para a internet. O preço é sua arma. Por uma mensalidade de 19,90 reais, que pode cair para 9,68 mensais no plano anual, o Descomplica oferece aulas de biologia, história, química etc. (ao vivo e em 3 000 vídeos gravados), correção de redação, testes e monitorias.
Os vídeos duram 5 minutos, e os alunos, em vez de levantar a mão para perguntar, como nas aulas tradicionais, tiram as dúvidas com os professores por meio de redes sociais, como o Facebook. Neste ano, 20 000 alunos pagaram a mensalidade, que no ano passado ainda não era cobrada.
Fisbhen está de olho num potencial de 8,5 milhões de estudantes do ensino médio no país, especialmente aqueles que não podem pagar por boas escolas mas podem gastar 10 reais por mês para aprender. “Seis milhões de estudantes se inscreveram no Enem, e mais da metade deles não tem condições de pagar um cursinho”, diz.
Da sala de aula ao Vale do Silício (onde fica o escritório de Thiel), Fisbhen trilhou um caminho um tanto caótico — como costuma acontecer com empreendedores de sucesso, o plano A de carreira de Fisbhen não deu lá muito certo. Aluno de escola pública, ele passou no vestibular para medicina e para engenharia de produção, mas não terminou nenhuma faculdade.
O emprego como professor de cursinho virou sua prioridade. O início do Descomplica foi mambembe. As aulas eram gravadas no quarto de seu apartamento de 80 metros quadrados, na Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro. “Ficaram péssimas, mas percebi que poderia sair algo dali”, diz. Em seguida, Fisbhen se inscreveu num concurso que selecionava modelos de negócios, de onde tirou um mentor e o convite para fazer uma apresentação a investidores.
Três deles aportaram 300 000 reais para contratar os primeiros professores e fundar o site em 2010. No improviso, Fisbhen fazia as vezes de cinegrafista e organizava os professores para gravar aulas numa sala alugada. Cresceu de verdade quando começou a fazer parcerias. No ano passado, a Fundação Natura patrocinou o funcionamento do site em troca de publicidade.
Nesse período, as aulas foram de graça. A Microsoft cedeu a estrutura de servidores. Em 2012, com o modelo de mensalidades já em prática, Fisbhen viajou para os Estados Unidos. Foi parar na sala de reunião de James Fitzgerald, diretor do fundo de Thiel, em São Francisco.
Hora da prova
Com dinheiro em caixa e investidores que podem abrir mais portas, o Descomplica terá no próximo ano letivo seu grande teste. O dinheiro dos fundos será usado para dobrar o quadro de funcionários para 50 pessoas e triplicar o conteúdo para 10 000 vídeos até a metade de 2013. Nestas férias, seus professores gravarão em cidades como Ouro Preto e Florença, na Itália, para ensinar história, e no Pantanal, para dar aulas de biologia.
Outro objetivo é oferecer uma educação mais personalizada. Em novembro, um ex-programador da IBM, Lars Hofvander, entrou para a empresa para criar sistemas que indiquem os vídeos mais adequados a cada aluno conforme seu desempenho em testes. “O modelo já mostrou que funciona”, afirma Antoine Colaco, ex-diretor do Google no Brasil e sócio do Valor Capital, fundo de venture capital de Nova York, que investiu no Descomplica. “O desafio agora é fazer com que mais alunos enxerguem o site como uma alternativa.”
A empresa é avaliada, hoje, em 10 milhões de reais. Parece pouco diante dos bilhões que valem os Facebooks e Googles da vida. Para quem dava aulas em cursinho há cinco anos, é um feito para celebrar.