Revista Exame

MRV segue receita que dá certo há 38 anos

Empresa foi uma das poucas incorporadoras de capital aberto que conseguiram não apenas lucrar como também aumentar o ganho

DR

Da Redação

Publicado em 10 de agosto de 2017 às 05h00.

Última atualização em 10 de agosto de 2017 às 05h00.

receita da mineira MRV para construir um prédio é sempre a mesma em qualquer lugar do país: poucos andares, cores neutras, quinas e detalhes brancos, design de caixotes, sem sacadas. Para manter os resultados financeiros, a fórmula da empresa também não muda: foco em um produto específico, controle rígido de custos e ganhos de escala. A forma de trabalhar não é lá muito original, mas deu bons resultados em 2016.

A MRV foi uma das poucas incorporadoras de capital aberto que conseguiram não apenas lucrar como também aumentar o ganho. Com um faturamento de 736 milhões de dólares, a empresa lucrou 112 milhões de dólares, quase 40% mais do que no ano anterior.

“Fazemos o mesmo produto há 38 anos”, diz Rubens Menin, que criou a MRV em 1979 e hoje preside o conselho de administração. “É o que nos permite melhorar a performance.”

Rubens Menin, presidente do conselho da MRV: 94% das vendas feitas por meio do programa Minha Casa, Minha Vida | Leandro Fonseca/EXAME

A atenção aos custos é uma das obsessões de Menin. É fácil entender por quê: na habitação popular, o repasse das despesas para o preço do imóvel é difícil. Não se pode dar chance para a ineficiência, e a escala da MRV ajuda nesse quesito. Fazer sempre a mesma coisa permite suprir quase toda a necessidade de insumos com uma gama de apenas 120 fornecedores, com os quais as negociações ficam mais fáceis — ainda mais em tempos de crise econômica.

A MRV, aliás, parece não se intimidar com as intempéries da economia. O déficit habitacional é uma fonte de oportunidades. Além disso, ocorrem mais de 1  milhão de casamentos por ano no Brasil. Mas as construtoras não conseguem produzir muito mais que 500 000 unidades por ano — portanto, há novas famílias que ficam sem casa própria. “A elevação do desemprego reduziu a demanda, mas a oferta é menor do que a necessária”, diz Menin.

A elevada dependência do Minha Casa, Minha Vida é vista como um risco para a MRV — 94% dos apartamentos vendidos são financiados pelo programa federal de moradia popular. “Isso torna a companhia mais vulnerável a políticas públicas. O ambiente político no Brasil, combinado a incertezas sobre a capacidade de financiamento do governo, gera preocupações quanto ao escopo e à estabilidade do programa”, afirma Fernanda Rezende, analista da agência de classificação de risco Fitch, em relatório sobre a empresa. Os recursos para os imóveis da MRV saem basicamente das contribuições feitas ao fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS), e não da conta do Tesouro Nacional. Teoricamente, são menos vulneráveis a cortes ou represamentos.

Mas a liberação dos resgates das contas inativas do FGTS neste ano e as conversas do governo cogitando novas destinações para o dinheiro do fundo mostram que a bolada não é tão intocável assim. “Não é apropriado tirar dinheiro de lá para outras funções que não a destinação específica do ­FGTS”, diz Menin. A MRV ainda não chegou às 70 000 unidades construídas por ano, uma meta alardeada há alguns anos e que a tornaria a maior construtora residencial do mundo em volume. Parou nas 40 000. No cenário atual, está mais do que bom.

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