Escritório vazio em Paris: a era do home office chegou, mas não foi uma escolha dos funcionários (Chesnot/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2021 às 05h54.
Última atualização em 29 de abril de 2021 às 08h40.
Muitos gestores estão tratando a mudança causada pela pandemia para trabalhar em casa como se fosse um modo de trabalho remoto padrão. Mas não é, e operar sob essa suposição de que o home office na pandemia é como um trabalho em casa qualquer pode acabar prejudicando o moral dos empregados. Embora funcionários de escritório estejam em geral se saindo melhor do que trabalhadores essenciais durante a pandemia, a abrupta mudança para o trabalho remoto foi chocante e seus efeitos não devem ser ignorados.
Especialistas em liderança e cientistas cognitivos podem atestar que a resistência à mudança tem menos a ver com a mudança em si e mais com a sensação de perda do controle e o medo da incerteza. Os seres humanos — e outros animais, aliás — respondem defensivamente quando o poder de tomar decisões sobre suas próprias vidas é removido. E em um recente estudo sobre a covid-19 e a saúde mental, pesquisadores descobriram que adultos entrevistados nos Estados Unidos e em cinco países europeus que acreditam que outras pessoas, ou o destino, ditam o que acontece com eles também relatam maiores sintomas de depressão.
Há uma grande diferença entre escolher trabalhar remotamente e, de repente, ser forçado a trabalhar em casa. Embora eliminar o tempo de deslocamento diário tenha sido bom, o funcionário de escritório médio simplesmente não estava mentalmente ou financeiramente preparado para transformar a própria casa em um local de coworking improvisado, ao mesmo tempo que assumia as funções de professor, cuidador de crianças e de idosos, tarefas até então terceirizadas. Muitas famílias não moram em residências que conseguem acomodar facilmente o trabalho à distância, e os arranjos domésticos nem sempre conduzem ao sucesso.
Gestores podem tomar algumas medidas para aliviar a sobrecarga dos funcionários.
Defina metas razoáveis. Muitos trabalhadores arcaram com novas obrigações em casa na pandemia e enfrentam pressões de vários lados. Os gestores podem evitar sobrecarregá-los eliminando relatórios desnecessários e procedimentos redundantes e sendo o mais transparentes possível sobre prazos.
Por exemplo, se uma reunião importante com o cliente for adiada, os superiores precisam informar imediatamente todos aqueles que estão preparando os materiais para a reunião de forma que possam reprogramar as tarefas do dia.
Da mesma forma, os gestores não devem esperar respostas imediatas aos e-mails. A constante solicitação de urgência contribui para o esgotamento dos funcionários. O envio de e-mails fora do horário de trabalho (especialmente tarde da noite e nos fins de semana) deveria ser evitado, ou não se deveria esperar que a equipe responda mensagens após o expediente de forma imediata (e muito menos que fosse obrigada a isso).
Não force os funcionários a ficar “ligados” o tempo todo. A fadiga por causa das videoconferências está muito acentuada e os funcionários podem precisar de um espaço silencioso para que toda a família consiga realizar suas tarefas e participar de suas próprias chamadas de trabalho e videoaulas. As mulheres, geralmente, ficam com a pior parte, e já foram descritas como “nômades relutantes” na “batalha pelo espaço” na casa.
Por exemplo, uma funcionária pode ter de se equilibrar na beira da banheira, segurando precariamente um computador sobre os joelhos, para que seu parceiro e os filhos possam conduzir suas tarefas ou trabalhos escolares na sala de estar, no quarto ou na cozinha — ou vice-versa. E as mulheres tendem a enfrentar injustas críticas e muita pressão por sua aparência no vídeo. Os gestores deveriam perguntar se as reuniões podem ser eliminadas, encurtadas ou realizadas sem vídeo.
Busque mais oportunidades para comemorar realizações. Embora seja sempre uma boa ideia chegar a um equilíbrio entre crítica e elogio, os funcionários enfrentam uma constante enxurrada de notícias ruins relacionadas à pandemia e provavelmente estão com fome de vitórias.
Seus superiores deveriam buscar pequenos sucessos que possam ser publicamente reconhecidos para elevar o moral da equipe e agradecer aos funcionários pelo esforço árduo quando veem um trabalho bem-feito. Não custa nada mostrar apreço, e um pequeno feedback positivo pode ser exatamente o que alguém precisa ouvir em um dia particularmente difícil.
Capitalize em recursos acessíveis. Gestores deveriam procurar maneiras de criar mais cenários onde todos ganhem, aproveitando os recursos que já possuem. No Barnard College, por exemplo, estamos pagando alunos da graduação para ser tutores dos filhos de professores e funcionários. Nossos estudantes ganham pelo trabalho de meio período em um momento em que os estágios e as vagas de emprego estão escassos, e nossos funcionários em tempo integral podem terceirizar uma das tarefas entre suas muitas responsabilidades.
Também estamos oferecendo benefícios de creche e assistência a idosos por meio de nosso contrato com um provedor externo desse tipo de serviço. Os gerentes que não sabem ao certo como ajudar os funcionários podem perguntar a eles em uma pesquisa anônima sobre os maiores desafios que enfrentam e alocar seus recursos de acordo.
Ajustar-se a mudanças repentinas exige um esforço de todos nas empresas. Os gestores precisam parar de tratar o trabalho de casa como se fosse um luxo. Eles devem isso aos funcionários. O escritório não foi convidado para a casa deles. É um convidado inesperado — e dá poucos sinais de que vai partir em breve.