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Uma Julieta feminista é tema do Calendário Pirelli 2020

A visão contemporânea da personagem de William Shakespeare é o tema do Calendário Pirelli de 2020

A atriz Yara Shahidi no Calendário Pirelli 2020 (Pirelli/Divulgação)

A atriz Yara Shahidi no Calendário Pirelli 2020 (Pirelli/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 05h28.

Última atualização em 19 de dezembro de 2019 às 10h18.

Na trama de William Shakespeare, Julieta, a mais romântica das personagens da literatura, começa sua trajetória como uma adolescente ingênua e termina como uma mulher independente, corajosa, que desafia convenções e morre por convicções. Esse foi o tema escolhido pelo fotógrafo italiano Paolo Roversi para o Calendário Pirelli de 2020. “Quis retratar a procura de um ideal, de um sonho”, diz Roversi na entrevista concedida no Teatro Filarmônico de Verona, durante o lançamento do anuário, no início de dezembro. “Julieta é uma mulher que une fragilidade à força, e timidez à rebeldia.”

O nome do calendário é Procurando Julieta. E Roversi, fotógrafo reconhecido pelas campanhas publicitárias de moda, procurou sua Julieta em cada uma das nove artistas convidadas, de diferentes perfis e nacionalidades, a participar. A fragilidade está mais presente no olhar e no gesto da atriz britânica Claire Foy. A cantora chinesa Chris Lee, a atriz britânica Mia Goth e a atriz italiana Stella Roversi, filha de Paolo, parecem mais contemplativas. A cantora espanhola Rosalía e a atriz americana Emma Thompson interpretam uma Julieta mais sensual. E a força está na atitude das atrizes americanas Kristen Stewart, Yara Shahidi e Indya Moore.

“Acho que sim, Julieta seria feminista hoje”, responde Yara à pergunta na entrevista coletiva do lançamento do calendário. “O feminismo é uma expressão individual, e essa é a beleza do feminismo. Cada mulher é uma. E cada uma de nós aqui interpretou a sua Julieta.” Com 19 anos, Yara é conhecida pela atuação na série Black-Ish e pelo ativismo em favor da diversidade e da educação das mulheres. Questionada sobre o significado do amor para sua geração, afirma: “Acho interessante ver como o poder do sentimento muda conforme crescemos, passa de platônico a outros níveis. Os conceitos estão se redefinindo, falamos hoje de identidade e fluidez no gênero, o amor está se transformando com isso. Vamos ver como lidaremos com a mudança”.

Claire Foy: depoimento sobre o amor não idealizado | Divulgação

A Pirelli conseguiu realizar um caso de mar-keting ao transformar uma folhinha de borracharia em obra de arte, de tiragem limitada — neste ano foram impressos 12.000 exemplares, distribuídos apenas aos convidados. Lançado em 1964, o anuário só deixou de ser publicado de 1975 a 1983, devido à crise do petróleo. Os melhores fotógrafos do mundo são convidados a encabeçar o projeto e têm liberdade para escolher o tema e as personagens. Apesar de a Pirelli ser uma empresa fundada em Milão, Roversi, nascido em Ravena, é o primeiro fotógrafo italiano a clicar o calendário.

Até pouco tempo atrás, a sensualidade dava o tom dos retratos. Nos últimos cinco anos, os temas passaram a variar. Neste ano ocorreram outras duas mudanças. A primeira foi o formato. Em vez de uma folhinha para pendurar na parede, o calendário se inspirou nos libretos de ópera — Roversi é um apaixonado por música lírica. A versão deste ano tem 132 páginas, com trechos de Romeu e Julieta e 58 fotografias em cor e em preto e branco das nove artistas. A segunda novidade é que, junto com a versão impressa, foi lançado um curta-metragem de 18 minutos. As convidadas dão depoimentos sobre a construção da personagem para o ensaio e aparecem posando, declamando e cantando durante as sessões de fotos.

A atriz trans Indya Moore: depoimento sobre diversidade de raça e gênero no filme do calendário | Divulgação


Especialmente comovente no filme é a fala da atriz Indya Moore: “Eu sou negra e sou trans. Eu sou negra de pele clara, e muita gente acha isso bonito. Eu acho bonita a pele escura. Da mesma forma, sou uma trans que não parece trans, e para algumas pessoas isso é ser bonito. Esse não é meu tipo de beleza”. A atriz Claire Foy, a rainha Elizabeth nas duas primeiras temporadas da série
The Crown, discorre com extrema sinceridade sobre suas decepções amorosas. “Quando eu era menina, tive um amor não correspondido, e isso se transformou em um hábito”, diz. A primeira experiência “foi um desastre e uma tragédia, e quebrou meu coração.” E finaliza: “Acho que tenho muitas cicatrizes para me entregar por completo”.

O lançamento do Calendário Pirelli é encerrado sempre com uma festa black tie. Neste ano, o evento aconteceu no Giardino Giusti, um belíssimo jardim renascentista de Verona cercado por ciprestes. Na pista de dança, em contraste com o supostamente triste depoimento no documentário, Claire Foy era uma das mais animadas. Ficou até o fim do evento, com um grupo de amigas. No trabalho de Roversi com as nove atrizes e cantoras, nem Romeu faltou. Kristen Stewart aparece no filme recitando falas tanto de Julieta quanto do jovem Montecchio. “Jamais faria um papel que não estivesse escondido em algum lugar dentro de mim”, diz Kristen. “Nunca poderia encenar alguém que não fosse eu, porque isso seria uma mentira."

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