Revista Exame

Uma fusão da Rede D'Or está na UTI

Em maio, a Rede D’Or comprou um grupo de hospitais em Brasília por mais de 1 bilhão de reais. Uma semana depois, o vendedor desistiu — e a fusão, que virou briga, pode parar na Justiça

Hospital da Rede D'Or: comprou, mas não levou (Divulgação)

Hospital da Rede D'Or: comprou, mas não levou (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2012 às 12h18.

São Paulo - No dia 29 de maio, a rede D’Or, maior operadora de hospitais do país, anunciou com pompa a compra do Medgrupo, dono do Santa Lúcia e de outros quatro hospitais no Distrito Federal. O investimento passava de 1 bilhão de reais — o maior negócio do ramo no ano.

Com um só cheque, o carioca Jorge Moll, fundador da Rede D’Or, ocuparia de forma definitiva mais um território em sua estratégia de consolidação, impulsionada a partir de 2010 com uma associação com o banco BTG Pactual. Desde que os dois se uniram, a Rede D’or iniciou uma onda de aquisições — a mais importante delas, que representou sua entrada em São Paulo, a do hospital São Luiz, um dos maiores da cidade.

Em abril, a D’Or já havia adquirido uma rival do Medgrupo em Brasília. Com a nova compra, sacramentava seu domínio na nova região. O médico José Leal, que com aquisições e um notável tino empresarial transformara o Medgrupo numa das maiores empresas regionais do setor, continuaria à frente do negócio. Mas, passada a euforia do anúncio, a compra bilionária deu origem a uma guerra — discreta, é verdade, mas ainda assim uma guerra. 

Em negociações desse porte, desentendimentos fazem parte do jogo. A lua de mel que costuma suceder os anúncios invariavelmente acaba, mais dia, menos dia. O que funciona no papel, afinal, nem sempre dá certo na vida real. Mas, nesse caso, a alegria durou pouco mais que uma visita de médico.

Já na semana seguinte ao anúncio da fusão Leal começou a dar sinais de que não estava satisfeito com o que assinara. Na pressa para fechar o negócio antes do dia 29 de maio, data da reformulação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão responsável por aprovar fusões, ambos os lados concordaram em deixar alguns acertos para depois.

E foram essas pontas soltas que viraram o motivo da discórdia. Desde então, Leal briga para ver cumpridos pontos em que acredita ter sido passado para trás e acena com a possibilidade de desfazer o negócio. A Rede D’Or defende que nada precisa ser alterado e avisou o outro lado que vai recorrer a um tribunal de arbitragem caso o impasse permaneça.

Na prática, a D’Or comprou, mas não levou. E Leal vendeu, mas não entregou. Passados seis meses, a fusão de 1 bilhão de reais segue suspensa. Oficialmente, nenhum dos lados comenta o caso. 


Nos bastidores, as versões de Medgrupo e D’Or são, como é natural, conflitantes. Com o negócio, Leal esperava não apenas continuar no comando das próprias operações como também assumir os outros dois hospitais adquiridos pela Rede D’Or em Brasília um mês antes.

Não demorou muito para ele perceber que o grupo carioca não tinha a menor disposição de não controlar sua recém-adquirida empresa. O tamanho do cheque é outra divergência. O Medgrupo acusa o outro lado de tentar alterar cláusulas do contrato que, dependendo do cumprimento de metas de desempenho, fariam a empresa valer pelo menos o dobro do cerca de 1 bilhão de reais que a Rede D’Or estava disposta a pagar.

Para a Rede D’Or, as motivações que estão levando Leal a espernear não passam de arrependimento — sem valor legal, portanto. Segundo executivos ligados ao grupo, ficou claro em todos os momentos da negociação que caberia à D’Or a palavra final na gestão e que não havia espaço para surpresas nesse quesito.

O simples fato de Moll, da D’Or, ter visitado executivos do setor em Brasília sem ter consultado Leal foi suficiente para que as relações fossem para o vinagre. Pessoas ligadas à Rede D’Or afirmam que Leal está barganhando para obter mais poder. Um de seus objetivos, segundo esses executivos, é permanecer com o controle do hospital Santa Lúcia, unidade que deu origem ao grupo e que também é sua maior operação.

Ainda de acordo com esses executivos, devolver o controle ao ex-dono é algo impossível. Nas últimas semanas, os dois lados se dispuseram a negociar um meio-termo que possibilite uma saída amigável para a crise. Seria algo como a renegociação entre Pão de Açúcar e Casas Bahia meses após o anúncio da fusão entre as duas empresas em 2009.

Os Klein, controladores da Casas Bahia, arrependeram-se do negócio, brigaram e conseguiram trocar o antigo contrato por um novo. D’Or e Medgrupo entraram no mês de novembro tentando tirar da UTI a fusão entre as duas empresas. Viva, de preferência.

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