Empregos em perigo: roteiristas de Hollywood protestam contra o uso de inteligência artificial no cinema (Frederic J. Brown/AFP/Getty Images)
Professor de Economia na Universidade Cornell
Publicado em 30 de junho de 2023 às 06h00.
Última atualização em 30 de junho de 2023 às 17h42.
Os Encontros de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional geralmente fornecem uma plataforma para várias organizações, formuladores de políticas e comentaristas refletirem sobre a situação da economia global, oferecerem avaliações dos avanços do ano anterior e preverem o que está por vir. As reuniões deste ano, que aconteceram em Washington, em abril, foram acompanhadas por sombrias previsões que enfatizaram a crescente probabilidade de uma prolongada recessão global.
Embora muitos analistas tenham anteriormente presumido que a confluência de crises que o mundo enfrentou nos últimos três anos — a pandemia de covid-19, interrupções na cadeia de suprimentos, a guerra na Ucrânia e a resultante crise inflacionária e turbulência financeira — teria um impacto significativo, mas, em última análise, efeito transitório na economia global, novos dados sugerem que a atual turbulência econômica durará mais do que o inicialmente esperado.
O Relatório de Perspectivas Econômicas Mundiais e de Estabilidade Financeira Global do FMI sugere um difícil caminho pela frente, atestando que “a névoa em torno das perspectivas econômicas mundiais aumentou”. A rápida sucessão de grandes aumentos das taxas de juro pelo Federal Reserve dos Estados Unidos e por outros grandes bancos centrais fez com que as dívidas dos setores público e privado atingissem seus níveis mais altos em décadas, aumentando o risco de instabilidade financeira. As economias avançadas do mundo, que cresceram 2,7% em 2022, devem crescer apenas 1,3% neste ano. Enquanto o FMI espera que as economias emergentes e em desenvolvimento da Ásia cresçam 5,3% em 2023 (em comparação com 4,4% no ano passado), a previsão de crescimento da Índia foi revisada para 5,9% (em comparação com uma taxa de crescimento de 6,8% em 2022).
Uma nova publicação do Banco Mundial é ainda mais pessimista, alertando que a economia global pode estar à beira de uma “década perdida”. Com base em um abrangente banco de dados de estimativas de crescimento potencial cobrindo 173 países, os autores projetam que o crescimento global anual cairá para uma baixa de três décadas de 2,2% e permanecerá fraco pelo restante da década. Embora os ricos possam ter os meios para enfrentar a tempestade, o mesmo não pode ser dito sobre os pobres e as classes médias baixas do mundo, que serão os mais atingidos pela crise que se aproxima.
Para compreender todas as ramificações do momento atual, precisamos olhar além das consequências imediatas da covid-19 e da guerra na Ucrânia e confrontar as questões estruturais que vêm se agravando há décadas, incluindo a mudança climática e as perturbações sociais e políticas causadas pela rápida evolução tecnológica. Sair da “policrise” de hoje e restaurar o crescimento global, embora possível, será extremamente desafiador por dois motivos principais.
Em primeiro lugar, como destaca o relatório do Banco Mundial, muitos países estão passando por uma alarmante tendência de declínio do investimento. Embora as políticas fiscais e monetárias certamente desempenhem um papel, acredito que a causa principal do fraco investimento seja a crescente politização da política econômica, que alimentou uma generalizada perda de confiabilidade nos governos e minou a confiança em sua capacidade de resolver problemas importantes.
A Índia é um exemplo. Desde 2012, o investimento do setor privado como parcela do PIB indiano tem constantemente declinado. O Banco Mundial e outros especialistas atribuem essa tendência à polarização política e a uma crescente falta de confiança. Embora o investimento público tenha aumentado dramaticamente na última década, esta pode ser uma tendência perigosa: quando o governo tem controle desproporcional sobre o investimento, muitas vezes isso leva a um aumento do clientelismo. A Rússia, onde uma oligarquia emergiu rapidamente ao bajular líderes políticos em troca de contratos lucrativos e adoráveis acordos de privatização, oferece um exemplo gritante.
O segundo desafio é que a introdução de qualquer política corretiva exigiria um esforço conjunto de vários países. A interconexão das cadeias de suprimentos globais significa que qualquer interrupção tem generalizados e poderosos efeitos indiretos, e o crescente uso da sabotagem econômica como tática de guerra ressalta a urgência da cooperação multilateral em um tratado que promova a proteção de ativos econômicos.
Chegar a um mundo próspero e pacífico também requer intensificar os esforços para atingir as metas climáticas e conter o aumento da desigualdade econômica dentro dos países e entre eles. Devido aos avanços na tecnologia digital e à globalização das cadeias de suprimentos, esses desafios estão além do alcance de países individuais que agem sozinhos. Para abordar essas questões globais, os governos precisam coordenar suas políticas monetárias, fiscais e de segurança. Por certo, isso não será fácil. Mas a alternativa — um futuro de crescimento lento, instabilidade política e catástrofe ambiental — é simplesmente terrível demais para contemplar.