Revista Exame

“Uma bolha na China? Esqueça”, afirma David Michael

O presidente da consultoria americana BCG na China diz que os desafios da economia chinesa são monumentais, mas que é cedo para pessimismo

David Michael, do BCG: “Os investimentos vão continuar na China — e isso é bom para o Brasil”

David Michael, do BCG: “Os investimentos vão continuar na China — e isso é bom para o Brasil”

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2011 às 15h48.

São Paulo - O americano David Michael chegou à China pela primeira vez em 1989, num programa de intercâmbio universitário. Embora a economia chinesa ainda não tivesse chegado às manchetes, ele resolveu arriscar e, três anos mais tarde, aportava no país de mala e cuia. Michael, hoje um dos maiores especialis­tas em China, falou a EXAME em recente viagem a São Paulo.

1) EXAME - Muitos economistas têm alertado quanto ao risco de uma desaceleração repentina na economia chinesa. O senhor está preocupado? 

David Michael - Esse risco é real. Para que o país possa continuar a crescer num ritmo elevado, será preciso aumentar significativamente a produtividade, o que vai requerer novos tipos de investimento em educação, tecnologia da informação, automação, inovação e no fortalecimento de marcas. O país também precisa superar o desafio da inflação.  

2) EXAME - O senhor está pessimista, então?

David Michael - Não, não. Os desafios são enormes, mas não acredito que o país entrará em colapso. Há problemas, claro. Por outro lado, é um exagero dizer que há uma bolha prestes a explodir. Há mais de dez anos as pessoas dizem que existe uma bolha na China, mas ela nunca se materializou.  

3) EXAME - Mas o senhor concorda que há sinais de fumaça na economia, como os investimentos imobiliários que resultaram em cidades fantasmas? 

David Michael - Os investimentos mal realizados são exceções. A maior parte tinha lógica, e há necessidade de mais. Muitas cidades precisam de melhores sistemas de transporte e hospitais. Ao aplicar em infraestrutura, a China vai continuar importando commodities, o que é uma boa notícia para o Brasil.

4) EXAME - Quais são as multinacionais que têm apresentado melhor desempenho na China?

David Michael - Esta é uma pergunta difícil porque há muitos exemplos. No setor de consumo, a americana Yum! Brands — que possui as redes de fast food KFC e Pizza Hut — opera cerca de 4 000 restaurantes em 700 cidades.

A Adidas e a Nike também têm tido sucesso na China, especialmente entre os jovens. A Volkswagen é outro bom exemplo, porque soube se posicionar tanto no topo quanto na base do mercado.

5) EXAME - Quais as lições que as empresas estrangeiras devem aprender antes de se instalar na China? 

David Michael - É essencial ser agressivo. Muitas empresas do Ocidente não estão habituadas ao crescimento acelerado. Acreditam que seja suficiente simplesmente investir mais em suas unidades na China do que em seu país de origem. Não raro, acabam perdendo espaço na China. Fora isso, é necessário — e difícil — saber atrair e reter os melhores talentos.

6) EXAME - Por quê? O sistema de ensino chinês não é um exemplo para os países emergentes? 

David Michael - A China tem um sistema de educação básica muito forte, que poderia, sim, ser um exemplo para o Brasil. Todos os alunos leem, escrevem e chegam ao ensino médio. É mais adiante que a educação falha. Não é eficiente na produção de empreendedores, pessoas criativas e intelectuais. O sistema ainda é muito baseado em memorização e testes. 

7) EXAME - O governo já percebeu esse problema? 

David Michael - Percebeu, sim. Há muita pressão dos pais dos alunos por uma reforma na educação. O governo já está abrindo espaço para a iniciativa privada, e a concorrência está aumentando. Vamos ter inovações no futuro.

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