Revista Exame

Impostos são uma ajuda à concorrência

O Brasil virou um país caro. O real forte trouxe o medo da desnacionalização — e o governo, com sua ânsia de cobrar mais impostos, joga a favor da competição estrangeira

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.

Até onde, nas condições cada vez mais ásperas que vigoram neste momento na economia mundial, com os países correndo para a utilização de armamento cambial pesado e se fechando nas trincheiras do protecionismo, o Brasil tem musculatura para competir a sério no comércio internacional? A questão é decisiva e urgente. Com reservas de quase 300 bilhões de dólares e anos seguidos de expansão nas vendas externas, o país se acostumou nesta última década, provavelmente pela primeira vez na sua história econômica, a viver sem problemas de balanço de pagamento. Mas os fatos recentes começam a contar uma outra história.

O fortalecimento contínuo do real diante do dólar, e sua teimosa resistência a todas as tentativas feitas até agora para torná-lo mais barato — ou pelo menos para evitar que continue aumentando de preço —, levou a moeda nacional a níveis perigosamente caros. Sem a adoção de nenhuma providência, durante este tempo todo, para reduzir custos de produção e compensar a apreciação cambial, o que o Brasil tem para vender lá fora foi ficando com preços cada vez mais altos. O resultado inevitável disso já apareceu, claramente, nos números da balança comercial. Os saldos pujantes do passado foram emagrecendo e hoje têm diante de si a perspectiva de se transformar em déficit.

Os problemas não aparecem apenas lá fora, onde as empresas brasileiras encontram dificuldades crescentes para exportar seus produtos, perdem clientes e se veem ejetadas de mercados até recentemente promissores. O câmbio desfavorável também causa perdas e danos aqui dentro, sobretudo na indústria — que vê competidores estrangeiros, cada vez mais, disputar com sucesso o mercado interno de consumo. Não são poucas as empresas brasileiras que já começam a sofrer ferimentos sérios nas vendas ou se veem forçadas a reduzir a margem de lucro para manter-se à tona. Em certos setores, como mostra a reportagem desta edição, a palavra “desindustrialização”, feia de escrever e mais feia ainda de sentir, entrou na conversa do dia a dia. Não se trata mais da China apenas — bons tempos, aliás, em que o problema se resumia basicamente à China.

O que se tem pela frente, agora, é a concorrência de países ricos, fortes em qualidade de produtos, em tecnologia, em produtividade, em logística — a começar pelos Estados Unidos, onde vai se tornando cada vez mais difícil encontrar alguma coisa mais cara do que no Brasil. (Como observou o ex-ministro Delfim Netto, num artigo recente para a Folha de S.Paulo, com o dólar a 1,60 já vai ser negócio importar etanol dos Estados Unidos.) É artigo de fé, no pensamento economicamente correto, que a economia americana não existe mais; seu sistema de produção tornou-se uma ruína, destruído pelas contradições do capitalismo etc. Eis aqui uma boa oportunidade de verificarmos se é isso mesmo.

O bom desempenho de um país no comércio exterior e na defesa de seu mercado interno não depende só do câmbio, é claro — há outros fatores com peso importante na composição do preço de um produto e, de qualquer forma, não basta ter preço bom para competir com sucesso. Mas, mesmo que dependesse, não existem, infelizmente, ideias geniais à disposição dos ministros da Economia para que possam encontrar a taxa de câmbio ideal. O governo atual não conseguiu achá-la; o próximo também não conseguirá, como não conseguiram os governos anteriores.

A saída possível está em ganhar competitividade para os produtos brasileiros agindo sobre os outros elementos, além do câmbio, que encarecem o seu custo — e, no Brasil de hoje, há um mundo de oportunidades a explorar para que se consiga reduzir os preços finais de praticamente tudo que é colocado à venda. Os sinais que temos aí, porém, não animam ninguém. Nada excita tanto os governos brasileiros quanto aumentar impostos, dentro da teoria geral de que, para tornar-se um país rico no futuro, o Brasil tem de ter o máximo de impostos agora. É o que há de melhor para ajudar a competição estrangeira.

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