Revista Exame

Um novo produto em 72 horas

A Ypê, que fabrica produtos de higiene e limpeza, não fazia álcool em gel. Com a pandemia, criou uma fórmula para abastecer hospitais do interior de SP

Para encontrar uma formulação que não dependesse de uma matéria-prima em falta no mercado, os pesquisadores da empresa pediram amostras de produtos semelhantes para as multinacionais Basf e Clariant, com as quais já tinha contato. O segundo passo foi fazer testes com as substâncias, no laboratório da Ypê, até chegar à fórmula ideal (Germano Lüders/Exame)

Para encontrar uma formulação que não dependesse de uma matéria-prima em falta no mercado, os pesquisadores da empresa pediram amostras de produtos semelhantes para as multinacionais Basf e Clariant, com as quais já tinha contato. O segundo passo foi fazer testes com as substâncias, no laboratório da Ypê, até chegar à fórmula ideal (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de abril de 2020 às 05h00.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 14h52.

Ao longo de seus 70 anos, a Ypê criou uma ampla linha de produtos de higiene e limpeza. Do sabão em barra, primeiro item fabricado pela empresa de Amparo, no interior de São Paulo, às diferentes versões de detergentes líquidos, o desenvolvimento de um novo produto costumava levar meses. Aí surgiu uma pandemia e um dos principais itens para se proteger do coronavírus, o álcool em gel, sumiu das prateleiras. A Ypê, líder de vendas de detergentes para lavar louças no país, não fabricava esse tipo de desinfetante, mas estava decidida a participar do esforço no combate à doença. O modo emergência foi ligado. “Reuni todas as áreas importantes para o desenvolvimento e a entrega do produto, desde os profissionais de pesquisa até os gestores de planejamento e distribuição”, diz Waldir Beira Júnior, presidente da empresa e segunda geração da família fundadora da Ypê. Passadas 72 horas da primeira reunião, o lote inicial de álcool em gel era distribuído para hospitais da região.

Como a viscosidade do produto final era diferente dos itens fabricados pela Ypê, como detergentes e produtos de limpeza, as válvulas das máquinas precisaram ser ajustadas. Também era necessário encontrar os frascos para embalar o álcool em gel. A área de produção procurou empresas do setor, que rapidamente providenciaram o fornecimento dos frascos | Germano Lüders

Como foi essa operação? Para começar a fabricar álcool em gel, a Ypê precisava criar uma fórmula, adaptar uma linha de produção, conseguir fornecedores de embalagens e encontrar uma transportadora para a logística da operação. Também era preciso a aprovação da Agência de Vigilância Sanitária para o novo produto. O maior desafio, porém, era inventar uma fórmula de álcool em gel que não dependesse de um espessante em falta no mercado. A substância é necessária para transformar o álcool comum, altamente incendiável, em um menos inflamável. “Poucas indústrias produzem esse espessante e a demanda aumentou subitamente”, diz Júnior.

Por fim, o álcool em gel precisava chegar logo aos hospitais, seu destino final. Entrou em ação o departamento de logística, que conseguiu uma transportadora em tempo recorde. Em menos de 72 horas, o álcool em gel chegava a hospitais da região de Amparo, onde fica a empresa |Germano Lüders

O jeito foi passar a mão no telefone e conversar com as empresas da área química. A alemã Basf e a suíça Clariant prontificaram-se a ajudar e enviaram amostras de produtos semelhantes ao espessante. Em 24 horas, os pesquisadores da Ypê chegaram à fórmula ideal. A Basf e a Clariant doaram a matéria-prima, numa força-tarefa para que fosse possível fabricar rapidamente, e com menos custos, o produto. Até meados deste mês, a companhia deve produzir 1,5 milhão de frascos de álcool em gel, que serão doadas a unidades de saúde do estado de São Paulo. Além do produto em tempo recorde, a Ypê está implementando novas estratégias para aumentar a produtividade das linhas de produção da empresa — já que uma delas está dedicada à fabricação do álcool em gel. A crise do coronavírus vai passar, mas as lições aprendidas na pandemia devem ficar.

 

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