Estande do salão Watches & Wonders, em Genebra: lançamentos ofuscados pela discussão sobre o aumento de tarifas de importação dos Estados Unidos (Fabrice Coffrini/Getty Images)
Co-CEO e Colunista
Publicado em 26 de junho de 2025 às 06h00.
“Complexo.” Se eu tivesse de escolher uma palavra para resumir o mercado da alta relojoaria em 2025, seria essa. Os lançamentos do salão Watches & Wonders deste ano foram ofuscados pela tensão em torno das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, hoje o segundo maior mercado consumidor do mundo. Some a isso uma desaceleração no consumo asiático, uma inflação generalizada nos preços e um ambiente geopolítico instável — e temos um cenário desafiador para qualquer marca de luxo. Em resumo: demanda mais fraca, preços mais altos e um mundo em transição. O tempo dirá como a indústria vai reagir.
Mas, mesmo em meio à incerteza global, algumas tendências conseguiram se destacar — inclusive no Brasil. As tendências que marcaram a cena internacional por volta de 2015 estão, enfim, desembarcando por aqui.
Uma das grandes tendências deste ano foi o uso de pedras naturais nos mostradores. Não é algo novo — nos anos 1970, esse estilo foi febre. Mas agora essa onda volta com nova sofisticação. Falo de materiais como ônix, lápis-lazúli, malaquita e turquesa — belíssimos e difíceis de trabalhar. O grande destaque da categoria, na minha opinião, foi a coleção Endeavour Pop, da H. Moser & Cie., com cores e pedras raras em relógios que são verdadeiras obras de arte.
Outra tendência forte, também com raízes nos anos 1970, são os relógios com caixas geométricas. O exemplo mais emblemático é o Cartier Crash, um ícone surrealista que representa a ousadia de fugir do óbvio — no caso, os formatos quadrado e redondo. Mas, se o Crash ultrapassa os 100.000 dólares, novas marcas estão democratizando esse tipo de design. O relojoeiro independente Berneron criou uma caixa assimétrica combinada com um movimento que replica o desenho da própria caixa. Outro ótimo exemplo, mais acessível, é a microbrand Tonelado & Chan, que lançou um modelo inspirado numa janela do prédio do The Met Breuer, em Nova York. Quem diria que a arquitetura brutalista encontraria espaço nos pulsos de colecionadores?
Essas duas tendências anteriores são, na verdade, reflexo de mudanças no padrão de consumo — várias delas já destaquei em matérias anteriores. Relógios menores, unissex, valorização de marcas como Cartier e o crescimento dos relojoeiros independentes. Mas tudo isso tem uma raiz: a ascensão da Piaget. Nos anos 1970, a marca vivia de criar mostradores de pedra e designs geométricos. Hoje, foca bastante o público feminino, mas eu realmente acredito que exista espaço para conquistar os homens também — especialmente porque os preços dos modelos vintage ainda são bem atraentes. Como diz a paródia popular brasileira: “Nada se cria, tudo se copia”. Esta geração de hoje, mesmo sem saber, é profundamente influenciada pela Piaget — e o mercado deveria começar a reconhecer isso.
O aumento de preços dos relógios novos e vintage não é por acaso. A exclusividade de marcas como Rolex e Patek Philippe faz com que muitos modelos sejam vendidos por múltiplos do valor de tabela, e a indústria vem reajustando os preços ano após ano. Já os vintage seguiram essa tendência muito mais pela evolução natural do hobby e pelo aumento no número de colecionadores. Ainda assim, eu acredito que existem modelos que são verdadeiras barganhas no mercado — especialmente os chamados neo-vintage, produzidos entre 1990 e 2010. Eles não são tão antigos nem tão novos, são mais avançados tecnologicamente, mas ainda carregam aquele ar vintage que tanto atrai quem ama relógios.
Talvez o ponto mais animador de 2025 seja perceber que o hobby da alta relojoaria está ganhando corpo no Brasil. Vejo cada vez mais grupos de WhatsApp, perfis no Instagram, criadores de conteúdo e até lojas especializadas voltadas para o entusiasta — do novato ao obcecado. Quando amigos meus que nunca se interessaram por relógios começam a me pedir dicas de modelos, sei que o tema já saiu do nicho. Se o Brasil seguir a mesma curva que vi acontecer no exterior, esse hobby ainda vai crescer exponencialmente por aqui. Se você está começando ou quer se aprofundar, recomendo acompanhar alguns dos melhores perfis de conteúdo sobre relojoaria no Brasil: @gregduboc, @bernardo.entusiasta, @ivuwstore, @gravina.vintage, @redbarbrazil, @cortesdahorologia, @relogios_sem_fronteiras, @staterawatchco, @gmtmenos3.