Revista Exame

Um mundo sem segredos, com ou sem WikiLeaks

"A segurança da informação depende menos dos sistemas e mais das pessoas.” Com pequenas variações, os especialistas em sistemas de segurança digital repetem essa afirmação há anos. É uma obviedade, é claro, mas isso não torna a frase menos verdadeira — pergunte a qualquer diplomata americano. O nome mais notório do affair WikiLeaks é o […]

Julian Assange, do WikiLeaks: se até mesmo os segredos da maior potência mundial estão vulneráveis, dá para acreditar em informação segura na internet? (Dan Kitwood/Getty Images)

Julian Assange, do WikiLeaks: se até mesmo os segredos da maior potência mundial estão vulneráveis, dá para acreditar em informação segura na internet? (Dan Kitwood/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2011 às 14h27.

"A segurança da informação depende menos dos sistemas e mais das pessoas.” Com pequenas variações, os especialistas em sistemas de segurança digital repetem essa afirmação há anos. É uma obviedade, é claro, mas isso não torna a frase menos verdadeira — pergunte a qualquer diplomata americano.

O nome mais notório do affair WikiLeaks é o do criador do site, o australiano Julian Assange. Além da audácia de publicar documentos secretos, Assange soube usar alguns dos maiores jornais do mundo para amplificar o impacto dos documentos que tinha em mãos.

Mas o WikiLeaks provavelmente seguiria sendo mais uma curiosidade da internet caso não houvesse um sujeito chamado Bradley Manning.

Manning, um soldado do Exército americano preso há sete meses à espera de julgamento, foi o responsável pelo primeiro vazamento que chamou a atenção do mundo para o WikiLeaks: o vídeo que mostra um helicóptero americano atacando civis no Iraque, entre eles dois jornalistas da agência Reuters.

Também foi Manning, um jovem de 22 anos que desempenhava a função de analista de informações, quem usou o acesso privilegiado a redes de computadores fechadas para baixar as dezenas de milhares de comunicações oficiais e confidenciais dos diplomatas americanos.

Nos chats online que manteve com um investigador que se fazia passar por amigo, ele descreveu como ouvia e dublava músicas de Lady Gaga enquanto fazia o download dos documentos. Manning, que é homossexual, também reclamou da vida militar. Ao que tudo indica, ele não agiu motivado por política ou por um professado compromisso com a transparência.

Suas razões eram bem menos grandiosas. “Eu não me importaria muito em passar o resto da vida na cadeia ou em ser executado”, ele escreveu no chat, “porque há a chance de que minhas fotos sejam estampadas na imprensa do mundo inteiro.” Por vaidade, Manning abalou a diplomacia mundial. Se até mesmo segredos da maior potência mundial estão vulneráveis, dá para acreditar em informação segura na era da internet?


Provavelmente não. Mas o ponto central do WikiLeaks não é a segurança, e sim a ideia de que não devam mais existir segredos. A notoriedade alcançada pelo caso certamente vai incentivar outros rebeldes, estejam eles dentro de governos, empresas ou qualquer outro tipo de instituição, a trazer a público informações que deveriam ser privadas. “Os cidadãos de uma democracia devem poder saber o que o Estado diz e faz em nosso nome. Por outro lado, os sistemas humanos não aguentam a transparência total.

As negociações dependem de mudanças de posição. O consenso depende de que as pessoas possam exprimir de forma privada opiniões que elas rejeitariam em público”, escreveu o influente tecnólogo Clay Shirky, professor da Universidade de Nova York e autor de Here Comes Everybody: The Power of Organizing without Organizations (“Aí vem todo mundo: o poder da organização sem organizações”, numa tradução livre).

O episódio atual, na opinião de Shirky, vai forçar um reequilíbrio entre segredo e transparência. E isso, é claro, também será verdade para as empresas, especialmente as grandes corporações globais, vistas com desconfiança pelos hackers e libertários que se solidarizam com Assange.

Do ponto de vista técnico, a questão da segurança da informação não tem mais volta. O WikiLeaks pode desaparecer amanhã, mas existem inúmeras outras maneiras de disseminar informações. Dez anos atrás, o irlandês Ian Clarke desenhou uma rede chamada Freenet. Seus integrantes podem transmitir arquivos uns para os outros, com garantia de anonimato.

Ao contrário do WikiLeaks, não existe um ponto central de distribuição — ou seja, é virtualmente impossível derrubar essa rede. Mas o mais curioso será o prometido OpenLeaks. Criado pelo alemão Daniel DomscheitBerg, um exbraço direito de Assange, o site deve começar a operar em 2011. DomscheitBerg se desencantou com seu antigo mentor: disse que o WikiLeaks, ironia das ironias, estava perdendo a transparência.

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