Revista Exame

Carlos Suarez está perto de um lucro de 1 300% em 7 anos

Um dos fundadores da empreiteira OAS, Carlos Suarez fez negócios multimilionários nos últimos anos. O próximo, a possível venda de sua participação numa empresa da Petrobras, pode ser o melhor deles

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Da Redação

Publicado em 5 de setembro de 2013 às 07h13.

São Paulo - O empresário baiano Carlos Seabra Suarez, de 61 anos, é um homem rico e discreto. Ele não aparece em eventos, não dá entrevistas, não figura na lista dos homens mais ricos do país, embora certamente seja um deles. Poucos sabem ao certo o tamanho exato de seu grupo empresarial. Segundo um levantamento feito por EXAME, pelo menos 35 empresas pertencem a ele.

Em Salvador, onde vive parte do ano (a outra parte passa na região espanhola da Galícia), é dono de terrenos e empreendimentos imobiliários. No resto do país, a discrição garante seu virtual anonimato. Entre os empresários do setor de energia, é conhecido como “o homem do gás”, por ser sócio de distribuidoras de combustível em estados como Amazonas e Distrito Federal. Em seis delas, é sócio da Petrobras, a maior empresa do país.

Engenheiro de formação, Suarez começou a carreira na construtora Odebrecht. Mais tarde, em 1976, foi um dos fundadores da empreiteira OAS — a inicial de seu sobrenome permanece na marca da construtora, da qual se desligou na década de 90. Ao deixar a empresa, levou terrenos e imóveis como parte do pagamento por suas ações.

A partir daí, começou a construir um pequeno império. Especializou-se em elaborar projetos de infraestrutura, quase sempre em parceria com governos e estatais. Além de oito distribuidoras de gás, é dono de uma usina térmica, uma empresa de energia eólica e companhias de manutenção de usinas, além de ter participações minoritárias que valem muito dinheiro.

Neste momento, está prestes a fechar um de seus maiores negócios: a venda de sua participação de 49% na Brasil PCH, empresa que reúne 13 usinas hidrelétricas de pequeno porte e que fundou em sociedade com a Petrobras.

Há dois meses, a petroleira acertou a venda de seus 49% por 650 milhões de reais para a Cemig, estatal mineira de energia. A Cemig já informou que quer também comprar o restante do negócio, pagando o mesmo valor acertado com a Petrobras

Se aceitar a oferta da Cemig, o empresário conseguirá um lucro de 1  300% em sete anos de investimento. As atas de assembleias da Brasil PCH mostram que a Petrobras investiu 75 milhões de reais para entrar na sociedade, enquanto Suarez colocou 46 milhões, sendo apenas 10 milhões em dinheiro.

O restante foi contabilizado com base em projetos de pequenas centrais hidrelétricas que permaneciam no papel, aguardando capital para ser erguidas. Firmada a parceria, a Petrobras viabilizou financiamentos de 800 milhões de reais no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (­BNDES) e de 280 milhões com o Petros (fundo de pensão dos funcionários da petroleira) para a construção das usinas.


A estatal costurou também o acordo com a Eletrobras, que garantia a compra da energia da Brasil PCH por 20 anos. O negócio prosperou e, no ano passado, faturou 311 milhões de reais, com lucro de 48 milhões. A venda da participação da Petrobras faz parte da estratégia desenhada pela presidente da estatal, Graça Foster, que pretende se desfazer de subsidiárias para aliviar as finanças e cumprir os investimentos programados para os próximos anos. 

Gás amazônico

A notável valorização das ações de Sua­rez na Brasil PCH é sua terceira grande tacada nos últimos 11 anos. Em 2002, o empresário comprou 83% da Companhia de Gás do Amazonas, a Cigás. Como não havia distribuição de gás em Manaus, a empresa não valia quase nada — os 83% foram vendidos por 3 milhões de reais. Mas logo esse valor seria multiplicado.

Dois anos depois da aquisição, a Petrobras anunciou a construção de um gasoduto para escoar o gás extraído de um campo no Amazonas. A obra custou 4,5 bilhões de reais e foi inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009. Com a chegada do gás a Manaus, a Cigás valorizou, e muito.

No fim de 2012, o atual governador do Amazonas, Omar Aziz, do PSD, cogitou vender os 17% que restaram ao estado e chegou a falar em 200 milhões de reais. Hoje, um consórcio liderado pelo banco de investimento BTG ­Pactual trabalha na avaliação da Cigás a pedido do governo estadual — especialistas no setor afirmaram a EXAME que esse valor pode chegar a 700 milhões de reais.

Em 2009, Suarez fechou outro grande negócio — a venda de 55% da Controlar, empresa que ganhou, em 1996, a concessão para inspecionar os carros da cidade de São Paulo. As empresas Brisa e CCR pagaram 174 milhões de reais a Suarez.

Tanto a venda da Controlar quanto a compra da Cigás envolveram Suarez em polêmicas. Há dois anos, a Justiça bloqueou os bens de Suarez e do então prefeito, Gilberto Kassab. Um ano antes da venda da Controlar, a prefeitura prorrogou por dez anos a concessão.

O Ministério Público alegou que a renovação era lesiva aos cofres públicos, já que a Controlar, segundo os promotores, não tinha a estrutura necessária para prestar o serviço e, portanto, o contrato com a prefeitura deveria ter sido cancelado. Em 2011, dois promotores pediram a devolução de 1 bilhão de reais aos cofres municipais.

O processo ainda não foi julgado. No caso da Cigás, deputados querem investigar se o estado do Amazonas foi lesado na venda da empresa. Para eles, a Cigás tinha um potencial de valorização muito alto, mas foi vendida por um preço irrisório. “É evidente que Suarez já sabia que a Petrobras faria o gasoduto.

Ele comprou a empresa a preço de banana e esperou a Petrobras fazer o resto”, afirma o deputado estadual Marcelo Ramos, do PSB. Procurado por EXAME, Suarez não respondeu ao pedido de entrevista. A decisão sobre a venda da Brasil PCH deve ser conhecida até o fim do ano.

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