Revista Exame

Natura agora tem um desafio global três vezes maior

Em sua primeira entrevista, o executivo à frente do grupo Natura diz como pretende comandar uma operação cuja presença global mais que triplicou

Marques: “A base 
de franqueados da 
The Body Shop 
pode ajudar a levar 
a marca Natura 
para fora” (Divulgação/Exame)

Marques: “A base de franqueados da The Body Shop pode ajudar a levar a marca Natura para fora” (Divulgação/Exame)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 14 de dezembro de 2017 às 05h55.

paulistano Roberto Marques costumava tomar um avião de Nova York, onde mora, uma vez a cada dois meses para frequentar, em São Paulo, os encontros do conselho de administração da fabricante de cosméticos Natura, do qual faz parte há dois anos. Nos últimos meses, ele passou a colecionar muito mais milhagens. O executivo, que fez carreira internacional nas fabricantes de bens de consumo americanas Johnson&Johnson e Mondeléz, envolveu-se diretamente na avaliação da compra da britânica The Body Shop, por 1 bilhão de euros. Desde setembro, Marques é o principal executivo do novo grupo Natura, constituído também pela australiana Aesop, adquirida em 2012. De uma hora para a outra, o escopo da empresa, antes restrito a 20 países, passou a atuar em 70. Com pouco mais de 200 lojas, somando Aesop e Natura, agora são mais de 3 000 espalhadas mundo afora. Como não existe a estrutura jurídica de uma holding, o cargo oficial de Marques é presidente executivo do conselho de administração, que continua sob o comando compartilhado dos três fundadores da empresa, Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos. De São Paulo, Marques falou a EXAME, em sua primeira entrevista no cargo.

Em vez de constituir uma holding, a Natura criou uma estrutura de grupo que chamou de “lean”. O que é e como funcionará?

Não queremos uma estrutura corporativa pesada, e sim privilegiar as unidades de negócios como empresas independentes. Queremos manter o poder decisório com os presidentes de cada uma delas, ao mesmo tempo que eles devem buscar sinergias. Por isso, eles participam do que chamamos de comitê operacional do grupo, comandado por mim. Participam também outros quatro executivos de áreas como recursos humanos e logística, as quais terão duplo chapéu ao manter suas funções anteriores nas empresas. Três executivos vêm da Natura, e um, da Aesop. Como sou um conselheiro, esse formato permite a conexão entre o comitê e o conselho, que terá um papel mais ativo neste momento.

O único integrante com dedicação exclusiva é o chief transformation officer. Qual é o papel dele?

É um cargo ocupado por Robert Chatwin, há cinco anos vice-presidente de internacionalização da Natura. Na nova posição, ele será responsável por organizar e dar ritmo à busca de sinergias.

Essa será uma estrutura temporária?

Não. As empresas continuam se transformando, independentemente deste momento. O comitê terá um papel estratégico e de longo prazo.

O senhor mora em Nova York. A Natura tem sede em São Paulo; a Aesop, na Austrália; e a The Body Shop, em Londres. Como será a rotina do grupo?

Teremos seis encontros presenciais em 2018, um a cada dois meses. O local vai variar. No restante do tempo, vamos nos comunicar virtualmente. Mas, no geral, as viagens se tornarão mais frequentes. Pela primeira vez na história, a reunião do conselho da Natura não acontecerá em São Paulo, e sim em Londres, na sede da The Body Shop. Em janeiro, vamos realizar a primeira reunião com a participação de executivos das três empresas. Serão 100 profissionais juntos, em São Paulo, para trocar informações. Será um marco histórico para o grupo.

O senhor foi contratado como conselheiro há dois anos. Já havia a previsão de que assumiria um cargo executivo na Natura?

Não. Quando fui contratado para o conselho, era presidente da Mondeléz para a América do Norte. Já estava havia 15 anos fora do Brasil e queria ter uma ligação com o país. A Natura, por sua vez, já vinha articulando maneiras de crescer internacionalmente. Em abril, com a compra da The Body Shop, deixei minha posição na Mondeléz. Foi tudo muito intenso e rápido. Em junho, começamos a pensar como iríamos nos organizar.

Qual será a prioridade do comitê?

Vamos investir muito tempo na integração da equipe. Essas pessoas nunca trabalharam juntas. Alguns acabaram de chegar ao cargo, como o recém-contratado presidente da The Body Shop, que chegou oficialmente em 11 de dezembro. A primeira reunião de todo o grupo aconteceu nesse mesmo dia.

Já foram mapeadas as oportunidades?

Teremos um centro de excelência de varejo, no qual vamos usar muitos recursos e informações da Aesop. Outro será sobre digitalização e comércio eletrônico, -áreas em que o Brasil já avançou e nas quais a The Body Shop está tentando avançar.

Qual será o maior desafio para melhorar os resultados da The Body Shop, cujas vendas vinham encolhendo?

Precisamos revigorar a marca, muito reconhecida, mas com espaço para resgatar sua essência ativista. É necessário aumentar sua voz e trabalhar a narrativa da marca. Além de melhorar a eficiência operacional, pois algumas lojas não estão apresentando resultados satisfatórios e é preciso fazer ajustes.

Só recentemente a Natura investiu no varejo. Como resolver esses problemas com pouca experiência nessa área?

O novo presidente da The Body Shop, David Boynton, que já teve passagens pela L’Occitane, vai trazer um conhecimento enorme nessa área. Temos também a experiência de Michael O’Keeffe, presidente da Aesop, à frente de uma rede de quase 200 lojas que não param de crescer. Ao mesmo tempo, contratamos Peter Saunders para o conselho de administração. Ele foi presidente da The Body Shop no passado e tem muito conhecimento sobre varejo e sobre a empresa. Hoje ele está no conselho de redes como [de chocolates] a Godiva.

A Natura anunciou projeções para dobrar o lucro operacional da The Body Shop nos próximos cinco anos. De onde virá boa parte desse ganho?

Há oportunidades de ganhos na área de compras, onde existe muita coincidência entre as empresas. E melhorias na efi-ciên-cia operacional da The Body Shop.

E há novas oportunidades de crescimento para a empresa?

Sim. Com a The Body Shop, adquirimos uma base presente em 70 países. Uma rede de franqueados que podem nos ajudar a levar a marca Natura para fora. A expansão da The Body Shop com a venda direta é outra possibilidade. A empresa já usa o modelo na Austrália e na Inglaterra e vai bem. Ainda não temos todas as respostas. Estamos aprendendo. 

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