Thiago Coelho com o relógio que herdou do avô: relação afetiva (Leandro Fonseca /Exame)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 22h00.
Tempos atrás, Thiago Coelho colocou na cabeça que queria um Monaco, o famoso cronógrafo de formato quadrado. Mas não qualquer Monaco. Ele queria um exemplar fabricado em 1969, ano em que a então Heuer, hoje TAG Heuer, lançou o modelo. A obsessão de Coelho teve início quando ele viu o relógio no pulso do ator Steve McQueen no filme As 24 Horas de Le Mans. “Sempre gostei de automobilismo, era fã do Ayrton Senna, que usava TAG Heuer”, conta o executivo, hoje diretor-geral da cervejaria Estrella Galicia no Brasil.
Pesquisando na internet, Coelho encontrou um Monaco antigo em uma loja na Suíça. Mas era de 1970. “O dono então me disse que tinha um cliente em Paris que tinha não um, mas dois Monaco de 1969”, diz. “Eles fizeram a ponte, passaram meu número de telefone, e começamos a conversar.” Sem nenhuma garantia, Coelho embarcou para Paris para negociar pessoalmente a desejada compra. “Quando ele viu que eu era um colecionador apaixonado e entendeu a importância do relógio para mim, topou vender um dos dois relógios.”
O Monaco é um relógio que não vai sair da sua coleção, atualmente em torno de 20 peças, garante o executivo. É o único para o qual ele comprou uma pulseira nova original. Outros relógios ele topa passar adiante. “Não vendo por vender, só para trocar por outro. Participo de muitos grupos de vendas, e de vez em quando vejo algum que mexe comigo. Aí já começo a fazer conta, fico pensando ‘e se eu trocar esse por aquele...’”
Coelho tem lembrança de o avô, que era militar, comentar que um general de sua divisão tinha um Rolex de ouro com pulseira President. O executivo herdou dele um relógio de bolso antigo. Quando era adolescente, pegou escondido um Bulova do pai para sair. Por azar, foi roubado. “Tive de contar para ele. Mais tarde, quando comecei a trabalhar, comprei um modelo parecido de presente para ele”, lembra.
Quando criança, Coelho tinha um relógio de quartzo que trocava de pulseira colorida. Seu primeiro relógio de verdade, conta, foi um Carrera da TAG Heuer, pela paixão por Senna.
“Esse é outro que não troco, porque foi o primeiro que eu consegui comprar. Eu já trabalhava na Coca-Cola na época, já era gerente sênior.” É essa a sua marca favorita? “Talvez sim, não sei dizer. Admiro muitas manufaturas pela sua história. A Rolex faz relógios muito resistentes e tem uma estratégia de marketing admirável. O storytelling da Omega é fantástico, com o primeiro relógio a ir para a Lua.”
Coelho admite não entender muito de movimentos. Para ele, o respeito por uma marca está em sua história. A Blancpain, manufatura mais antiga em atividade, fundada em 1735, está nesse grupo. A Breitling, referência em cronógrafos, também. Para ele, preço não é necessariamente um diferencial. Audemars Piguet, Patek Philippe e F.P. Journe, para ficar em alguns exemplos, não fazem parte de sua lista de desejos. Já a Longines tem sua admiração pela importância na história da relojoaria e pela atual boa relação custo-benefício.
Como é comum entre colecionadores, o gosto de Coelho foi mudando com o tempo. “Eu gostava de relógios grandes, que estavam mais na moda há alguns anos, de 43, 44 milímetros de diâmetro. Gostava muito de Panerai, por exemplo”, diz. Hoje, o tamanho ideal para ele fica entre 40 e 41 milímetros. Sua coleção não dá lugar apenas a marcas renomadas. Uma de suas peças prediletas é de uma marca independente sueca com um globo terrestre no lugar do mostrador.
Relógios acompanham o executivo nas viagens a trabalho. O modelo que costuma usar quando está fora do país é um GMT, que marca dois fusos horários. Geralmente isso acontece quando ele vai para A Coruña, sede da Estrella Galicia. Coelho foi convidado a assumir a direção da empresa no Brasil em 2021, depois de 15 anos na Coca-Cola, em que passou por diversos cargos no Brasil, Chile, Argentina e Peru. Seu último posto foi de diretor global de B2B.
O executivo ainda teve uma breve passagem pelo grupo Iguatemi antes de assumir a direção da Estrella Galicia. “Sempre gostei de cerveja, me formei como mestre cervejeiro”, conta. Mudar de área exigiu dele encarar desafios. “A Coca-Cola se vende sozinha. E a Estrella Galicia não está entre os maiores players em nosso mercado.” A marca espanhola vem se posicionando no segmento premium, com destaques como a 1906 Black Coupage, eleita a melhor lager do mundo pelo World Beer Awards 2024. Coelho não esconde, em suas falas, que cerveja para ele é uma paixão. Quase tanto quanto a relojoaria.