Inflamável: o dilema entre liberar o preço da gasolina e mantê-lo sob controle para evitar a inflação não foi resolvido (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2014 às 12h52.
São Paulo - O ano de 2013, para a costumeira surpresa que quase todo mundo sente quando a folhinha chega a esta zona de fronteira entre novembro e dezembro, está acabando — e, como sempre, a sensação é que o tempo passou voando. Voou mais depressa ainda, ao que parece, para a economia brasileira.
A impressão é que tudo está tão parecido com o que estava em janeiro, mas tão parecido que não dá para ver bem o que aconteceu de lá para cá, ou mesmo se aconteceu realmente alguma coisa. Os problemas críticos a resolver são os mesmos. A falta de ideias coerentes para lidar com eles é a mesma.
O tempo desperdiçado com discussões inúteis é o mesmo. A simulação de atividade por parte do governo e sua convicção de que a melhor maneira de resolver dificuldades é criar algum truque de marketing (“minha panela, minha vida” ou coisas assim) são as mesmas.
São precisamente as mesmas, enfim, a ausência de perspectivas racionais para calcular com razoável segurança variantes-chave, como crescimento, juros, consumo, câmbio, investimento, política monetária, gasto público, e, acima de qualquer outra coisa, a real disposição do governo para cumprir seus compromissos e manter-se fiel à sua palavra.
Para 2014 ser diferente de 2013, teriam de acontecer fatos realmente relevantes, transformadores e estratégicos na política econômica — e não há nada disso à vista. A tendência é o governo continuar administrando sua quitanda nas miudezas do dia a dia. Não consegue pensar em nada de mais ambicioso para o dia de amanhã porque não tem, simplesmente não tem, nenhuma ideia coerente a respeito do que fazer, ou como fazer, no dia de hoje. Dois exemplos:
1) Em janeiro deste ano já estava mais do que claro que havia um problema master com os preços dos combustíveis. Com a política de segurar esses preços, o governo procurava atender às necessidades de resistir à inflação; ao mesmo tempo, provocava graves problemas financeiros para a Petrobras, maior empresa do Brasil, cuja administração é controlada diretamente pelo Palácio do Planalto.
A Petrobras é uma empresa pública, que tem contas a prestar ao público — acionistas ou não — e precisa ser gerida de maneira a apresentar um balanço no azul; quanto mais azul, melhor. Mas é ao mesmo tempo uma repartição do governo, sujeita a decisões políticas e obrigada a tomar medidas que vão contra sua natureza empresarial.
Entende-se, é claro, a complexidade do problema que a Presidência da República, onde essas coisas são realmente decididas, está tendo de enfrentar — não pode arruinar a saúde financeira da Petrobras ou comprometer seu futuro como empresa mas também não pode soltar os preços para remunerar de forma adequada a companhia, pois não quer e não pode atiçar a inflação.
A questão é difícil, sem dúvida — mas o problema, para ilustrar o ambiente de inação descrito há pouco, é que chegamos a dezembro na mesma situação que existia em janeiro, ou seja, sem que o governo saiba o que vai fazer. Andamos um ano para ficar no mesmo lugar.
2) Foi concluído com sucesso, enfim, um leilão importante para a privatização de atividades que o poder público comprovadamente, há décadas, não consegue administrar — o dos aeroportos do Galeão e de Confins. Poderia ter sido feito dez anos atrás, e as obras, a esta altura, já estariam dez anos adiantadas.
Sim, chamar a iniciativa privada para investir na área pública era um pecado mortal para o PT; hoje, ao que parece, continua sendo um pecado, mas a presidente Dilma Rousseff resolveu oferecer uma indulgência plenária a ele. Se era para ser assim um dia, como estava na cara que teria de ser, por que não se fez logo no começo, então?
Ao que parece, o governo continua descontente, envergonhado e hesitante diante das privatizações que tanto poderiam melhorar seu desempenho. Tudo o que a presidente conseguiu dizer de notável, no dia do leilão, é que foi uma derrota para os que torciam contra ele. Quem torcia? O PT, que continua a condenar as privatizações?