Plataforma no Espírito Santo: o Brasil entrou no radar de todas as empresas do setor (Steferson Faria / Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2011 às 16h47.
Rio de Janeiro - Há quatro anos, a interlocução da subsidiária brasileira da expro com a matriz, na Inglaterra, dava-se em um nível hierárquico quatro degraus abaixo da presidência. "Era praticamente impossível defender um investimento no Brasil", afirma Sérgio Zubelli, principal executivo brasileiro da empresa.
A Expro fabrica equipamentos que ajudam a avaliar e a controlar o volume, a pressão e a qualidade do petróleo durante sua extração. Em uma reunião nos Estados Unidos em 2008, Zubelli conseguiu agendar uma conversa com o presidente mundial da companhia. Após uma breve apresentação sobre o potencial de reservas de petróleo do Brasil e as estimativas de produção do pré-sal e de investimentos do setor, foi "promovido" — passou a falar diretamente com o presidente.
Também passou a participar da reunião anual de investimentos com o conselho da Expro. Na última delas, aprovou um investimento de 70 milhões de dólares para comprar o terreno onde ficará a nova base operacional da empresa, em Macaé, no Rio de Janeiro, que terá quatro vezes o tamanho da atual.
Desde 2007 — quando a Petrobras anunciou ter encontrado petróleo 7.000 metros abaixo da superfície do mar —, o termo "pré-sal" deixou de ser assunto de um punhado de técnicos. Pelos estudos feitos até agora, estima-se que os campos do pré-sal vão elevar as reservas de óleo do país dos atuais 14 bilhões para 50 bilhões de barris.
A Petrobras pretende mais que dobrar sua produção diária até 2020. Trata-se de um salto de produção sem paralelo no mundo nesse período. A estimativa da Organização Nacional da Indústria do Petróleo é que as empresas de óleo e gás consumam 400 bilhões de dólares em bens e serviços nos próximos dez anos.
Por enquanto, toda essa riqueza jaz no fundo do mar. As questões em torno do pré-sal ainda são muitas, mas as grandes empresas do setor decidiram não esperar até que todas elas sejam respondidas. O momento é de ocupação de território, com a instalação de operações locais — o governo estabeleceu que, para aproveitar as oportunidades do pré-sal, as petroleiras terão de comprar cada vez mais equipamentos produzidos no Brasil.
"Quem ainda não está no país deve vir o mais rápido possível", diz Agustín Castaño, especialista em óleo e gás da consultoria Booz&Co. É exatamente o que está acontecendo. Empresas como GE, Rolls-Royce, Caterpillar e Expro — todas grandes fornecedoras mundiais do setor, mas que até agora possuíam operações pequenas no Brasil — começaram a se movimentar.
Tome como exemplo a americana GE. Em março, a empresa comprou a inglesa Wellstream, com fábricas na Inglaterra e no Brasil, por 1,3 bilhão de dólares. Só na ampliação da fábrica brasileira — que produz risers, tubos que levam petróleo do poço para a plataforma — está investindo 90 milhões de dólares. Outros 30 milhões de dólares serão aplicados na expansão de sua fábrica em Jandira, na Grande São Paulo, que produz equipamentos para poços de petróleo.
Por fim, no final de 2010, anunciou a construção de um centro de pesquisas no Rio de Janeiro, ao custo de 150 milhões de dólares, que terá uma divisão específica para petróleo. A Caterpillar, que há 60 anos produz no Brasil máquinas para a indústria de construção e mineração, também está ampliando sua fábrica em Piracicaba, no interior paulista, para iniciar a montagem de motores e geradores de energia utilizados em barcos de apoio à atividade petroleira.
Essa nova onda de investimentos deve impulsionar a competitividade de toda a cadeia. O caso da Rolls-Royce é emblemático. A empresa está investindo 60 milhões de dólares na construção de uma fábrica em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro. Lá, vai montar sistemas vitais para a produção de petróleo, como turbogeradores que geram toda a eletricidade das plataformas.
Quando a fábrica entrar em operação, no fim de 2012, a Rolls-Royce precisará de peças fornecidas por empresas brasileiras — que, por sua vez, terão agora de investir nas próprias fábricas. Hoje, uma equipe de 14 profissionais, comandada pelo executivo Gerson Vianna, dedica-se exclusivamente a visitar fornecedores em vários estados do país. "O processo de produção deles precisa seguir à risca nosso projeto", diz Vianna.
Nesse momento, a Rolls-Royce participa de uma licitação de turbogeradores que vão equipar oito navios-plataformas a ser instalados no campo de Lula, no pré-sal.
A cadeia do pré-sal vai se estender por empresas que, a princípio, nada têm a ver com o setor de óleo e gás. A fabricante de helicópteros Helibras, do grupo francês Eurocopter, está investindo 420 milhões de reais na construção de um hangar em Minas Gerais. Parte dele será dedicada à montagem de um modelo que transportará funcionários de plataformas.
A IBM anunciou a criação de uma área exclusiva para atender empresas de petróleo. "Os reservatórios do pré-sal são muito diferentes dos atuais. É preciso estar perto das empresas para entender as demandas", diz Fabiano Rangel, executivo da IBM. Sua equipe hoje trabalha na adaptação de um sistema desenvolvido na Nova Zelândia para a área de mineração.
Isso ilustra a opinião de David Zylberstajn, ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo, sobre a atual onda de investimentos: "O ponto mais positivo é que as empresas vão trazer conhecimento e criar empregos de qualidade no país."