Revista Exame

Tire os valores da parede e os cultive dia a dia

1. Algumas empresas têm sua missão e seus valores escritos na parede, mas as pessoas não vivem ou transpiram aquele discurso. O que faz com que outras empresas tenham uma cultura de verdade? (Anônimo) Você tem toda a razão. Muitas empresas definem seus valores somente porque outras também o fazem. Após defini-los, nem sabem o […]

Executivo desenha homem subindo escada: tenha estratégia para crescer (./iStockphoto)

Executivo desenha homem subindo escada: tenha estratégia para crescer (./iStockphoto)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2015 às 17h12.

1. Algumas empresas têm sua missão e seus valores escritos na parede, mas as pessoas não vivem ou transpiram aquele discurso. O que faz com que outras empresas tenham uma cultura de verdade? (Anônimo)

Você tem toda a razão. Muitas empresas definem seus valores somente porque outras também o fazem. Após defini-los, nem sabem o que fazer com aquilo. Umas penduram na parede. Outras exigem que antes de cada reunião eles sejam repassados. Tudo errado.

Valores não devem ser apenas discurso. Valores são características comportamentais desejadas. E é necessário torná-los precisos e palpáveis. Tudo isso deve ser explicado e discutido com todos os funcionários, um por um, até que consigam aplicá-los à realidade do dia a dia.

Para chegar aos valores é necessário entender quais são as necessidades daquele negócio e como as pessoas devem se comportar para supri-las. Tome o exemplo do relacionamento interpessoal. Se você imaginar uma escala de zero a 100 de consideração pelo próximo, encontrará um psicopata matador em série no grau mínimo e um santo no grau máximo.

Todos nos localizamos dentro dessa escala. Uma empresa quer ter pessoas bem longe do zero, mas não necessariamente que estejam no 100. É preciso calibrar essas nuances e estabelecer uma faixa desejada.

Feito isso, é preciso incluir essa régua na avaliação de desempenho dos funcionários. Uma pessoa que comanda uma equipe tem de ser avaliada não apenas quanto às metas quantitativas que consegue bater mas também com relação ao grau de alinhamento com os valores da organização.

Por exemplo, em nossa empresa, um dos valores mais importantes é “aprender e ensinar”. Ora, se você quer saber se uma pessoa está alinhada com aquele valor da organização, você deve, na hora da avaliação de desempenho, perguntar aos outros se ela, quando não sabe algo, confessa humildemente e pede ajuda, e também se está sempre disponível para ensinar.

À medida que o tempo passa, essa disciplina acaba por reforçar o comportamento desejado e se torna parte indissociável da cultura da empresa. Acredito que os valores de uma organização sejam fatores importantíssimos para a escolha de seus futuros líderes. Quando a direção da empresa define seus valores, tem de ser para valer.

2. A empresa em que trabalho está cogitando acabar com o programa de trainees. Uma das razões é que os jovens parecem cada vez menos comprometidos. O que o senhor acha disso? (Anônimo)

Acho que sua empresa deve estar com um ambiente de trabalho péssimo e não deve ter nenhum sonho futuro. Os jovens provavelmente é que estão certos.

As pessoas querem, essencialmente, duas­ coisas na vida profissional: ter felicidade enquanto realizam o trabalho e sentir que estão construindo algo importante para o mundo em alguma medida. Se sua empresa é incapaz de oferecer essa percepção aos funcionários, então, mais uma vez, os jovens têm razão.

Em certa ocasião, há muitos anos, eu ocupava a cadeira de conselheiro de uma empresa, e o presidente do conselho de administração anunciou: “Vamos acabar com nosso programa de trainees porque é muito caro e, além disso, depois todo mundo vai embora”. Não acreditei no que ouvia. Aquele executivo nunca se perguntou por que os jovens estavam indo embora.

Aquela garotada estava deixando a companhia porque percebia que a liderança estava sem rumo. Não via perspectiva alguma de futuro. O jovem de hoje tem uma percepção muito grande de um ambiente “frio”. Ele não espera. Muda seu rumo — e faz muito bem de ser assim.

Depois daquele episódio que presenciei na reunião de conselho, pedi demissão em seguida por esse e outros motivos. Senti que aquela empresa não valia mais o tempo de meus últimos anos de vida.

O trabalho tem de ser fonte de felicidade e crescimento profissional. Acredito, inclusive, que a função primordial de uma empresa não seja, definitivamente, dar lucro. A função de uma empresa é social. O lucro é a expressão de sua capacidade de realizar sua função social de forma produtiva. Quem não perceber isso não ficará com os melhores jovens — de qualquer idade.

Acompanhe tudo sobre:DesempenhoEdição 1081gestao-de-negociosLiderança

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda