Hiesinger, da Thyssenkrupp: “Queremos estar no time dos vencedores, mas não a qualquer custo” (Germano Luders/Exame)
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2016 às 05h56.
São Paulo — Quando assumiu a presidência mundial da empresa alemã Thyssenkrupp em 2011, Heinrich Hiesinger encontrou uma companhia marcada por escândalos de corrupção, investimentos equivocados e perdas no negócio. “Os funcionários estavam com medo porque não enxergavam um futuro”, afirma Hiesinger.
De lá para cá, ele conduziu uma mudança de cultura corporativa, reestruturou o portfólio da empresa e se desfez de 12 bilhões de euros em ativos. Desde então o mercado de aço mudou radicalmente no mundo, o que levou a ThyssenKrupp a colocar à venda seu maior investimento no Brasil, a Companhia Siderúrgica do Atlântico — que está à espera de interessados.
Exame - O senhor substituiu um executivo acusado de envolvimento em corrupção. Como isso influenciou a condução dos negócios da ThyssenKrupp?
Hiesinger - Queríamos construir uma empresa orientada pelo desempenho, mas com valores. Não acreditamos numa cultura apenas de resultado. É claro que queremos fazer parte do time dos vencedores, mas não a qualquer custo.
Exame - A cobrança por resultados numa companhia com tantos problemas também é maior...
Hiesinger - Quem chega de fora sempre tem algum crédito. Mas, cedo ou tarde, precisará entregar resultados. No meu caso, era decisivo que os funcionários vissem também uma melhora financeira. Depois de um prejuízo de 1,5 bilhão de euros em 2013, tivemos um lucro de 195 milhões de euros em 2014.
Exame - A redução da participação no mercado de aço motivou essa nova política na ThyssenKrupp?
Hiesinger - Sim. Em 2011, decidimos que precisávamos construir uma empresa mais diversificada, o que significava reduzir a participação no mercado de aço e crescer em bens de capital e serviços. Por isso, vendemos 12 bilhões de euros de ativos, o que fez com que as vendas de bens de capital e serviços passassem de 50% para 70% da receita nos últimos sete anos.
Exame - No Brasil, a ThyssenKrupp quer vender a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). Já há compradores interessados?
Hiesinger - Começamos o processo de venda em 2013, mas o contrato criado junto com a Vale, nossa sócia na época, era muito complicado. Ainda não temos compradores, mas agora que adquirimos a parte da Vale devem surgir opções.
Exame - A CSA foi um mau investimento, então?
Hiesinger - A questão é que o mercado mudou drasticamente. Houve uma queda da demanda no Brasil, pois a produção de carros e de caminhões caiu fortemente.
Exame - O mercado de aço no Brasil foi uma decepção?
Hiesinger - Não foi só no Brasil, mas no mundo todo. A China aumentou a produção e inundou mercados como Brasil e Europa. Existe um excesso de oferta de 400 milhões de toneladas de aço, o que colocou uma pressão adicional em toda a indústria.
Exame - A situação da economia e da política no Brasil mudou os planos da ThyssenKrupp para o país?
Hiesinger - Os altos e baixos no cenário político e econômico são decisivos para os negócios. Até a conclusão da mudança no processo político, as empresas devem esperar para agir.
Não devemos mudar os planos de investimento. Reservamos 2 bilhões de reais até 2020 para os setores de energia eólica, componentes automotivos e elevadores no Brasil. A velocidade de implantação depende da retomada da economia.