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“Tentem sobreviver no ano que vem, argentinos”,

Esse é o recado de Dante Sica, ex-secretário de Indústria da Argentina, às empresas do país, que estão pressionadas pela inflação alta e pela falta de crédito

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Da Redação

Publicado em 17 de dezembro de 2012 às 05h00.

São Paulo - Dificuldade para financiamentos, aumento de  custos e falta de insumos são alguns dos problemas já enfrentados pelo empresariado argentino. Para Dante Sica, ex-secretário de Indústria da Argentina e diretor da consultoria Abeceb, o que já está difícil vai piorar ainda mais em 2013.

Sica não espera mudanças na política econômica da presidente Cristina Kirchner, apesar do número crescente de protestos nas ruas de Buenos Aires. “Se não mudou até agora, não vai mudar mais”, diz ele.

1) EXAME - Qual sua previsão para a economia argentina no ano que vem?

Dante Sica - A Argentina terá um resultado um pouco melhor do que o deste ano. A economia deverá ser impulsionada por dois fatores. É provável que tenhamos uma safra recorde de soja e milho. Além disso, esperamos um desempenho melhor da economia brasileira, o que sempre tem impacto, especialmente na produção de automóveis. Ainda assim, não acredito que será uma grande recuperação. Estimo um crescimento do PIB entre 3% e 3,5%.  

2) EXAME - O FMI prevê o crescimento deste ano em 4,2%. Como é que 3,5% em 2013 será recuperação? 

Dante Sica - Os dados do FMI que preveem crescimento de 4,2% em 2012 são baseados em estimativas feitas pelo governo. Da mesma forma que ocorre com os índices de inflação oficiais, essa previsão de crescimento está longe da realidade. Assim como outros países emergentes, a Argentina desacelerou nos últimos dois trimestres. Devemos encerrar 2012 com alta de 3%. Isso na melhor das hipóteses. 

3) EXAME - Ainda assim parece um cenário favorável, não? 

Dante Sica - Definitivamente, não. Seguiremos com problemas de inflação alta, em torno de 24%, e perda de competitividade de nossas indústrias e de nossas exportações. 

4) EXAME - Os recentes panelaços vão influenciar a política econômica da presidente Cristina Kirchner?

Dante Sica - Não. Os protestos foram significativos, pois mostraram uma mudança de opinião, principalmente da classe média, em relação à presidente Cristina Kirchner. Mas acho improvável que o governo mude a direção da política econômica. Se não mudou até agora, não vai mudar mais. 

5) EXAME - Mesmo com toda essa insatisfação dos eleitores? 

Dante Sica - Sim. É possível que o Partido Justicialista, da presidente Kirchner, tenha uma votação menor nas eleições parlamentares de 2013. Mas esse efeito negativo nas urnas não deverá ser tão significativo. Isso porque o governo deverá continuar com a política de incentivos ao consumo e de tarifas de energia elétrica e combustíveis reduzidas. Para grande parte da população, não haverá muitas mudanças. Já para as empresas a previsão é bem pior.

6) EXAME - Por quê?

Dante Sica - O governo vai continuar controlando as importações, a saída de dólares e os índices de inflação. Hoje, praticamente não há mais entrada de capital externo no país. Fora isso, as empresas argentinas estão com muita dificuldade de obter crédito. Isso tudo porque existe muita insegurança jurídica e política. 

7) EXAME - Qual conselho o senhor daria ao empresariado? 

Dante Sica - Que tente sobreviver. Sem investimentos, sem insumos importados e com aumento de custos causado pela inflação, o cenário para 2013 é, no mínimo, desafiador.

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