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Tempo ruim pela frente com trapaças nas contas públicas

A trapaça com os números das contas públicas mostra intenções ruins por parte do governo e a firme intenção de perseverar no erro. A mensagem parece clara: é assim que as coisas serão daqui por diante


	Mestre e discípula?: o governo Dilma dá sinais de que está seguindo a escola Cristina Kirchner de contabilidade
 (Roberto Stuckert Filho/PR)

Mestre e discípula?: o governo Dilma dá sinais de que está seguindo a escola Cristina Kirchner de contabilidade (Roberto Stuckert Filho/PR)

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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2013 às 18h34.

São Paulo - Na luta livre entre as duas diferentes personalidades da presidente Dilma Rousseff, a Dilma do Mal começou o ano de 2013 dando uma surra na Dilma do Bem. Onde vamos parar? Nesse ritmo, com um ano inteiro ainda pela frente, a Dilma do Bem não vai chegar de pé até dezembro. Sempre há a esperança de uma recuperação, é claro, mas é melhor não contar com isso.

Em apenas duas semanas de ação em 2013, Dilma já promoveu uma maciça falsificação nas contas públicas, que não enganou ninguém e muito menos mudou a realidade. Declarou guerra à natureza, aos fatos e à lógica para negar a possibilidade de problemas sérios com o abastecimento de energia durante este ano.

Meteu-se (ou deixou que a metessem) em questões internas da Venezuela, sem necessidade alguma, dando o apoio do governo brasileiro a uma grosseira violação da Constituição venezuelana para favorecer o companheiro Hugo Chávez. Já teria decidido, segundo o noticiário, criar mais um ministério no governo, para entregá-lo a seu novo estadista predileto, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab. A Dilma do Mal, como se vê, está pegando pesado.

A trapaça com os números oficiais, por exemplo, mostra intenções muito ruins por parte do governo e a firme intenção de perseverar no erro. A mensagem parece clara: é assim que as coisas serão feitas daqui por diante. Basicamente, no caso, as autoridades misturaram o baralho para fabricar superávits inexistentes — fizeram sumir despesas, inventaram receitas, massagearam as contas de bancos, empresas e fundos estatais para criar dividendos fantasiosos, mexeram nos critérios básicos utilizados para contabilizar a movimentação financeira da União.

Ninguém deu uma explicação coerente para isso tudo, a começar, naturalmente, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. O resultado não poderia ter sido outro: o governo deixou evidente que foi incapaz de cumprir os compromissos fiscais que assumira para 2012, porque, em português claro, gastou mais do que poderia ter gasto (as despesas, em 2012, cresceram o dobro da arrecadação), e fez um sarapatel aritmético para ocultar seu fracasso.

Não precisaria ser assim. Bastaria que Dilma, desde logo, dissesse: “Falhamos. Vamos fazer o possível para consertar nossa falha”. Ganharia uma montanha de credibilidade, provaria que as estatísticas oficiais do Brasil são confiáveis e não perderia nada junto à opinião pública, que nem sequer toma conhecimento dessa numeralha toda. Mas a Dilma do Mal não consegue se controlar; parece ter uma compulsão para mostrar que está sempre certa.


Resultado: quem entende dessas contas, e que forma justamente o público a ser iludido, percebeu tudo na hora. Sua conclusão é que o governo fracassou e depois mentiu; matou e ocultou o cadáver. Para quê? Todas essas piruetas servem, apenas, para sugerir que Dilma decidiu entrar para a escola Cristina Kirchner de contabilidade.

À insegurança numérica, para ficar só nos problemas maiores, vem se juntar a insegurança energética. Em sua última conversa do ano com os jornalistas de Brasília, Dilma disse coisas para lá de esquisitas, e seu estado de espírito não mudou nada nestes primeiros dias de 2013. A presidente, na tal conversa, estava num daqueles seus dias.

Disse que a possibilidade de um apagão é nula, e que todos devem dar uma "gargalhada" na próxima vez que alguém disser que cortes de energia podem ser provocados por raios — como vinha dizendo até há pouco seu próprio ministro de Minas e Energia. Achou necessário explicar que raio é resultado de "um negócio chamado chuva".

E os apagões constantes? Podem ficar sossegados. É tudo "falha humana", assegurou Dilma, antes de anunciar, com ar triunfante, que deve haver no Brasil "uns 3.000 cortes de energia" por ano — ou seja, o que está acontecendo no momento é coisa que acontece o tempo todo. A presidente, é certo, afirmou que não se pode conviver com essa situação. Infelizmente não explicou por que, após dez anos de governo do seu partido, a situação é essa.

Tempo ruim pela frente, ao que parece. 

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